sexta-feira, 15 de julho de 2016

UMA INVENCÍVEL SELEÇÃO PORTUGUESA

SANTOS DA CASA FAZEM MILAGRES 1 - Estou nas antípodas de Fernando Santos, que é um homem de fé. Em matéria de seleção nacional, a minha fé, na fase de qualificação, mostrava-se um pouco permeável à dúvida. Em França, ainda na fase de grupos, já me via absolutamente agnóstica, e durante as ordálias infindáveis, a que fomos submetidos com a Croácia e a Polónia, o meu estado de crença não melhorou. O País de Gales, desfalcado de Ramsey, que era o Deco deles, parecia mais fácil de ultrapassar, sem dramas, nem prolongamentos, como veio a acontecer. No dia seguinte, soubemos que não era a Alemanha, mas a França, que nos caberia na final. Vi-me, então, 100% ateia. Não é que a "alternativa Alemanha" fosse aliciante, com Gomez ou sem Gomez, mas, ao menos, se perdessemos, seria por força do adversário e não por força das arbitragens (mesmo numa UEFA sem Platini,"a França é a França", como diz Juncker - para as comissões de arbitragem, como para a Comissão Europeia. As sanções são sempre para os outros... ------------------------------------ 2 - Vi todas as partidas em regime de solidão, que é o melhor para ver o jogo ( embora não para o gozar plenamente). Todas, exceto uma, que não deu gozo nenhum (a da Polónia). Estava, em Lisboa, na Av Elias Garcia, a dirigir, em frente a um grande ecrã de televisão, a assembleia-geral da Associação "Mulher Migrante", que começou às 20,30, pontualmente, e se prolongou até ao início dos penaltis... Entre o dar a palavras aos presentes, ouvir e emitir opiniões, tinha, como na canção da Laurinha, "um olho na janela e um olho na panela", mas, comigo, a divisão de olhares entre o ecrã e os papeis, foi um fracasso. Na reunião, o meu mau feitio e a impaciência eram mais difíceis de combater. No futebol, a intermitência das imagens aumentava a angústia... Terminados os trabalhos, no preciso momento da decisão por penaltis, que eu nunca vejo, exceto em diferido (quando a coisa correu bem..), despedi-me, à pressa, e saí para a Avenida da República. Já não via imagens, mas ouvia... Um grito coletivo de alegria levou-me a retroceder uns passos e a entrar num ginásio, donde vinha o maior alarido. Ainda não era a vitória, só uma defesa de Patrício... Voltei à estrada. Andei uns metros e parei ao som de um brado humano, seguido da voz metálica do "claxon" dos muitos carros, que circulavam na Avenida da República: uma ode ao triunfo, sem sombra de dúvida! Corri, de regresso ao mesmo ginásio, onde continuava, em festa, um pequeno grupo de rapazes de grande estatura e simpatia. Perguntei quem tinha marcado o último penalti: Ricardo Quaresma! Fiquei no céu dos ateus... Decidi, então, ir de metro até ao Colégio Militar, e, daí, a pé até ao meu apartamento. Queria ver gente e vi um impressionante número de imigrantes de África, ou portugueses de origem africana, com as camisolas e os cachecóis de Portugal. Assim equipados eram mais do que os tímidos brancos e faziam a festa, ruidosamente. Um espetáculo grato ao coração!-------------------------------------------------------------------------- 3- Na noite de 10 de junho, saí à rua antes do jogo, e só encontrava gente eufórica com a certeza do nosso triunfo (1-0, dizia-me um senhor que bebia uma vagarosa cerveja na esplanada da Avenida 8 e eu, cética, respondia: "Deus o oiça". Depois, também por ali andei, mas vi os 90 minutos dentro das quatro paredes de minha casa... primeiro na companhia de uma amiga, a Rosa Maria (que apostava forte no nosso sucesso, embora rumasse ao Porto antes de acabada a 1ª parte, para fugir do previsível tráfico na Boavista, onde vive) e a minha mãe, que, com os seus 96 anos, detesta futebol, e, não obstante isso, fervorosamente rezava o "responso" a Santo António, que reserva para casos importantes. Na 2ª parte fiquei só, com o meu gato preto, Willy-Willy ao colo e os outros por perto. Willy costuma dar sorte... Após o tempo regulamentar, a esperança, em vez de diminuir, começou a aparecer, como uma luz no fundo do túnel. Com a resta de esperança, a ansiedade era tal, que não aguentei a pressão. Saí para ruas desertas, para a beira-mar, mantendo-me sempre longe das zonas animadas por ecrãs... Estava na rua 9, quando ouvi um clamor. desci até ao Chocolate com Pimenta, onde estava toda a gente ainda aos saltos. De quem fora o golo? De Éder, disseram-me em coro. Voltei a calcorrear ruas, ao acaso, mas silêncio já não havia em lado algum. Estava só à espera que o tom subisse a dar a boa nova, para me juntar à multidão em delírio na Alameda... -------------------------------------------------------------- 4 - O mundo do futebol é um mundo paralelo ao outro, e, do mesmo modo, cheio de um misto de coisas boas e coisas más, mas às vezes, as melhores vêem ao de cima e, então, vivemos nele muito mais e melhor! Durante um mês, tudo acontecia nos estádios de França, a nossa capital era Marcoussis, o estado do país era discutido entre os positivamente e os negativamente críticos de Fº Santos. Pouco nos interessava o estado da Europa ou do país, tal como se discutia em Bruxelas ou Lisboa: Brexit? Sim, sim, pois, um Brexit surpreendente, a saída da Inglaterra dececionou... mas o Reino Unido ainda tinha Gales (Ramsey, Gareth Bale) e Irlanda (Will Griggs, que animava os cânticos, se não os relvados - fantástico!)). Sanções? Quais sanções? As três grandes penalidadaes que ficaram por marcar a nosso favor? O cartão alaranjado - ou vermelho - que não foi mostrado a Payet? Como no disco dos Pink Floyd: "Crisis? What crisis?". -------- 5 - Fernando Santos é um "bom caráter" - e isto não se pode dizer de alguns dos seus colegas de profissão sobejamente conhecidos. Uma boa pessoa, um homem sensato e comedido, com aquele ar tristonho, que não condiz com um discurso de otimismo desmesurado (delirante, achava eu até à noite de 10 de julho estranhando a sua certeza de estar na final e de a ganhar...). De qualquer modo, não é, graças a Deus, nenhum Scolari, não é, sobretudo, humanamente falando do género de Queiroz ou Paulo Bento - personagens centrais de tempos sinistros - e só isso é excelente motivo para ser uma fã relativa de Fernando Santos (O nosso Engª do penta, mas não do "hexa", a despertar "mixed feelings" à maioria dos portistas). Por isso, se alguém merecia esta vitória era ele, como Pessoa e como selecionador! É, de resto, justo reconhecer que nunca foi tão óbvia a autoria individual de um triunfo coletivo. Foi ele o artífice deste feito, Esta coleção de jogadores, uns, poucos, de classe planetária e todos os outros de uma certificada mediania, com qualquer outro responsável (de Rehagel a Mourinho, este por não estar habituado a matéria de tal qualidade) não teriam posto os pés no "Stade de France". O Engº é um impaciente paciente, um falso timorato sem ser propriamente audacioso, um mestre na experimentação e no aproveitamento das capacidades disponíveis. Inteligente, sem dúvida, e, nessa medida, aberto à aprendizagem contínua, a aprender, sobretudo, com os erros. ( Digamos o perfeito anti-Lopetegui). E trabalhador, é cristão - praticante nessas duas qualidades. Deus esteve com ele! Os jogadores também, e os portugueses, e, na 25ª hora, até os seus críticos mais azedos. (O treinador alemão e os franceses não, mas isso seria pedir demais). Também jogar um futebol espetáculo seria pedir demais - ele considerou que, jogando de igual para igual com os melhores, a sua equipa seria presa fácil, e, ao menos retrospetivamente, temos de concluir que julgou bem. Empate, nos 90 minutos, com a Islândia (1-1) com a Austria (0-0), com a Hungria (3-3), com a Crácia (0-0), com a Polónia (1-1), com a França (0-0) e, de permeio, na meia-final, os 2-0 a Gales, com um sabor a goleada... Fernando Santos disse: "Não é fácil ganhar a Portugal". Certíssimo: ninguém conseguiu! Mas também não era fácil Portugal ganhar a ninguém... (pelo menos no tempo regulamentar). Assim se faz um campeão europeu. Voilà! --------------------------------------------------------------- 6 - Do que gostei e não gostei. - Gostei acima de tudo) da coragem moral de Fernando Santos ao recuperar para a seleção todos os "proscritos" pelos seus antecessores (tarde demais para Baía ou Deco, mas não para Tiago, Bozingwé, Ricardo Carvalho, Ricardo Quaresma). Começou, pois, a reparar uma imensa injustiça e um estúpido desperdício de talentos. Não o fez contra ninguém, nem mesmo contra os carrascos destes jogadores excecionais. Calou as vozes que queriam polemizar... - Gostei da sua sageza ao criar uma equipa intergeracional - levando a ideia ao superlativo, a ponto de Portugal ter colocado nos relvados do "Euro 2016" o jogador mais velho (Ricardo Carvalho) e o mais novo (Renato Sanches). Gostei, mas não gostei, inteiramente, da forma como, depois, os utilizou. Ricardo Carvalho foi o melhor central do mundo, o melhor português de sempre (e para sempre?) nessa posição e, aos 38 anos e tal, a qualidade que mais o singulariza - o sentido posicional - em nada se perdeu. Devia te-lo poupado no 3º jogo da fase de grupos, para o chamar no seguinte, quando fosse suficiente o intervalo entre partidas, que já se previa durarem 120 minutos... Não ver mais o Ricardo a titular, pressentindo que acabou para a seleção, foi uma dor de alma e a minha razão de queixa principal.Quanto a Renato Sanches ainda não é o "craque" que provavelmente vai ser, houve jogos em que deu dinâmica à equipa e outros em que não deu coisa nenhuma. E Ricardo Quaresma merecia mais do que ser tratado, quase supersticiosamente, como a arma da 25ª hora, porque mesmo que os seus toques de génio não sejam constantes é constante a sua superior qualidade... - Gostei das escolhas que permitiram constituir uma equipa representativa de Portugal, mas, igualmente, do universo das migrações lusófonas - com atletas nascidos no Brasil, em Cabo Verde, na Guiné, na França, na Alemanha, na Venezuela (Danny não chegou a ir, por lesão), no Congo (Bozigwé não estava em plena forma) ou com jovens de segunda geração, dessas e de outras origens, angolanos também, com os moçambicanos (o "Rei" Eusébio, eterno símbolo da binacionalidade) na memória. Não foi só por essa constatação, mas também terá sido, que os apoios nos chegaram de Timor ao Brasil, passando por toda a África lusófona. E até da não lusófona - da qual foi expoente máximo Benni McCarthy, a celebrar o golo de Éder, em direto, na tv sul-africana,cantando e dançando, batendo, em entusiasmo e criatividade, tudo e todos. Eu sei que Fernando Santos não pode aqui colher sozinho os louros. A Didier Deschamps, ao menos quantitativamente, não faltava um ainda mais numeroso contingente afro-gaules - o que de todo faltava era, da parte de antigas colónias a mesma espécie de fraternidade... E isso não tem a ver com as escolhas dos treinadores, mas com o sentir das pessoas. Não, a França não tem o equivalente a um Xanana Gusmão, líder da Resistência e antigo Presidente, a participar num enorme cortejo automóvel, com as bandeiras dos dois países na mão! - Gostei de ver Portugal triunfar e, embora menos, claro, de ver a França perder... David contra Golias. Golias, Louis XIV (Le foot c´est moi), Napoléon... Foi uma fábula moral e um poema épico... Não faltou nada, exceto, talvez um pouco mais de futebol, mas sobejou a emoção, o drama: Ronaldo, KO ao minuto 8º, com um golpe baixo de Payet no seu joelho problemático. Ronaldo, saindo em maca. em lágrimas. sob os aplausos de um estádio inteiro. a única "standing ovation" global... muitos de nós sabemos, mas não sabiam os franceses que com Ronaldo ou sem Ronaldo, Santos põe os rapazes a jogar na mesma. Aliás, entrou Quaresma, o supremo artista, ali forçado a fazer de operário... E, no fim. por fim, um ponta de lança, que desequilibrou tudo: Éder, que recebeu o cognome, consensualmente aceite de "herói improvável", Devia partilhar o título com o previsível/imprevisível Fernando santos... - Gostei da rigorosa análise do jogo feito pelo 3º herói improvável, o pequeno Mathis, equipado a rigor com a camisola das quinas, a consolar um desconhecido adepto francês, também equipado a rigor (en bleu). Síntese da longa e perfeita análise: o Rui Patrício defendeu tudo. É verdade, foi-se fazendo um grande guarda-redes - os guarda redes fazem-se, em regra, devagar... - Gostei da sua inteligência ao colocar no retângulo, fundamentalmente bem (mesmo que discordemos pontualmente), as peças com que tornou a sua equipa imbatível Sim, não o esqueçamos: imbatível. Invicta na sua longa marcha de empates. invicta nas vitórias de último minuto com que nos levou consigo ao paraíso. INVENCÍVEL...

sábado, 9 de julho de 2016

Quando não ganha o melhor...

A Alemanha foi infinitamente superior à França. Esmagou na 1ª parte e teve ocasiões de sobra para marcar na 2ª, mas não os concretizou e a defesa cometeu 2 erros, que deram 2 golos a Griezman... O célebre comentador francês que adjetivou de "nogento" o futebol da equipa de Fernando Santos, se fosse capaz de alguma objetividade, deveria ter usado contra a de Didier Deschamps o mesmo palavrão no superlativo. Eu prefiro falar, como um mais lúcido comentador italiano, dessa equipa como "máquina tática". Ele referia-se apenas a Portugal, mas a França. contra adversário muito superior, colocou-se na mesma categoria...

Os "Heróis do Mar" contra "les Enfants de la Patrie"

Previsivelmente, não vai ser fácil para ninguém. Eu preferia a Alemanha: 11 contra 11 e nem sempre ganha a Alemanha... (inesquecível o 3-0 de Sérgio Conceição!) O Portugal-França tem sido, ultimamente, 11 contra 12 e, no fim, ganha sempre a França. Para nós. mais perigoso do que Antoine Lopes Griezman, pode bem ser o árbitro. On verra...

quarta-feira, 6 de julho de 2016

França ou Alemanha?

Ao contrário do que me parece ser o sentir geral dos portugueses, eu preferia ganhar à Alemanha e, até, se for caso disso, perder com a Alemanha. Em primeiro lugar, porque jogamos em Paris e para mais de um milhão de emigrantes, perder ou ganhar com a França, em França, é sempre uma fonte potencial de conflitos. Em segundo lugar, porque a Alemanha é campeã mundial e nos abre vaga na grande "cimeira" do futebol, e, em terceiro, porque não temos tido boa sorte com a França (nem boa sorte nem boas arbitragens).

SANTOS, O PRAGMÁTICO

As vitórias de Santos começam sempre na defesa. E, neste campeonato, o guarda redes, e os centrais, todos eles (os dragões Ricardo Carvalho, Pepe e Bruno e, também, Fontes) têm sido a alma da equipa... Gostaria de ter visto os Ricardos em campo, mas com Santos não se pode ter tudo. E o Bruno fez, assim, a sua estreia auspiciosa, esteve muito bem. Ganhámos sempre sem brilho, mas, desta vez, ao menos, ganhámos com mérito! Claro, é um futebol atípico, mais helénico do que lusitano. No nosso caso, não podemos dizer que "a sorte protege os audazes" - bem pelo contrário, tem protegido os pragmáticos. E que continue a proteger até ao fim!

ESTRANHAS ESCOLHAS DE FERNANDO SANTOS

Escrevo ao som do hino de Gales... Estranho a ausência de Ricardo Carvalho, um central que é tão bom ou melhor do que Pepe! Talvez aos 38 anos não devesse ter feito o 3º jogo da 1ª fase. Aí, sim, perceberia que Santos lhe desse um jogo descanso. Mas porque não voltou depois? Começou de uma forma fantástica - melhor do que Pepe, que subiu imenso nos últimos jogos - a estrela da equipa, sem dúvida... Enfim, mesmo sem os Ricardos, desejo a vitória! Obrigatória, quando a Gales até falta Ramsey, que faz mais falta do que Bale...