quarta-feira, 3 de junho de 2020

TEMPOS DE DESIGUALDADE, EXCESSOS E CONTRADIÇÕES

TEMPOS DE DESIGUALDADE,  EXCESSOS E CONTRADIÇÕES 
 
1 - Fique em casa! Saia, faça turismo! Máscaras não! Máscaras sim!  Hospitais seguros, vá às consultas! Praias não! Praias sim, com lotação limitada!  Cafés, esplanadas ou restaurantes, com restrições! Aviões cheios, sem restrições! Festivais de música não! Festa do Avante, comício e música (talvez) sim! Futebol 1ª Liga, sim! Outro futebol, outras Ligas, não! Controlo nos aeroportos do Continente, não! Controlo nos aeroportos das Ilhas, sim, e com imposição de quarentena" (exceto para equipas de futebol de visita à Madeira para jogar com o Marítimo...). 
Exemplos de uma densa rede de regras e de exceções "à la carte". Algumas das "palavras de ordem" vão sendo ilustradas pelo exemplo dos maiorais: Sua Excelência o Presidente Marcelo (entre o povo, sempre de máscara, honra lhe seja feita) a comprar postas de bacalhau e verduras no mercado da Ericieira; o Senhor Primeiro Ministro António Costa almoçando, "tête à.tête", com Sua Excelência Ferro Rodrigues, num restaurante muito "cozy", sem máscara e sem guardar a distância protocolarmente imposta pela DGS Graça Freitas ao cidadão comum e até aos infantes das creches... 
 Assim vão sendo feito os primeiros convites ao desconfinamento, que se revelam mais difíceis de aceitar, do que foi o recolhimento doméstico em que o prudente português comum se refugiou, antes de decretado o "estado de emergência" e,  depois, o "estado de calamidade". Este último, ao invés das aparências, ainda está em vigor... Enfim, está e não está!
Interiorizados foram sendo outros estados concomitantes e mais persistentes, como o "estado de medo", e o " estado de depressão",  o "estado de pobreza e necessidade" para um galopante número de desempregados e de trabalhadores em "lay-off", e, para uma minoria, na qual me conto, o "estado de ceticismo", a caminho do "estado de inconformismo". A tal ponto levam os excessos de burocracia e de propaganda, avidamente ampliada pelos "media nacionais"... Está criado um clima de unanimismo, que exorcisa qualquer crítica construtiva, como ato de transgressão tão grave como era, em março/ abril, um idoso sair de casa... Eu confesso que passeei, quotidianamente, por Espinho/Norte, a bem da minha saúde mental e física, cumprindo todas as regras que fazem sentido (máscara, distância de dois metros dos transeúntes sem máscara, que são ainda muitos, desinfeção das mãos, troca de sapatos à entrada de casa). A idade não me assusta! Os seniores que morreram, em massa, não foram tanto os que andavam na rua, mas, sobretudo, infelizmente, os que estavam internados nos lares (coisa que a DGS nunca se preocupou em destacar - sendo pelos "media" que ficámos a saber que, cá, como na maioria dos países ditos civilizados, metade, ou muito mais de metade, dos mortos da pandemia eram idosos institucionalizados. Aconteceu em Portugal, no Canadá, Grã-Bretanha, Espanha, Itália, França, Suécia, etc etc....
...
2 - O "Big Brother" de Geoge Orwell voltou à atualidade... Estamos, de facto, localizados, ao minuto e ao centímetro, pelo nosso telemóvel, sujeitos a mensagens subliminais, condicionados  por toda a espécie de normas e protocolos, em que, pelo ridículo, se destacam alguns dos emitidos pela Senhora DGS .. 
A lembrar outro livro de Orwell,  "A quinta dos animais", fábula genial sobre uma revolução fraterna, seguida da fatal ascensão de uma nova casta dominante. No início, os revolucionários, que da "quinta" expulsaram o explorador humano, proclamaram a igualdade entre todos os animais. Por fim, o princípio é lapidarmente reescrito: Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros" .
Comprei ambos os livros, (lidos outrora, há mais de meio século...), na Livraria Bertrand,  inaugurada recentemente na rua 19.  Boa notícia e bom preságio para Espinho esta aposta num belo espaço de convívio com as novidades literárias, que há tantos anos nos faltava! Com saudade, recordo o último que nos foi dado frequentar, na rua 62, autêntica instituição da cidade, lugar de tertúlias e de exposições artísticas. A uma Bertrand não se pede tanto, mas, para quem gosta de deambular por entre estantes de livros é um pequeno  paraíso!
Voltando ao tema da fábula orwelliana, direi que chegou a hora de silenciar incongruências e desigualdades. Os "mais iguais".crescem em sociedades amedrontadas e conformistas, onde as críticas construtivas esmorecem. Não deixemos que pensem por nós. Colaboremos na prevenção da epidemia, com o civismo em que a maioria dos portugueses tem sido pródiga, mas não nos deixemos apanhar nas teias de oportunismo, que queiram tecer à nossa volta. Olhemos os  sintomas e os factos e ousemos  manifestar indignação. 
Indignificante foi, certamente, o contraste entre o privilegiado ajuntamento de um milhar de sindicalistas, que puderam ir, de todo o país, em camionetes, para a jornada do 1º de Maio em Lisboa, em pleno "estado de emergência", e a implacável expulsão pela polícia, à mesma hora, de uns quantos passageiros do metro, que iam de São Bento a Santo Ovídio, que fica a dois passos. A imagem, fornecida pela televisão, de homens fardados a banirem humildes trabalhadores do Porto e de Gaia de uma carruagem de  metro, enquanto os trabalhadores "mais iguais do que os outros", festejavam nas praças do Porto e de Lisboa, é coisa que me recuso a esquecer 
Também Inesquecível, e pela positiva, é a resposta à interpelação de uma repórter da TV  dada por um velho sindicalista, de 92 anos, que celebrava o seu 1º de maio,  de grande bandeira na mão. A jovem verberava a presença do velho, no meio da multidão, por fazer parte de "um grupo de risco", com "dever especial de confinamento". Calou-a ele, dizendo que se sentia muito bem, saudável, e, se tivesse de morrer, é porque tinha chegado a sua hora, depois de uma longa vida.... Também o líder do PCP, Jerónimo de Sousa, que vai nos 73 , foi interrogado sobre o excesso de idade para estar na Alameda, e não gostou da pergunta... Eu também não!  Preferia que a arrogante jornalista tivesse tido a coragem de pôr essa mesma questão ao  Presidente Marcelo, que tem, mais ou menos, a idade de Jerónimo, anda por todo o lado, e pondera recandidatar-se ao cargo, que poderá completar com 77 anos. Em matéria de idade, são todos iguais. Ou não?

3 - Deixando para mais tarde algumas observações sobre o polémico relançamento do campeonato de futebol, domínio, por excelência, do improviso e de arbitrariedade, uma palavra sobre outra controversa reabertura: a das praias, que tão diretamente interessa a Espinho.
Começar por dizer que talvez nada me tenha chocado tanto, neste tempo pandémico, como a interdição do acesso ao mar, durante semanas, meses!. O mar é nosso, é das pessoas, é domínio público. Evitar grandes concentrações, previsíveis no verão, sim, certamente, mas com regras de "distanciamento social" semelhantes para ruas,  esplanadas, ou areais....
A diversidade de soluções é, para já, a nota dominante, mas, (cuidado!) falta saber ainda o que sairá da fértil imaginação da senhora DGS...
 Há quem queira criar divisórias de acrílico (em Itália), implantar quadrados de areia conglomerada (em Espanha), abolir guarda-sóis sol e barracas para melhor aproveitamento do espaço (em Cascais), ou demarcação por cordões... Também há quem queira uma separação entre "praias estáticas" e "praias dinâmicas". Originalíssima adjetivação! Traduzindo: as "estáticas" são reservadas a banhos de sol, as "dinâmicas" a banhos de mar... 
Olhando as caraterísticas próprias da nossa linha de  costa, que tal destinar a Baía, (uma  quase"piscina natural"), aos dinâmicos surfistas e  nadadores, ao menos numa considerável faixa próxima do mar? O que permitiria libertar as outras praias para o culto do sol, as estáticas toalhas estendidas na areia, para-ventos e barracas, obviamente sem proibição de ir à água, exceto com o içar da bandeira vermelha... Declaração de interesses: é uma sugestão de quem gosta, sobretudo, de nadar.

VAMOS INTERROMPER A LIGA! JÁ!

Finda a primeira jornada deste outro (pseudo) campeonato, há que o interromper, de vez. Para quê arriscar a saúde e a integridade física dos jogadores durante mais nove desafios, ao ritmo de dois por semana? Com o SLB no primeiro lugar, estão cumpridos todos os obetivos.