terça-feira, 2 de julho de 2019

EXPOSIÇÃO "MULHERES E CIDADANIA" na 3ª BIENAL de GAIA



A criação artística, como expressão cultural da cidadania tem, assumidamente, o seu lugar no mundo da 3º Bienal Internacional de Arte de Gaia. Com esta exposição temática, "Mulheres e Cidadania", e o colóquio sobre o mesmo tema, procuramos, em diálogo, mundividências de migrantes, de estrangeiras, ou seja, diferentes olhares de mulheres de outros países e culturas sobre si mesmas, as suas sociedades, a particularidade das suas vivências, enquanto parte emergente da Humanidade, após um silenciamento milenar, do qual tão poucas lograram libertar-se.
As Mulheres chegaram, na nossa época, a este como a outros domínios, para ocupar o vazio da sua própria ausência, ou relativa ausência, num universo dominado por padrões masculinos. Desde sempre artífices de múltiplas formas de produção artística - artesãs, cultoras anónimas do esteticamente belo na esfera privada, das máscaras primitivas aos trajes, à decoração ou à pintura -  só com a entrada na esfera pública, começaram a ser reconhecidas. Porém, com que dificuldade, com que suplemento de esforço, de audácia e de talento, conseguem fazer caminho? E de que modo essa vontade de transcendência, a par de outras especificidades, se reflete no trabalho artístico? Pode ele constituir-se, não só em instrumento de construção do "eu", de auto-afirmação, mas, também, de reconstrução social? Será um meio, por excelência, de representação do feminino e da intervenção cívica? E há, verdadeiramente, uma  "Arte no feminino" -  um modo diferente de estar no terreno das Artes e das Letras, da Música, tal como do Desporto, ou da Ciência? Ou nada é de resposta fácil e evidente no processo que se desenha entre a natureza invariável do sexo e as condicionantes essencialmente mutáveis de género? 
Visível e incontornável é, ainda, a discriminação, que marginaliza, em todos os campos, o "feminino". Certa é a importância da sua inclusão progressiva no "Todo", significando duplicação de contributos, de criatividade, de génio, uma dinâmica nova, em absoluto, um "avanço civilizacional", como dizia Emmeline Pankhurst.Se a Arte quer ascender a uma dimensão universal não pode prescindir da presença e da interlocução entre géneros, bem como entre povos e suas variadas e fascinantes heranças culturais, que o fenómeno histórico de infindáveis  migrações serviu para pôr  em contacto e progresso.
 Uma mostra simbólica de obras de mulheres migrantes ou estrangeiras (e estrangeiras foram, tradicionalmente, todas no seu próprio País, que lhes negava direitos e pública aceitação...) pretende, antes de mais, no espaço e no tempo da Bienal, dar livre curso ao questionamento do presente e às possíveis reconfigurações do futuro

Maria Manuela Aguiar, Comissária
(in Catálogo da Bienal)

CCP PARIDADE


Sobre a proposta das Conselheiras do CCP para o reforço da Paridade no "Conselho
2 de junho de 2019

Senhora Conselheira Luísa Semedo

Agradeço a informação recebida e muito me regozijo com esta histórica iniciativa das Conselheiras do CCP,  
 Estou inteiramente de acordo com as propostas avançadas e quero felicitá-las pela forma tão objetiva e tão convincente como a defendem, pondo o acento na incompatibilidade entre a própria definição de democracia e a situação de discriminação de género subsistente no CCP, quase 40 anos depois de ter sido instituído.
 Tive o privilégio de acompanhar de perto o seu nascimento e evolução, enquanto membro do Governo e Deputada da emigração, desde a a feitura da lei em 1980 e a realização da reunião plenária inaugural, em abril de 1981. Nesse primeiro encontro mundial, não havia uma única mulher eleita pelo colégio eleitoral formado, então, por dirigentes associativos das Comunidades. o que não podia deixar de prejudicar a imagem, credibilidade  democrática e eficácia de um Órgão de representação e consulta tão importante. Essa inadmissível discriminação espelhava, porém, a realidade de um movimento associativo caraterizado pela absoluta predominância masculina e tornava-se, por isso, extremamente difícil de combater. Nas eleições de 1983, apenas duas mulheres ganharam acesso ao Conselho, ambas jornalistas, uma de Paris, outra de Toronto e só em 1985 surgiram as primeiras conselheiras oriundas do movimento associativo, notáveis pioneiras de reconhecida competência, apesar da qual nunca foram escolhidas pelos seus pares para qualquer cargo de direção. 
Após um longo interregno, que se estendeu de 1988 a 1996, a adoção, nesse ano, de um novo modelo de Conselho, a eleger por sufrágio directo e universal, parecia abrir perspetivas ao maior equilíbrio de sexo, logo frustradas, pois a componente feminina manteve-se diminuta e afastada das lideranças, por mais qualificada e influente que fosse  -  e era!
 Só a imposição de quotas, (de que, há muito, sou adepta declarada), tanto nas eleições nacionais e autárquicas como no CCP, se revelou decisiva para os progressos registados na última década, ficando embora ainda aquém das metas da paridade. E, infelizmente muito mais no Conselho das Comunidades  do que, por exemplo, na Assembleia da República. Ora quanto maior for a continuada resistência a uma intervenção feminina igualitária, mais necessário é reforçar a eficácia da aplicação das regras da paridade, procurando detetar, denunciar e impedir os desvios concretos ao espírito e aos ditâmes da lei. É exatamente o que, em relação ao caso particular do CCP, vêm propor, com rigorosa argumentação, as Senhoras Conselheiras,
Acredito que conseguirão alcançar os objetivos e, com isso, dignificar a Instituição, dar-lhe a sua verdadeira dimensão representativa, e contribuir, em simultâneo, para um novo fôlego, na Diáspora, das políticas públicas para a igualdade, que constituem, nos termos da Constituição, "tarefa fundamental" da Estado. No passado, o CCP  teve já, por sinal, um papel relevante na génese das políticas para a igualdade, graças à recomendação de uma Conselheira de Toronto, Maria Alice Ribeiro, que levou, em linha reta, à convocatória, pelo Governo, do "1º Encontro de Mulheres no Associativismo e no Jornalismo", em 1985. Uma reunião inédita, em que grandes mulheres das Comunidades de todo o mundo mostraram o seu conhecimento das problemáticas da emigração, capacidades de diálogo e criação de consensos, comprovando, assim, a medida exata da falta que a sua voz fazia no Conselho,.
Permitam-me, por último, felicitá-las pelos resultados já atingidos, sobretudo a nível regional, redobrando fundadas esperanças no futuro Conselho, no impacte que nele terá, certamente, a sequência desta tomada de posição conjunta das Conselheiras.  
Para todas envio cordiais saudações, com a minha inteira solidariedade e muito apreço