quinta-feira, 20 de setembro de 2018

RUI LACERDA - O SEU MODO DE VER E CONVIVER

Rui Lacerda - o seu modo de ver e conviver

 Rui Lacerda  está e ficará sempre presente na memória de Espinho. Pertence à história da cidade, onde deixou marcas que a fizeram mais moderna, maior e melhor. Como arquiteto -  um grande arquiteto! - mas não só, também como exemplo de intervenção cívica, de  convivialidade, de partilha de saberes e de ideias
As suas realizações no campo da arquitetura falam da dimensão humana que envolve a profissional e a acrescenta e transporta aos mais altos patamares. E referirei apenas as que aqui, na sua terra, podemos  admirar e usar no nosso quotidiano (para além de tantas outras, dispersas pelo país e por outros países): 
 - O Auditório de Música, que dá ao público uma rara proximidade com o palco, para além de um ambiente e uma acústica esplêndidos. Quando vou à Casa da Música do Porto, penso sempre: é tão interessante por fora e tão labiríntica e até, de certa forma, inóspita no seu interior .Falta-lhe  - a harmonia entre o todo que encontramos no "nosso" auditório...
 - A Escola Manuel Laranjeira, cuja remodelação pude apreciar detalhadamente, numa visita guiada pela sua Diretora,e que  prima igualmente pela conjugação de arte e funcionalidade. No fim, inclinada como sou a ter em mente paradigmas nórdicos, exclamei:  "Parece um liceu acabado de construir em Estocolmo!".
 - A Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva, orgulho de todos os Espinhenses! Foi sobre ela que mais longamente conversei com o Arquiteto Riu Lacerda e sou testemunha do seu entusiasmo, da sensibilidade com que integrava as componentes simbólicas do projeto, com uma enorme atenção aos mínimos pormenores decorativos, ao mobiliário, e uma absoluta eficácia na supervisão das coisas concretas, a garantir uma execução rigorosa nos diversos aspetos e fases. É uma Biblioteca cheia de luz, nas salas de leitura que ladeiam o jardim interior, o tão original jardim das oliveiras, cheia de portas que se abrem para aumentar as áreas de comunicação e encontro. Entre as duas entradas principais, a da rua 24 e a do jardim João de Deus, o átrio tem a largura de uma rua, é mais uma via de passagem, paralela à rua 23, um convite ás pessoas para que a usem com tal, em visitas mais ou menos demoradas. Essa foi uma explicação que me deu e me encantou.     
Traço comum na conceção destas três obras primas é, portanto, a compreensão das pessoas para quem os espaços foram criados e existem - num caso os estudantes, nos outros, os melómanos e os amantes das Letras e do diálogo à sua volta. Julgo que nunca procurava apenas a beleza da construção, como valor em si. embora a conseguisse, com facilidade, porque tinha alma de artista  Permito-me dizer que a sua arquitetura é profundamente humanista, como ele próprio era! Reflete perfeitamente o seu "modo de ver" - o título que deu à inesquecível exposição de fotografia sobre Espinho e a sua gente, (a fotografia, outra das suas artes!).
Uma última palavra sobre o Cidadão, o voluntário de muitas causas, movimentos e iniciativas de cultura, de desporto e de solidariedade, sempre pronto a colaborar e a participar ativamente. Foi na" Liga dos Amigos da Biblioteca José Marmelo e Silva", que mais privei com ele. De facto, não olhava a Biblioteca, apenas como  trabalho tão bem conseguido e  finalizado, antes a sentia no seu dia a dia de Homem de Cultura e cultor de amizades -  o mais perfeito exemplo do velho e sempre novo espírito desta cidade dialogante e fraternal, no seu "modo de ver" e de conviver.
A inauguração da seu último projeto, o que não teve tempo para ver concluído - a requalificação da zona que foi, e quer ser no futuro, a grande sala de visitas de Espinho -  constituirá certamente o momento  para uma pública homenagem e consagração do seu nome