terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Colóquio em Recife

para mim
Estamos a partilhar momentos históricos neste admirável salão nobre do Gabinete Português de Leitura de Recife, porque falar de "expressões femininas da cidadania" numa grande e tradicional instituição das comunidades portuguesas do Brasil é coisa absolutamente inédita. Estamos, certamente, a abrir um caminho longo, a que não vão faltar os caminhantes. E é excelente que o possamos fazer em conjunto, em reunião de representantes do Estado e da sociedade civil, brasileiros e portugueses, mulheres e homens de várias idades, todos olhando a realidade das migrações, das mulheres na sociedade de hoje, com uma mesma vontade de reinventar as formas de lhes assegurar, concreta e individualmente, o seu " direito de cidade".
O Brasil é um dos países do mundo onde, nas últimas duas décadas, as cidadãs, mais rapidamente e com mais naturalidade, ascenderam a altos cargos políticos, mas nem por isso podemos dizer que, aqui, como no resto do planeta, a questão de género está resolvida. Na verdade, não está.
Mas que o Brasil se tornou um paradigma de abertura da política às mulheres, também é verdade!
E, por isso, se torna particularmente anacrónica a falta de participação feminina nas diretorias das mais prestigiadas organizações da comunidade portuguesa, como salienta. na sua mensagem, o deputado Carlos Páscoa..
 Sabemos bem que o movimento associativo dos portugueses no Brasil é, no universo da emigração nacional, não só o primeiro, mas também o mais grandioso. Como tantas vezes disse, por todo o lado onde deveres de ofício me levaram, reconheço o mérito de tantos emigrantes portugueses, que se destacaram pela sua obra individual, mas maior é ainda, embora seja bem menos referenciada e reconhecida, a sua obra coletiva - exemplificada nas instituições luso brasileiras, Gabinetes de Leitura, Beneficências , Hospitais, Clubes. Uma obra monumental!
No novo século, marcado por um recomeço das correntes migratórias para o Brasil, queremos vê-lo sobreviver, numa ponte de afetos entre as certezas do passado  e as transformações que o futuro exigirá. O que não será possível sem o envolvimento das mulheres e dos jovens.  Por isso,  o Secretário de Estado Dr José Cesário nos vem lembrar, nas palavras de saudação que nos enviou, o papel das mulheres, qualificando-o como "absolutamente decisivo".
Serão várias as razões que explicam um quadro geral de exclusão feminina na cúpula do nosso associativismo no Brasil, a que quase só escapam a organização Elista e algumas Câmaras de Comércio, talvez porque sejam luso-brasileiras. Ao que parece, uma ativa componente brasileira vai sempre num sentido mais inclusivo e igualitário, à imagem da própria estrutura política do país.
Uma das razões para explicar um tal panorama associativo será o caracter masculino da emigração portuguesa, até  meados do século XX,  precisamente quando cessa o êxodo para o Brasil - muito embora a proporção de mulheres viesse a crescer significativamente desde o começo do século, contrariando as políticas limitativas com que os governos, até então, sempre haviam procurado proibi-las de sair (sabe-se porquê: a presença feminina transforma o projeto de emigração, facilita a integração familiar e dificulta o regresso à terra...)
Em meados de novecentos, quando termina o ciclo das partidas para o Brasil, principia o da Europa  - e não só. Porém, os outros destinos tiveram menor visibilidade, apesar da sua  importância, o Canadá, a Venezuela, a África do Sul, a Austrália ( de novo, a dispersão universal...) e, por isso, tornou-se é um lugar comum dizer que a  França se converteu no "novo Brasil".
Por todo o lado, o movimento associativo dessas comunidades emergentes, tal como o das antigas, fortíssimo e multifacetado na sua vocação - e necessidade -  de se substituir à ausência de ação do Estado português,  mantém a sua feição masculina...
Nesta fase mais marcadamente europeia, o inesperado iria aconteceu, sobretudo no que respeita à "metade feminina" (metade mesmo, matematicamente, ainda que , em regra, elas tenham seguido os maridos, à distância de algum tempo) . Os primeiros estudos sociológicos realizados em Paris sobre as portuguesas, em 70 e 80, revelam um quadro muito diverso do que se antevira - as emigrantes, vindas de meios rurais para grandes cidades, haviam conseguido adaptar-se melhor do alguém poderia imaginar, haviam sido o esteio da  integração familiar e alcaçado um novo estatuto dentro e fora de casa. O acesso a trabalho remunerado, regra geral no setor dos serviços, o melhor domínio da língua, e com ele, a capacidade de melhor interagir na sociedade de acolhimento, explicam o fenómeno. A verdade é que a emigração foi para toda uma geração de emigrantes portuguesas - mesmo para as mais pobres, as menos qualificadas profissionalmente - uma via de emancipação. Nesse ciclo migratório, quase todos ganharam, e as mulheres ganharam mais ainda. Eduardo Lourenço, ele próprio emigrante em França e um dos nossos mais prestigiados e queridos intelectuais, chama-lhes "uma geração de triunfadores". Podemos, com segurança, escrever a frase no feminino.
Na geração seguinte, é espantoso o número de luso-francesas envolvidas na política, para já sobretudo a nível municipal, e as ligações que mantêm com o nosso país. No Brasil, ao pensar em exemplos semelhantes, logo me ocorre o nome de Ruth Escobar, a portuguesa que, ao abrigo do Tratado de Igualdade de Direitos, se candidatou e foi a 1ª Mulher eleita à AL do Estado de SP. No Rio de Janeiro, igual pioneirismo protagonizou, como Secretária do Governo do Estado, a médica Manuela Santos, que, mais tarde, seria a primeira representante eleita no Brasil ao Conselho das Comunidades Portuguesas
 Constatamos, assim, que, no Brasil como  em França, tem sido mais conseguida a ascensão das emigrantes na sociedade de acolhimento do que no mundo conservador e masculino do associativismo.
A AEMM, consciente desta evolução assimétrica, na generalidade dos países, tem concentrado os seus esforços na mobilização das mulheres para uma participação de vanguarda nas comunidade portuguesas, a fim de que se convertam em espaço de expressão da cidadania e se expandam com a inclusão de grupos marginalizados, invertendo a tendência para o seu declínio, que tantos profetizam e justamente  receiam.
Vemos o associativismo feminino, essencialmente, como um instrumento para viabilizar, a prazo, a participação paritária nas organizações das comunidades da diáspora.
E encorajamos as novas formas, criativas, que vem assumindo. Penso, sobretudo, em iniciativas que se projetam na internet , com o grupo das "Marias, corações de Portugal" ( a partir da Alemanha), ou nas tertúlias, que combinam a vertente lúdica com a beneficente ou cultural, caso das Universidades ou Academias Seniores, (que se multiplicam do Canadá à Argentina,, da Alemanha à África do Sul), ou das Academias da Espetada, em  grande crescimento nas comunidades madeirenses da Venezuela e África do Sul ( a "espetada é um prato típico madeirense).
 Julgo que nesta corrente inovadora se inclui, com toda a originalidade, e um jeito bem tropical,  a  "Folia das Deusas". justamente porque tão bem concilia o tempo de festa, e o tempo de ação solidária.
 A parceria que agora iniciamos com  a "Folia das Deusas" vai, certamente, continuar. Foi a
  
 Drª Berta Guedes Santana quem nos convidou a vir ao Recife. Depois do sucesso desta iniciativa, somos nós que a vamos convidar a ser  a nossa representante em Pernambuco, a participar nos nossos projetos - a criação de Academias Séniores de Artes e Saberes, a recolha de narrativas de vida,  as tertúlias literárias, as mostras  artísticas, as várias modalidades de "congressismo"  em que  denunciamos discriminações, a mobilizamos mulheres e homens para a vivência paritária da cidadania, no associativismo e na política. 
De tudo isto se falou neste dia inesquecível, com Mulheres Brasileiras e Portuguesas do Recife, que em diversos campos, (até no do associativismo tradicional, como o provam as dirigentes do Hospital Português que integram o painel de oradores) são admiráveis expressões da cidadania no feminino.
A todos os amigos aqui presente, o meu "bem-hajam"
Não vamos dizer adeus uns aos outros, mas sim "até logo".

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Com o Papa Francisco

Este é o Papa que vive, seguindo o exemplo de Jesus Cristo... que exerce a sua missão, com simplicidade e alegria. E muita coragem,  Não hesita em dizer o nome das coisas,  fala de capitalismo como a nova tirania...
Nós, Portugueses, não somos os únicos a sentir o peso deste capitalismo selvagem, desta tirania...mas que sentimos, sentimos!

Nova tirania económica gera violência

Quem proclamou esta verdade não foi o Dr Mário Soares, mas o Papa Francisco
Aguarda-se que aqueles estouvados rapazes do PSD e do CDS-PP. que rasgam as vestes da indignação perante os avisos do Dr Soares, se atrevam a criticar o Papa, que afinal vem dizer o mesmo, com meridiana clareza...

DE LOS ANGELES, EDMUNDO MACEDO


              O NOSSO BEETHOVEN FOI À SUÉCIA DAR RECITAL DE PIANO

 

Às tantas foi como se no centro do estádio houvesse um piano e Beethoven tocasse um excerto sublime.

 Às tantas foi como se pelo estádio sibilasse súbita ventania, tempestade de granizo, trovoada carregada de mil raios e coriscos, um pandemónio.

 Às tantas foi que por um estádio da Europa setentrional passara um artista impar, que inapelavelmente deixou em cada sueco um sueco maravilhado perante absoluta elegância futebolistica, perante insuperável destreza.

 Às tantas foi que Cristiano Ronaldo montara inesquecível clínica de futebol, em 19 de Novembro de 2013, na Friends Arena em Solna.

 E no fim  -- as contas feitas, caso arrumado, estádio a esvaziar, frio de iceberg, silêncio de túmulo, almas torturadas --  a indelével imagem de Cristiano Ronaldo de braço dado com cada sueco, acompanhando-os

calorosamente às suas casas, suando neles a lembrança indesejável do desaire mas repondo neles a recordação de uma peça desportiva de grande espectáculo  -- verdadeiramente uma peça difícil de tragar para suecos e afinal,  bem vistas as coisas, exibição preciosa, gratíssima até, pois nem sempre aparece por ali um Cristiano Ronaldo todo inclinado a oferecer o seu 'produto-para-sonhar', todo propenso a dar show!

 O nosso Beethoven acabara de tocar sonatas magistrais na Suécia e o eco da rara proeza tão cedo não deixará de repercutir vivamente por aquela parte oriental da península escandinava, suas cidades e vilas, suas colinas e vales. 

 Sonatas que o mundo inteiro escutou deliciado!
 

Não houve equívoco quando trouxeram ao mundo Cristiano Ronaldo-para-o-futebol! Do mesmo modo, ninguém se equivocou quando, por exemplo, trouxeram ao mundo Muhammad Ali-para-o-box, Michael Jordan-para-o-basquetebol, Rosa Mota-para-coleccionar-maratonas.

Quatro predestinados desafiando os rigores da perfeição! 
 
 Cristiano Ronaldo marcou três golos contra a Suécia que teriam merecido pinceladas de Vincent Van Gogh e na origem desse monumental hat-trick estiveram João Moutinho e Hugo Almeida   -- que souberam entregar aos pés mágicos e à velocidade supersónica de Ronaldo três passes medidos a quilómetros de distância, embora de precisão milimétrica e de qualidade invulgar.
 Foi tão reconfortante o sucesso alcançado na Suécia na complicada eliminatória para o Brasil que se poupam críticas à seleção das cinco quinas quanto àquela barreira do arco-da-velha  -- esburacada, aflitivamente descuidada, que Ibrahimovic aproveitou chamando-lhe um figo e "fuzilando" Rui Patrício sem piedade, sem venda branca nem estaca! 
 Foi tão convincente a vitória portuguesa arrancada em Solna que se perdoa à defesa portuguesa o  desnorte e o seu andar-à-deriva em frente á baliza nacional, à procura de posição e de resposta à marcação de um canto  -- que o nosso velho conhecido Ibrahimovic converteu "à José Águas" com primoroso toque de cabeça.  
 Até ao Brasil e, depois, no Brasil, Paulo Bento irá trabalhar intensamente e incessantemente com os categorizados componentes da seleção nacional. Irá ocupar-se, particularmente, de tudo, sem omitir nada.
 Até ao Brasil e depois no Brasil irá recordando os nossos futebolistas  -- sorriso franco, nada de dramas, coração nas mãos, pão pão, queijo queijo --  que no Brasil, qualquer que seja o nosso grupo, quaisquer que sejam os nossos compromissos, Portugal pode ganhar o campeonato do mundo.
 
Irá recordando os futebolistas portugueses de que lhes será legítimo alimentar todas as esperanças desde que nunca desprezem todas as realidades. 
 
21 de Novembro de 2013
Edmundo Macedo
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Em 19 de Novembro de 2013 a selecção nacional de futebol foi à Suécia conquistar acesso ao Mundial de 2014 no Brasil
 
viveu horas tao refrescantes como a agua que brota das fontes de Sintra
 

 

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Aula Magna

Gostaria de ter estado lá, na 5ª feira... o eco do acontecimento chegou-me a milhares de quilómetros de distância.
Mário Soares salvou Portugal da catástrofe, em várias fases da nossa história. E ainda não desistiu de salvar a democracia ameaçada, uma vez mais. A democracia, o Estado de direito...

General Ramalho Eanes

Justa homenagem ao General Ramalho Eanes. Se pudesse ter ido a Lisboa neste 25 de Novembro de 2013, não faltaria à homenagem que lhe foi prestada.
Nos tempos dramáticos que atravessámos, sem políticos à altura dos desafios  que se colocam ao País, é preciso lembrar os que o conseguiram, em tempos igualmente difíceis.
Votei em Ramalho Eanes (apenas) na primeira eleição presidencial da nossa democracia. Reconheço, hoje, que foi o voto num Homem que é  exemplo de cidadania e de coragem.

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Sobre Rui Machete

Raras vezes me vejo do mesmo lado da barreira com o banqueiro Ulrich, mas descobri que sobre Rui Machete estamos de acordo.
Rui Machete, que eu conheço há muitas décadas, e de quem fui assessora num gabinete ministerial, é uma raridade neste governo - inteligente, culto, bem formado, bem intencionado e experiente. Não se está servindo da política,  mas servindo o País.
 Como fez à frente da FLAD.
Não se curvou perante a grande potência e soube sempre defender os interesses de Portugal .
Um exemplo para os desastrados "juniores" que nos governam - ou desgovernam...

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

totalitarismo animalesco

A proposta de A Cristas sobre o controlo estatal do número de animais que vivem em nossas casas, quintais ou quintas é assustadora... porque retrata a falta de senso e de bondade deste governo
Até um deputado do partido da senhora ministra falou a  propósito de "fascismo higiénico".
Graça Franco na RTP Informação encontrou uma formulação inteligente para enquadrar as pulsões contraditórias que movem este estranho e perigoso colectivo que nos governa : "marxismo de direita"
Vontade de intervenção permanente...
Neste caso concreto, parece ter recuado, vergado  pelo ridículo...

terça-feira, 29 de outubro de 2013

A abrir o Encontro Mundial Mulheres da Diápora

Uma primeira palavra de agradecimento por estarem nesta reunião a que todos somos convocados por uma grande vontade de "fazer futuro" com as forças e as dinâmicas criadas pelo movimento constante das migrações.
É este o sentido que queremos dar a uma comemoração tão especial, porque, mesmo que nos permitamos alguns momentos de nostalgia  na memória de pessoas e de acontecimentos, é, sobretudo, a visão prospectiva que nos motiva.
 
São 20 anos da "Mulher Migrante- Associação de Estudos, Cooperação e Solidariedade".
 
20 anos de intenso envolvimento na vida das comunidades da Diáspora, olhando a sua situação e o seu evoluir, através da acção, das perspectivas e projectos de mulheres, que estão, ainda quando não parecem estar, na base da sua construção e das suas profundas transformações.
 
20 anos de estudo: de apelo constante a um encontro de mundos, não muito fáceis de aproximar - o mundo do "saber de experiência feito" e o da investigação científica - que sempre, com excelentes resultados, procurámos pôr em diálogo nos numerosos congressos, colóquios, jornadas de reflexão, em que é pródigo este passado de duas décadas.
 
20 anos de cooperação e solidariedade com instituições de muitas comunidades e países e com sucessivos governos, no que poderemos chamar políticas de emigração, com uma componente fundamental de género..
 
Em Portugal, o embrião das políticas para a igualdade e promoção activa da cidadania, através da audição das mulheres da diáspora, vem de longe, da meia década de 80, podendo nós, por isso,  reclamar neste domínio um inquestionável pioneirismo, em termos europeus e universais -  mais um dos assomos de  vanguardismo com que o nosso País surpreende os outros, de vez em quando... 
Mas foi preciso esperar pelo início do século XXI para podermos falar de políticas desenvolvidas com caracter sistemático, no cumprimento assumido, dentro e fora do País, das tarefas que o legislador constitucional impõe ao Estado para promover o aprofundamento da democracia, que passa necessariamente pela efectiva igualdade para as mulheres na vida da República, ou "res publica". 
Julgo que podemos afirmar que e emergência de um novo ciclo de políticas para a igualdade, se abriu com os " Encontros para a Cidadania - a igualdade entre homens e mulheres"., realizados em diferentes regiões do mundo, entre 2004 e 2009, e agora continuados  em Encontros Mundiais de caracter periódico, numa parceria entre o Governo e a "sociedade civil", conforme o previsto na inédita Resolução nº 32/2010, proposta pelo então deputado pela Emigração José Cesário.
 
A AEMM, cujas fundadoras haviam estado, quase todas, na organização do 1º Encontro Mundial em 1985, ligou, de uma forma explícita, querida e afirmada, o seu destino a este processo histórico - e o tê-lo conseguido até ao presente reforça a vontade de se transcender em novas iniciativas e colaborações cívicas, levadas a cabo, como sempre aconteceu, em espírito de puro voluntariado e com o impulso de fortes convicções.
As políticas de género na emigração - e a AEMM pode bem testemunha-lo enquanto parceira de governos de diferentes quadrantes político partidários - são um exemplo de continuidade, de respeito pelos princípios constitucionais, vazados em boas práticas  - uma continuidade que é coisa rara em Portugal,  cuja vida pública é marcada pela tentação de destruir tudo o que vem do passado, por vezes até dentro do mesmo governo (com a simples mudança do titular da pasta), num quadro de permanente instabilidade, em rupturas e recomeços que significam tremendos desperdícios de meios e energias...
É, pois, muito bom poder, em contracorrente, nesta excepção à regra, prosseguir, com o Dr José Cesário, o trabalho encetado com o Dr. António Braga, com a Dra Maria Barroso. a Presidente  dos Encontros para a Cidadania, grande cidadã Portuguesa, que nos deu a honra de connosco ter estado, como inspiradora e aliada, desde o início.
20 anos, a perseguir a utopia igualitária!
 Utopia ainda, mas a permitir-nos falar em certezas de progresso, nas expressões femininas da cidadania, pondo em foco realizações e projectos, nos múltiplos domínios em que interagem  com os homens no espaço nas comunidades do estrangeiro. Na verdade,  o todo das comunidades, os homens, como as mulheres, não estão ausentes das nossas preocupações, porque o equilíbrio que desejamos é necessariamente construído também com eles`.
É a emigração toda que está no horizonte das nossas preocupações, nesta conjuntura dramática que atravessamos, perante um êxodo desmesurado em que as mulheres, pela primeira vez autonomamente, ombreiam com os homens, e os trabalhadores menos qualificados, com o melhor da "inteligentzia" nacional...
 
Os movimentos migratórios actuais  criaram novos estereótipos. que levam à negação da existência, ou, melhor, da coexistência de uma emigração de perfil tradicional, num eterno recomeço... Portugal é o "País das migrações sem fim", como eu não deixei de lembrar nos tempos em que nascia a AEMM e em que a "classe política", se me posso permitir esta generalização, acreditava que a adesão à CEE, com a sua promessa de desenvolvimento imparável, pusera termo a um fenómeno até então considerado como inelutável...
 
Vamos agora, ao longo de dois dias de diálogo,  reflectir e falar  sobre a emigração feminina, sobre as jovens envolvidas nestas grandes vagas migratórias  e, igualmente, sobre as que têm já um longo percurso nas comunidades, questionando a relação entre género e formas de expressão na política, no associativismo, nas artes, na prática empresarial...
É ainda cedo para sabermos se os que partem deixam o País para trás, ou o levam afectivamene consigo, se são "desistentes" ou "resistentes"...
As mulheres terão a palavra para fazer prognósticos sobre o seu futuro no movimento para o futuro das comunidades, enquanto parte integrante da nação portuguesa em diáspora.

Maria Manuela Aguiar

domingo, 22 de setembro de 2013

Uma grande lição do Prof Marcelo...

Uma grande lição ao aprendiz de político, que nos governa.
Se fosse um exame, o primeiro ministro tinha "chumbado" logo.
Falar de um 2º resgate, que absurdo!!!
 Até custa a acreditar que o tenha aventado,  mas todos o ouvimos, dentro e fora do País...

A Lei da Paridade nas eleições autárquicas

Quantas são as mulheres candidatas à presidência de Câmaras?... E quantas serão eleitas?
Disso, é certo, não cura , diretamente, a "Lei da paridade"....
 A sua imposição é quantitativa - garantindo que nas listas haja um mínimo de equilíbrio de género.
Para cumprir os ditames legais, as mulheres estão, em regra  no 3º,  6º ,  9º lugar das listas (e assim sucessivamente, em grupos de 3, em que raras vezes há 2 mulheres e um homem -  ou mulheres no 2º, 4º ou 7º lugar.....  Sinal de que se satisfaz uma obrigação, pura e simplesmente.  . Porque tem de ser...
Algumas eleitas, porém, depois, não chegam a tomar posse, ou são rapidamente substituídas pelos homens que se seguiam na ordenação da lista...
Fraude, mentira... Está por fazer o estudo da sua extensão - indispensável para alterar a lei no curso para uma aplicação correta e vinculativa dos princípios.
A lei a tal obrigava a AR. Mas também neste aspeto não foi cumprida.
Alertei para o facto, sempre que tive oportunidade, em  escritos, em colóquios. Uma voz a clamar no deserto...
Aqui fica, na véspera de novas eleições, a memória de uma dessas insistências - em início de 2013, durante um colóquio promovido pela Professora da Sorbonne Isabelle Oliveira, no Porto


 
Rever a Lei da Paridade é preciso!
Assim manda o artº 8 da própria Lei Orgânica nº 3/2006:
"Decorridos 5 anos sobre a entrada em vigor da presente Lei, a
Assembleia da República avalia o seu impacte na promoção da paridade
entre homens e mulheres e procede a sua revisão de acordo com essa
avaliação".
Já lá vão 6, quase 7 anos.
As autárquicas são agora ,em  2013 - e se há correcções a fazer para melhor cumprir os objectivos da legislação é, certamente, a este nível. Será que o legislador anda distraído?

 Foi a pergunta que fiz no recente encontro das "Mulheres em Movimento".




EDMUNDO MACEDO ESCREVE SOBRE DECO


O texto de um notável português, que, mesmo de longe, acompanha de perto tudo o que se passa no País, e gosta, verdadeiramente, do futebol e dos seus talentos.
Não somos do mesmo clube, mas conseguimos concordar em tanta coisa!
Sobre Deco, nomeadamente...  


Anderson Luís de Sousa, natural de São Bernardo do Campo, nesse fabuloso Brasil, tinha pés de seda! A seu favor, uma espécie de alavanca  invisível combinando perfeitamente com força mecânica e  -- senhores! -- eis seu Deco! Do Corinthians para o Benfica, o técnico do Benfica de então, Graeme Souness, "a errar a pontaria", pelo que empréstimo de Deco ao Alverca e depois um pulo até ao venerando Salgueiros. Mais uma vez Pinto da Costa deve ter visto qualquer coisa que mais ninguém na altura viu e vai daí, Deco pr'ó Porto! O mesmo Porto que parece andar há anos virado a sotavento deixando aos outros o barlavento! O mesmo Porto que já tivera o Hernani e o Pavão a cintilar como estrelas! O mesmo Porto da figura mítica chamada Barrigana! E que fez então o Deco? Fez futebol de sonho! Médio de ataque  -- os puristas de Manchester, Londres e Chelsea chamar-lhe-iam "attacking midfielder" --, pôs o Porto a jogar um futebol de compêndio, de cátedra, categórico, categórico no sentido de explícito e positivo. Seu Deco -- já se disse e nunca é demais repetir -- tinha pés de seda. Tão de seda que garantiam poupança da relva. Tão de seda que pareciam deslizar em superfície oleosa. Tão de seda que era um encanto vê-lo jogar.
E o futebol de seu Deco exibia traços de peça dramática teatral, exsudava coreografia, vertia elegância de cisne.
É tudo  -- e não é pouco -- sobre o futebol divinalmente rico de Deco!

Acima de Deco, quer dizer, melhores do que Deco, só Figo, Ronaldo e Eusébio? Não parece dedução razoável. Que tem o futebol-arquitecto-desenhador-pensador-de Deco  -- "attacking midfielder"  -- a ver com o futebol-decididamente-e-quase-exclusivamente-golo de avançados, de homens-golo como Figo, Ronaldo e Eusébio?

Edmundo Macedo
Los Angeles, Setembro 2013

terça-feira, 27 de agosto de 2013

DECO - as notícias de 27 de agosto, nos 3 jornais desportivos

Do meu FACEBOOK
Maria Manuela Aguiar Todos esses jornais reservam às notícias sobre DECO as duas páginas centrais, mas o conteúdo não é fantástico, não dá a Deco tudo o que Deco merece... Os depoimentos de Scolari e de Figo não são nada de especial (melhor o de Figo!). Mais interessantes os de "A Bola" (Pinto da Costa e José Manuel Freitas) e as "reações" de Fernando Santos e de Derlei. em "O Jogo". Francamente, gostei mais das palavras dos comentadores do programa da RTP Informação "Grande Área", sobretudo do Bruno. Disse que, na história da nossa seleção, só Eusébio, Figo e Ronaldo se podem considerar acima de Deco. Todos o colocam no Top 10 do nosso futebol, em todos os tempos. E falaram de uma seleção que rodava à volta do médio, de "génio" , de "qualidade absolutamente excecional".
 
Ficou, nesse programa, sem resposta a pergunta que muitos fazem:  DECO foi o melhor jogador da história do Porto? Só o fazerem a pergunta já significa imenso... Sei que a resposta é difícil - nenhum a quis dar. Mas eu não tenho dúvida: sim, DECO foi o melhor jogador da história do FCP, o melhor de todos quantos vi jogar em mais de 6o anos. E não só o melhor, nas suas qualidades individuais, mas também o mais influente no jogo da equipa. No Porto como na seleção nacional. Nem Figo, nem Ronaldo,  nem mesmo Eusébio foram tão decisivos na produção do jogo coletivo!

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

DECO A despedida do mágico

Deco e  a magia do seu futebol...
Um dos melhores jogadores de todos os tempos, em todo o mundo....
Ficam as saudades do seu incomparável virtuosismo, tão sumptuoso quanto discreto. A sua simplicidade e simpatia.no campo de jogo, como numa entrevista de televisão .E. certamente como na vida, que tem pela frente. Vedeta pelo mérito, anti-vedeta por idiossincrasia
 DECO para sempre no coração do Porto  e dos portistas.

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O meu 2013 em algumas imagens

Em Espinho, bons momentos passados em debates, palestras, apresentação de livros, tertúlias...







ESPINHO INAUGURAÇÃO DA BIENAL "MULHERES D' ARTES"

A inauguração, foi, tal como em 2011, antes de mais uma grande ocasião de encontro entre artistas e os seus admiradores e de diálogo com as obras expostas. Como sempre, tanta gente que as conversas eram interrompidas por mais um abraço e o olhar demorado sobre cada  tela, cada fotografia, cada peça, tinha de ficar adiado para os dias seguintes!
Até Setembro há tempo para isso, para repetir as visitas aquele espaço singular das Galerias do Museu, ainda povoado de visões femininas das artes, do mundo e do futuro.






quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Congresso em OUTUBRO


Para já o cartaz, com a assinatura do Dr. Tiago de Castro e a nota de qua há novas datas

24 e 25 de Outubro

Encontro sobre " migrações e artes no feminino"

 31 de MAIO de 2013
Forum de Arte e Cultura de Espinho
O Encontro que marca o início das comemorações do 20º aniversário da AEMM, com a presença do SECP Dr. José Cesário.



 

BIENAL "migrações e artes no feminino" / inauguração da exposição

 
 

Presença da Califórnia na Bienal "Mulheres d' Artes"

A Profª Deolinda Adão  trouxe a Portugal. numa visita de estudo, 15 dos seus estudantes das Universidades de Berkeley e de San José.
Espinho foi, pela 1ª vez, parte desse roteiro, num encontro que reuniu na Bienal os jovens com a Vereadora da Cultura Leonor Fonseca, com muitas das artistas, com dirigentes da Associação de Estudos Mulheres Migrantes e com professores e alunos da Escola Domingos Capela.
Largas dezenas de participantes, uma introdução de Deolinda Adão e, depois, um debate animado,
Um dia para recordar, uma iniciativa para repetir no próximo verão, ainda que fora do contexto da bienal.
Aqui ficam as palavras de Deolinda Adão nesse 26 de julho de 2013

"Agradeço à Dra. Manuela Aguiar que se disponibilizou para ajudar a organizar este evento no âmbito da bienal de "Arte no Feminino", à Dr. Leonor Fonseca, Vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Espinho ambas membros da comissão de Honra da 2ª Bienal Mulheres d'Artes, que pôs em prática esse pedido e em poucos dias organizou este evento no qual nos honra participar. Agradeço também às artistas aqui presentes que em realidade representam os milhares de mulheres portuguesas produtoras de arte, nas mais variadíssimas vertentes e com diversas representações.
Há séculos que mulheres produzem arte, embora o reconhecimento dessa produção é relativamente recente. Quase desde o início da humanidade muita da tarefa feminina exigia que elas quotidianamente desenvolvessem de uma forma ou outra uma atividade artística. Desde as maquilhagens e máscaras primitivas, até aos complexos penteados e ornamentações de vestuário. Já para não falar de utensílios e roupas domésticas. As nossas rendeiras, bordadeiras, tecedeiras, e demais artesãs são perfeitos exemplos de artistas anónimas que por séculos tem contribuído para o embelezamento do dia a dia, das suas famílias e da sua sociedade em geral.

Passaram séculos de anonimato até que a produção artística feminina começasse a ser reconhecida com tal, ou seja como produção artística e começasse a ser inserida no Canon Universal.  A mulher que produz arte, seja em que vertente for, é em primeira instância apenas isso - uma artista. A particularidade do seu género, é apenas isso uma particularidade. Assim, é com muita alegria que participamos na segunda bienal de Mulheres d'Artes, em que se apresenta arte unida entre si pela particularidade de ter sido produzida por mulheres.

Esta produção artística de mulheres, para além da sua vertente universalista, está frequentemente marcada pela feminilidade e pela dialética feminina, que pode por vezes incluir a forma como a mulher dialoga com as condições sociais associadas à sua posição na sociedade, e particularmente neste caso dentro dos condicionamentos impostos a mulher dentro da tradição paternalista da cultura portuguesa. A produção artística é sempre uma apoderação de agência, um processo de autorrepresentação e uma afirmação do eu, seja este privado ou coletivo. Esta apropriação, este ato construtivo é sempre uma audácia, um ato heroico, uma emancipação, enfim uma autoconstrução, um auto parto. Ser mulher artista, é muito mais que ser simplesmente mulher ou simplesmente artista. É ser o veículo que altera os parâmetros de feminilidade vigentes e que insere a mulher na esfera do Universal e transporta a sua produção artística milenar desde a escuridão do espaço doméstico para a visibilidade da esfera pública. Esta bienal que aqui se realiza por segunda vez em Espinho, é evidencia inequívoca de que a arte produzida por mulheres está permanentemente e inequivocamente inserida na esfera pública, tem a luz dos sois que dão brilho ao universo artístico e dão mais brilho e beleza às nossas vidas e à humanidade.
Obrigada"
 
Nós,  todos os que, em Espinho, tivemos a sorte de participar no Encontro, é que estamos muito gratos à Doutora Deolinda e aos alunos, que, com ela, vivem a aventura da cultura portuguesa em terras portuguesas,


 

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

A Univ de Berkeley na Bienal - Deolinda e o grupo de estudantes da Califórnia

 Espinho -  26 de junho, 2013

Agradeço à Dra. Manuela Aguiar que se disponibilizou para ajudar a organizar este evento no âmbito da bienal de "Arte no Feminino", a Dr. Leonor Fonseca, Vereadora da Cultura da Camara Municipal de Espinho ambas membros da comissão de Honra da 2ª Bienal Mulheres d'Artes, que pôs em prática esse pedido e em poucos dias organizou este evento no qual nos honra participar. Agradeço também as artistas aqui presentes que em realidade presentam os milhares de mulheres portuguesas produtoras de arte, nas mais variadíssimas vertentes e com diversas representações.
Há séculos que mulheres produzem arte, embora o reconhecimento dessa produção e relativamente recente. Quase desde o inicio da humanidade muita da tarefa feminina exigia que elas quotidianamente desenvolvessem de uma forma ou outra uma actividade artística. Desde as maquilhagens e mascaras primitivas, ate aos complexos penteados e ornamentações de vestuário. Já para não falar de utensílios e roupas domesticas. As nossas rendeiras, bordadeiras, tecedeiras, e demais artesas são perfeitos exemplos de artistas anónimas que por séculos tem contribuído para o embelezamento do dia a dia, das suas famílias e da sua sociedade em geral.

Passaram seculos de anonimato ate que a produção artística feminina começasse a ser reconhecida com tal, ou seja como produção artística e começasse a ser inserida no Canon Universal.  A mulher que produz arte, seja em que vertente for, e em primeira instância apenas isso - uma artista. A particularidade do seu género, e apenas isso uma particularidade. Assim, e com muita alegria que participamos na segunda bienal de Mulheres d'Artes, em que se apresenta arte unida entre si pela particularidade de ter sido produzida por mulheres.

Esta produção artística de mulheres, para além da sua vertente universalista, está frequentemente marcada pela feminilidade e pela dialéctica feminina, que pode por vezes incluir a forma como a mulher dialoga com as condições sociais associadas a sua posição na sociedade, e particularmente neste caso dentro dos condicionamentos impostos a mulher dentro da tradição paternalista da cultura portuguesa. A produção artística e sempre uma apoderarão de agencia, um processo de autorrepresentação e uma afirmação do eu, seja este privado ou colectivo. Esta apropriação, este acto construtivo e sempre uma audácia, um acto heroico, uma emancipação, enfim uma autoconstrução, um auto parto. Ser mulher artista, e muito mais que ser simplesmente mulher ou simplesmente artista. E ser o veiculo que altera os parâmetros de feminilidade vigentes e que insere a mulher na esfera do Universal e transporta a sua produção artística milenar desde a escuridão do espaço domestico para a visibilidade da esfera publica. Esta bienal que aqui se realiza por segunda vez em Espinho, e evidencia inequívoca de que a arte produzida por mulheres esta permanentemente e inequivocamente inserida na esfera publica, bem a luz dos sois que dão brilho ao universo artístico e dão mais brilho e beleza as nossas vidas e a humanidade.

Obrigada

domingo, 21 de julho de 2013

DESACORDO DE SALVAÇÃO NACIONAL


Dentro de 5 horas vai falar o PR Cavaco Silva...
Se eu estivesse no lugar de uma amiga ou assessora, o que lhe poderia dizer?
Depois das confidências públicas no território pátrio das Selvagens, do seu inabalável, sorridente e público optimismo - ouvido certamente o ilustre informador presente nas reuniões tripartidárias -diria que melhor seria manter o governo (na versão remodelada, como é evidente....)  e valorizar ou sobrevalorizar o diálogo que impôs ao longo de  uma memorável semana. Isto é, adoptar o paradigma do Presidente Sampaio  versus governo Santana, impondo condições para coexistir com o governo - neste caso, impondo ao mais autista de todos os primeiros ministros de Portugal o "dever de diálogo"..

segunda-feira, 24 de junho de 2013

UMA NOVA ESPERANÇA PARA O FCP

Excelente entrevista a de AVB  em "O Jogo" de hoje. No futebol há o chamado "mister"... e, de longe a longe, acontece que o "mister" é um "gentleman" (eu gosto de usar palavras inglesas quando se trata de "football" - uma espécie de saudosismo, porque sou do tempo em que se dizia "corner", "off-side", penalty",  "keeper", "goal average", ainda que com pronúncia portuguesíssima...)
ABV é, a vários títulos, um verdadeiro "gentleman", pela educação, pelos seus princípios éticos, postos em boa prática,, pela natural simpatia. O meu treinador ideal!
Mas confesso que vejo o novo treinador do FCP, com a esperança de que pertença a esta rara categoria...
Bom pronúncio os retornos de Jorge FUCILE e de ITURBE.
FUCILE, quer no FCP quer na selecção do Uruguai, já deu muitas provas de que é um dos melhores defesas laterais do mundo.  E ITURBE parece-me um talento à espera de quem o compreenda!

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Quem (não) tem medo de quem?

Estranhei ouvir o Primeiro Ministro de Portugal dizer que não tem medo dos Portugueses...
(E esse não é problema que me preocupe).
O mais importante é perguntar se os Portugueses têm medo do Primeiro Ministro.
Hoje mesmo, na televisão, Manuela Ferreira Leite, comentando os dados do INE, falava de "números assustadores" . E, pouco tempo depois, noutro programa, Pacheco Pereira dizia que "criar medo nas pessoas" é uma forma de governar deste Executivo.

sábado, 25 de maio de 2013

Encontro de Mulheres d Artes em Espinho (Museu Municipal - 31 de Maio)

A AEMM vai comemorar durante 2013 o seu 20º aniversário, promovendo, à semelhança do que foi  acontecendo ao longo de duas décadas, uma sequência de colóquios e encontros para debate das questões de igualdade de género em contexto migratório . "Expressões da cidadania no feminino" será o tema recorrente, que procurará pôr em foco a realidade da vida e obra das mulheres em diferentes domínios da cultura, da intervenção cívica e política, da diplomacia, do empreendedorismo económico.
O primeiro encontro realiza-se em 31 de maio, em Espinho, integrado na II Bienal "Mulheres d' Artes, promovido pela Câmara Municipal de Espinho e será uma oportunidade  de ouvir as próprias artistas sobre interrogações a que é importante dar resposta, tais como: Há uma relação entre género e expressão artistica? O que ganharam, neste particular domínio, as mulheres migrantes na sua itinerância por vários universos culturais? Que importância atribuir às Artes como formas de intervenção e afirmação cívica e humana?
 O Encontro no Museu Municipal de Espinho que reune muitas artistas oriundas da diáspora, é uma parceria com a Câmara Municipal e com o  jornal "As Artes entre as Letras" e contará com a presença do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas  Dr José Cesário e de Deputados da Emigração.
 

terça-feira, 21 de maio de 2013

Um exemplo de "fair play" que vem da Califórnia, de um amigo que conheço e admiro há mais de 30 anos!

Escrevi  há dias que há qualquer coisa com o Futebol Clube do Porto que transcende  o Futebol Clube do Porto! E há!  Tanto assim é que no ultimo Domingo, de Paços de Ferreira,  chegou ao seu nicho perpétuo e exclusivo na Nobre Cidade Invicta mais um luzido Troféu  --  beijado mil vezes durante a curta viagem -- ,  que veio afagar os portistas com a maviosidade de um “oceano de algodão”,  fazendo-os sentir melhor de alto a baixo, por fora e por dentro, abrindo-lhes o apetite sem os ares do Caramulo, incitando-os a sorrir “à Hollywood”, ajudando-os a adormecer como santos,  aliviandolhes a depressão sem recurso ao comprimido.
Sei o que digo porque, por exemplo, nos anos 60 do século passado  -- graças ao meu gloriosíssimo Sport Lisboa e Benfica e não obstante haver  decorrido uma “eternidade -,  recordo-me de haver sentido a mesma doçura do tal oceano de algodão a afagar-me, a convidar-me  a dormir como bebé, a escudar-me contra o temível prejuízo do abatimento moral, pois os campeonatos, as grandes vitórias e a superioridade nos estádios brotavam  em jorro desse meu inesquecível e tão saudoso Benfica. E eu, graças ao inigualável e imortal Eusébio -- e quejandos --  sentia-me no Everest …
E o Futebol Clube do Porto, a meu ver, conquistou a nossa última prova maior  com pezinhos de lã, assim como quem não quer a coisa, como se nunca quisesse ganhá-la, deixando para o fim, quase até o ultimo instante, o assalto letal à carótida,  a erupção vulcânica,  o dramatismo da peça teatral,  não sem que do Dragão não tivesse soprado, ora hoje ora amanhã, como “aviso à navegação”, um escaldante “siroco”, anunciando a probabilidade de nova conquista, determinada inexoravelmente ou por inelutável fatalismo ou pela real valia do competidor. Prevaleceu a última.

Com o abraço de sempre de um vaidosíssimo benfiquista, filho de um Portista, para uma apaixonadíssima portista, filha de um Portista.

Edmundo Macedo

21 de Maio de 2013

domingo, 19 de maio de 2013

PORTO, PORTO, PORTO Azul Vitória, Azul História, Azul Memória

O futebol bem jogado é sempre um espectáculo de incomparável beleza! O futebol bem jogado pela nossa própria equipa  é, porém, muito mais ainda - é a nossa vida, a nossa felicidade, a nossa realização pessoal. Eles, os que estão em campo e nós, os que estamos com eles, somos um todo.
Eu sou do Porto desde sempre e para sempre. ´
Sou do Porto que não ganhava campeonatos quando eu era menina, exactamente como sou deste Porto que superou, em fantásticas vitórias nacionais e internacionais, os meus sonhos e expectivas desse outro tempo, nesse outro Portugal...
As glórias vividas no Estádio do Dragão não fazem esquecer as emoções vividas no Estádio das Antas - com o meu Pai, a quem devo o ser portista como sou. porque me levava consigo,  a ver o Porto jogar (uma bancada central onde a presença feminina era, então, uma raridade...).
Por isso, a memória do meu Pai está sempre comigo, nestes dias absolutamente perfeitos em o FCP nos dá "mais uma alegria, mais uma vitória", mais um título, mais um campeonato !










quinta-feira, 16 de maio de 2013

Na TV, hoje

A admirável mensagem do Papa Francisco.
 As palavras corajosas de Manuela Ferreira Leite.

domingo, 5 de maio de 2013

Dois Políticos, dois discursos, um comentário

Comentário do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, neste 5 de Maio,  sobre a qualidade dos discursos de Passos Coelho e Paulo Portas. Tem a minha inteira concordância!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

ASAS em VILLA ELISA

Ontem, em Villa Elisa, uma nova Academia Senior de Artes e Saberes deu um primeiro passo -om  um primeiro convívio uma primeira aula! Num centro de reunião  onde se encontram portugueses e argentinos, fraternalmente.
Parabéns à Associação Mulher Migrante da Argentina e a Maria Violante Martins pela iniciativa.
Não duvido da capacidade de realização, de crescimento, no entusiamo que vai transmitir a outras associações

sábado, 2 de março de 2013

Intervenção co colóquio "Mulheres em Movimento" - Porto 2013


Feminism is the radical notion that women are people


1 - UMA FAMÍLIA ESTIMULANTE


Sou feminista desde que me lembro de ter opiniões sobre o assunto...

Comecei cedo, com 5 ou 6 anos, e para isso muito contribuiram as Avós,
especialmente a Avó materna Maria (Aguiar), uma verdadeira matriarca,
que ficou viúva, com 7 filhos, aos 36 anos e se tornou líder não só na
sua casa, como na sua terra. Pertencia à Obra das Mães, às
organizações da paróquia, às associações culturais. Era uma senhora
muito bonita, muito inteligente e muito conservadora. Em nome das boas
maneiras e do recato feminino, que tanto prezava, apesar da sua
respeitável proeminência, dizia-me, vezes sem conta, "as meninas não
fazem isso" - "isso" sendo por exemplo, subir às árvores, saltar dos
eléctricos em andamento ou jogar futebol com os primos... Eu sabia que
gozava do estatuto de neta favorita e gostava imenso da Avó, mas não
seguia esses seus conselhos.

O plural: "as meninas", levava-me a reagir. Achava que devia mostrar
que as "meninas" eram tão capazes como os rapazes de "fazer isso" e
partia para o demonstrar no dia a dia. Era, pois, uma feminista
praticante, com uma emergente consciência da existência das questões
de género ...

Curiosamente, os homens, Pai e Avó Manuel, eram fãs das minhas proezas
desportivas, tanto como das escolares. Sempre me incentivaram a
estudar e preparar o futuro profissional. Nunca o

paradigma da "dona de casa" esteve nos meus horizontes, ou nos seus.
Pelo contrário: punham em mim, a meu ver, excessivas expectativas....
E assim, graças a eles,o meu feminismo esteve "ab initio" na linha de
pensamento de uma Ana de Castro Osório, mesmo que, nesse tempo, não
conhecesse sequer o seu nome (como aquele personagem que fazia prosa
sem saber...). Os homens foram, de facto, aliados - muitos, incluindo
numerosos tios e primos, e, mais tarde, os meus professores da

Faculdade de Direito de Coimbra.

Tive uma infância divertida e feliz, numa família unida e convivial,
apesar de politicamente dividida. Uma tradição que vinha de trás -
houve, sucessivamente, regeneradores e progressistas, monárquicos e
republicanos, salazaristas e democratas, germanófilos e anglófilos
(como eram os meus Pais). A política estava bem presente, em acesas
discussões sem fim, mas nunca ninguém se zangava. Consideravam os
outros "gente de bem", por mais extremadas que fossem as suas
opiniões. Tendo a atribuir mais a essa experiência vivida do que à
idiossincrasia a ausência de preconceitos partidários em relação a
quem não pensa.como eu. E, possivelmente, também o gosto pela
argumentação, pela entusiástica defesa de pontos de vista, uma
sensibilidade a formas de injustiça como as assimetrias regionais, o
despertar para um saudável regionalismo nortenho, a par da paixão pelo
Porto (e pelo FCP)...

Outra forum de "convívio e debate" determinante foi a escola - dois
anos na pública, sete anos de Colégio do Sardão (um internato de
religiosas Doroteias), dois anos de Liceu. Costumo comparar o colégio
a um quartel elegante, onde prestei uma espécie de "serviço militar
obrigatório". Não foi, de facto, uma opção voluntária, mas, com a
excelência do ensino e, sobretudo, das estruturas desportivas,
ginásio, campos de jogos, parques e largos espaços de recreio, posso
dizer que lá passei muitos bons momentos. Organizava competições
desportivas (incluindo futebol clandestino), dirigia peças de teatro,
escrevia crónicas e romances que partilhava com as colegas, dava
largas à imaginação e à energia. Uma dessas crónicas, que pretendia
fazer humor à custa da instituição, suas regra e poderes constituidos
foi apreendida, e quase provocou uma expulsão mesmo nas vésperas do
exame do antigo 5º ano. Não seria a primeira da família a passar por
isso, mas escapei, suponho que com a interferência do capelão e de
algumas das Madres, que me compreendiam e me achavam graça... Mas eu
quis mudar para o Liceu Rainha Santa Isabel, no Porto, contra a
vontade do Pai, que me vaticinava toda a espécie de retrocessos
escolares, que tinham desabado sobre ele, quando depois de 10 anos de
Colégio dos Carvalhos se viu "à solta" no Liceu Rodrigues de Freitas.
A história não se repetiu, pelo contrário. Bati todos os recordes
pessoais no exame de 7º ano e ganhei, pelo bem-amado Liceu, o prémio
nacional.

De qualquer modo, foi no Sardão que vivi a minha primeira batalha
política - ou político-sindical. E um "enclausuramento" que me fazia
apreciar mais os fins de semana e as férias de verão em Espinho, como
espaço e tempo de liberdade...

Frequentava com o Pai o estádio das Antas, com os Pais e o Avô os
cinemas e teatros e, também, os cafés do Porto, coisa invulgar na
época para o sexo feminino, de qualquer idade...


COIMBRA ANOS 60


Em Coimbra, era também à mesa dos café que estudava, que convivia e
bradava contra as discriminações em que continuava fértil a sociedade
portuguesa de 60. ..

No Tropical, no Mandarim, no bar da Faculdade de Letras ou de Farmácia
encontrava-me com colegas, com assistentes, pouco mais velhos do que
eu, embora bastante mais sábios, como era o caso do Doutor Mota Pinto,
que viria a ser o responsável pelo meu tirocínio na política.

Eu falava abertamente, contestava leis e costumes. A leitura do Código
de Seabra era um pesadelo - a "capitis diminutio" da mulher casada,
que era a expressão latina para a escravidão feminina subsistente
2.000 anos depois, só podia alimentar sentimentos de revolta, a
revigorar um feminismo que, por oposição à situação portuguesa, ia
ganhando base doutrinal na social-democracia sueca.

O tema da igualdade de sexos não estava na agenda política de 60 - e
ainda hoje não está suficientemente...

Em todo o caso, na altura soava mais a radicalismo e excentricidade.
Esperava tudo menos que, anos e anos mais tarde, essa faceta pudesse
pesar, como creio que pesou, numa mudança de rumo, que pôs fim a
escolhas profissionais assentes (assistente de um Centro de Estudos
Sociais, assessora do Provedor de Justiça).

Sempre sonhei com uma carreira jurídica. A magistratura estava-me
vedada por ser mulher Queria ser advogada, uma espécie de Perry Mason
portuguesa. Era no terreno jurídico que queria competir, não no da
política. Direito era, então, um curso de perfil masculino, com um
corpo docente sem uma única mulher e com mais de 80% de alunos homens.
No meu livro de curso, conto 63 homens e 12 mulheres. Entre elas há
excelentes advogadas e juristas, mas, das 12, na política só eu, e
acidentalmente... Dos 63, foram muitos os que, no pós 25 de Abril, se
distinguiram em Governos da República - Daniel Proença de Carvalho,
Laborinho Lúcio, António Campos, Luís Fontoura, João Padrão... Ou que
são vozes autorizadas no domínio em que se cruza o Direito com a
Política, como Gomes Canotilho ou Manuel Porto, ou com as Letras, como
Mário Claudio ou José Carlos Vasconcelos...

Ao fim de 5 anos felizes, eu trazia de Coimbra apenas um pequeno
trauma: na única eleição a que concorri, pelo Conselho de Repúblicas,
para uma qualquer comissão, cujo nome nem recordo - só sei que dava
acesso à direcção da Associação Académica - perdi num colégio
eleitoral que era 100% feminino. Coisa natural, porque a maioria das
meninas era conservadora, mas eu assumi pessoalmente a derrota e
covenci-me de que não estava mesmo nada vocacionada para tais
andanças...


3 - A FORÇA DO IMPREVISTO


Na história dos antecedentes da minha relutante ocupação de cargos
políticos, estava já a força do imprevisto: primeiro uma proposta para
assistente de sociologia na Universidade Católica que veio da parte de
um professor que não conhecia, o Doutor Àlvaro Melo e Sousa ( um amigo
comum indicou-lhe o meu nome, na altura em que acabava de regressar de
Pari, com uns certificados na matéria). Foi preciso ele insistir, mas
acabei por dizer o sim - e não me arrependi. Esse facto tornou mais
fácil aceitar um segundo desafio lançado pelo Professor Eduardo
Correia, para a recém.criada Faculdade de Economia em Coimbra da qual
ele era o director. Confesso que nem sabia da abertura efectiva dessa
Faculdade... Foi um encontro acidental, num colóquio. Quando me viu
achou boa ideia associar-me ao empreendimento. Não houve hesitação da
minha parte. Que bom voltar a Coimbra! Tomei posse na véspera do 25 de
Abril de 1974. Na semana seguinte, Eduardo Correia era Ministro da
Educação do 1ª Governo Provisório e, pouco depois, um novo encontro
com outro dos grandes juristas do nosso século XX, o Professor, Ferrar
Correia, em pleno pátio da universidade, à sombra da torre, levou-me
para a minha própria Faculdade. Ao saber que estava ali ao lado, na
Economia, convidou-me, de imediato, a transitar para Direito e eu
aceitei tão depressa, que ele até julgou que eu julgava que ele
estava a brincar. Não era o caso, era mesmo questão de feitio. Decido
assim muitas vezes no que exclusivamente me respeita. E ali e então
não havia que pensar duas vezes!...

Guardo boas memórias de todas as passagens pelas funções docentes, na Universidade
 Católica, na Universidade Aberta, (num curso de mestrado cheio de jovens "promessas"),
mas aquela tinha um significado muito especial - o convite chegava com
atraso, mas chegava... Quando acabei o curso, em 1965, as mulheres
estavam barradas do ofício - tinha havido uma, não existia impedimento
legal, mas a prática era essa. Entretanto mudara, mas não me lembro
de nenhuma colega - só homens e, quase todos, óptimos colegas, como o
Fernado Nogueira ou o Cordeiro Tavares. Dez anos mais novos do que eu,
o que me ajudou a rejuvenescer. Fui assistente de dois grandes
juristas, o Doutor Rui Alarcão e o Doutor Mota Pinto.

Os tempos agitados são-me geralmente favoráveis - como estudante
dei-me bem em Paris, no pós Maio de 68, e o mesmo posso dizer de
Coimbra, no pós 25 de Abril. Há coisas que seriam impensáveis fora de
períodos revolucionários, e que fiz, sem oposição de ninguém, como dar
aulas "extra muros", aos voluntários do Porto ou aulas práticas, a
turmas naturalmente pequenas, no bar de Farmácia, ao ar livre, em dias
de sol. Saíamos, em cortejo, dos "Gerais", já a falar das matérias,
como os peripatéticos. Esclarecia dúvidas, exactamente como se
estivessemos numa daquelas escuras e frias salas de aulas. E, depois,
analisávamos o PREC. Os rapazes (ainda em maioria) eram quase todos de
outros quadrantes ideológicos, mas isso não obstava ao ambiente de
tertúlia. Em 1975/76 dei aulas teóricas de Introdução ao Estudo de
Direito a salas cheias de "caloiros" simpáticos. Um dever e um
prazer.

E refiro tudo isto, porque julgo que foi esta segunda estada em
Coimbra que me abriu as portas da política. Antes de mais, porque
reatei, naquele preciso momento da nossa História, o relacionamento
próximo com amigos que estavam no centro da fundação de partidos (em
particular do PPD) e da criação de um regime democrático, E, por
outro lado, porque descobri que era capaz de comunicar em público -
eu, que me considerava fadada apenas para trabalho de gabinete.

Anos mais tarde, ao fazer um levantamento do perfil profissional das
mulheres mais activas do PSD, descobri que, sobretudo a nível local,
havia um grande número de professoras. A meu ver, não era
coincidência, mas a consequência de uma maior auto-confiança do que a
que se consegue em outras funções... No meu caso, não tenho dúvida de
que me transformou o suficiente para admitir a hipótese de enveredar
pela exposição nos palcos da política. Que não para a planear... Na
verdade, o convite que o Primeiro Ministro Mota Pinto me dirigiu para
a Secretaria de Estado do Trabalho, uma daquelas que eram vistas como
coutada masculina, foi um absoluto imprevisto. E o Doutor Mota Pinto
usou o argumento decisivo: "se recusar, não haverá mulheres no meu
Governo". Depois da mera combatividade verbal, era a hora de agir....

Estávamos em fins de 1978. A ousadia da minha designação valeu ao
Professor Mota Pinto um rasgado elogio de Marcelo Rebelo de Sousa num
editorial do Expresso, que ainda guardo na pasta de recortes e na
memória.

Sendo defensora do sistema de quotas, assumi-me como a "quota mínima"
daquele Executivo, que veio a integrar outra Secretária de Estado na
área mais tradicionalmente feminina da Educação...

Sabíamos que a missão era de curto prazo - um governo de independentes
de nomeação presidencial, que não cedia nem a pressões de rua nem a
influência de máquinas partidárias, algumas já então poderosas. Na
minha opinião, foi um governo que se impôs, ganhou credibilidade e,
por isso, durou ainda menos do que o esperado... Os partidos trataram
de se entender para o derrubar. Foram 9 meses intensos e formidáveis,
findos os quais voltei para a Provedoria de Justiça, que, com o Dr
José Magalhães Godinho como Provedor, era o melhor lugar de trabalho à
face da terral. Para mim, o Dr Godinho representava um conjunto de
legendários tios republicanos, com quem nunca tive as conversas que
pude ter com ele. Era família - não aquela em que se nasce, mas a que
se faz tão raras vezes na vida.

Até que novo imprevisto sobreveio: em janeiro de 1980, logo depois da
posse do VI Governo Constitucional, um telefone do Primeiro Ministro
Sá Carneiro, que não conhecia pessoalmente, mas com quem me
identificada, porque, como afirmou numa entrevista a Jaime Gama, e
era "social-democrata à sueca".( É por isso que, sem ter filiação
partidária antes de 80, me considerava PPD "avant la lettre", ou seja,
Sácarneirista desde 1969).

Pelo telefone, Sá Carneiro, foi sintético e breve a marcar um encontro
para as 5.00 horas da tarde - audiência para o qual eu parti inquieta,
mal penteada e mal vestida, como andava normalmente. E se ele fosse
pessoa distante e pouco simpática? Se com isso arrefecesse a minha
"condição de incondicional" de tudo o que dizia e fazia? Grande
preocupação... Quanto ao que me esperava, isso já não era assim tão
misterioso, porque os jornais falavam do meu nome para várias pastas.
Sá Carneiro recebeu-me à hora exacta - não cheguei a sentar-me na sala
de espera. Com um sorriso luminoso, que começava no seu olhar claro!
Assim sempre o recordo, em todos os encontros que se seguiram. Quando
a ele me dirigi pelo seu título de chefe do Governo, atalhou: "Não me
chame Primeiro Ministro". Ao que eu respondi: "Desculpe, mas é como o
vou chamar, porque me dá imensa satisfação que seja Primeiro-
Ministro,e esperei anos para o poder tratar assim".

Mas, tratamento cerimonioso àparte, a conversa tomou o rumo de uma
alegre informalidade.

Dei respostas um pouco insólitas, no tom que tantas vezes usei com
outros políticos de quem era amiga de longa data. Sá Carneiro fez-me
sempre sentir absolutamente à vontade. Parece que havia quem ficasse
inibido na sua presença. Eu, pelo visto, ficava eufórica.

O Doutor Sá Carneiro, ele próprio, era, assim, uma esplêndida
surpresa. A outra surpresa veio do pelouro que me propôs: a
emigração, num Ministério onde nunca tinha entrado, o de Negócios
Estrangeiros.

No governo da AD, em 1980, havia apenas três Secretárias de Estado,
uma de cada um dos partidos, a Margarida Borges de Carvalho pelo PPM,
a Teresa Costa Macedo pelo CDS e eu pelo PSD (num impulso, filiei-me
nessa altura). Ainda a "quota mínima", tripartida...

A emigração, ou melhor dizendo, a Diáspora Portuguesa,( porque falo da
que tem uma estrutura orgânica, uma vida própria, colectiva, imersa na
nossa cultura e um futuro que talha com a preservação da herança
cultural) foi uma esplêndida descoberta - andava de comunidade
distante em comunidade distante, sempre e reencontrar-me em Portugal -
um fenómeno por mim insuspeitado de extra-territorialidade da nação.
Um mundo associativo espantoso, embora um mundo de homens. Eu era a
primeira mulher que junto deles aparecia, como face do governo da
Pátria.Se tinha dúvida quanto à reacção que provocaria, logo os
receios se desvaneceram - receberam-me sempre com alegria, com
simpatia. Não fiz unanimidade, é claro, mas os afrontamentos que houve
foram sempre devidos a questões políticas, não a questões de género.
Trataram-me tão bem, que me deram o que mais me faltava: um superávide
de confiança. Mesmo nas hostes ideologicamente adversárias encontrei
quase sempre boa vontade para trabalho conjunto, até no, por vezes,
agitado Conselho das Comunidades, que me coube organizar e presidir,
desde1981 (era então um forum associativo, de perfil masculino,
politicamente dividido entre uma Europa mais contestatária e uma
Diáspora transoceânica mais próxima das posições do governo´).

Na verdade, acredito que ser mulher tornou bem mais fácil a minha
missão. Logo em 82, quem me fez ver isso, de uma forma bem divertida,
foi um jornalista de S Diego, o Paulo Goulart. No fim de uma
entrevista, ao almoço, disse-me: "Sabe, aqui só há dois políticos de
quem gostámos: é de si e do João Lima". ( João Lima, antigo Secretário
de Estado da Emigração era, então, deputado pelo PS). Fez uma pausa,
como quem avalia e compara os seus dois eleitos e acrescentou:
"Pensando bem, o João Lima até tem mais valor, porque é homem e
socialista".

Achei muita graça à sua franqueza. Na América ser socialista, de
facto, assusta e não dá votos... E também é verdade que, em certas
situações, mesmo na vida política ,mesmo em ambientes dominados pelo
poder masculino, é uma vantagem ser Mulher... Porque é a "exótica"
excepção? Porque há no fundo, um reconhecimento de que as mulheres
fazem falta? Muitas hipóteses, para uma só certeza: no meu caso, senti
simpatia, adesão e apoio desde o 1º momento, de um sem número de
homens influentes e de algumas raras mulheres, que já se faziam ouvir.

Quando deixei o governo, depois de cinco sucessivas experiências -
sendo a última aquela em que os Secretrários de Estado passaram a ser
considerdos "adjuntos de ministro"... - o imprevisto estava, de novo,
à minha espera na AR, onde tinha o meu lugar pelo círculo do Porto.
Um convite para ser candidata à 1ª Vice-Presidência da Assembleia.
Aceitei, como aconteceu anteriormente, não muito segura de me sair
bem na responsabilidade da representação feminina... Fui, assim, a 1ª
Mulher a presidir às sessões plenárias do parlamento, à Conferência de
líderes, a Delegações parlamentares - ao Japão, para começar...

Após 4 anos nesse cargo que, enquanto não assumido por uma mulher,
tinha sido sempre mais discreto, apesar da sua importância protocolar
(2ª figura na linha da sucessão do Presidente da República, "en cas de
malheur"...) sucedeu-me Leonor Beleza. Mas o País teria ainda de
esperar um quarto de século por uma Presidente da AR, escolhida pelo
mesmo partido, que é contra as quotas mas aposta na alternativa do
pioneirismo na abertura de oportunidades ao que eu chamo "mulheres de
excepçã"o...

Só em 1991, me propus, eu própria, como voluntária, para um lugar
que verdadeiramente queria: representante da AR na APCE (Assembleia
Parlamentar do Conselho da Europa). Aí, me mantive até abandonar o
Parlamento nacional em 2005. Fui bem mais feliz e bem sucedida fora do
que dentro de fronteiras (tanto na emigração como nas organizações
internacionais, a APCE. e a AUEO...). Aí havia menos jogos políticos
de bastidores, não se sabia o que era disciplina partidária, era larga
a margem de iniciativa pessoal, para intervir, para propor
recomendações... Presidi à Comissão das Migrações à Subcomissão da
Igualdade e a outras, fui relatora em inúmeras propostas. Defendi a
dupla nacinalidade, o estatuto dos expatriados, a não expulsão de
imigrantes, o reagrupamento familiar, insurgi-me contra a guerra do
Iraque, denunciei a discriminação de género no desporto... Acabei a
presidir, entre 2002 e 2005, à própria delegação Portuguesa à APCE e
á Assembleia da UEO.

Um outro inesperado e insistente convite me levou, depois, à vereação
da Câmara da cidade onde vivo, Espinho... Fui vereadora da Cultura no
ano do centenário da República e isso permitiu fazer coisas diferentes
e por o enfoque no movimento feminista e republicano. Não que eu seja
republicana hoje, mas tenho a ecrteza que o teria sido em 1910, na
companhia da Carolina Beatriz Àngelo, Ana de Castro Osório ou Adelaide
Cabete. E feminista sou-o no sentido preciso que lhe davam as nossas
sufragistas.

Também nunca tive complexos de inferioridade por prenche,
eventualmente,r um espaço aberto pela "quota" , mais ou menos larvada.
No meu caso, nunca explicita, nem mesmo no cargo de VP da AR e sempre
rejeitada como tal pelos opositores das quotas do meu partido. Quando
eu dizia: "escolheram-me para Vice-Presidente da AR, porque queriam
uma Mulher" (o que para mim era evidente, estava certo e só pecava por
ser decisão tardia), respondiam-me:

"Manuela, não diga isso! Está nas funções pelo seu mérito"

O meu mérito não era coisa que eu fosse discutir!... Discutia, sim, o
mérito do sistema de quotas, que em nada contende com o valor ou
capacidade pessoal, antes pelo contrário o pressupõe, mesmo quando,
porventura, errando. Mas erros de "casting" não faltam também, e são
muito mais comuns, no caso de políticos promovidos pelas máquinas
partidárias, à maneira tradicional.


PELA PARIDADE, PELAS QUOTAS


Com este tema recorrente, vou terminar a minha intervenção longa....

Quando há avaliações objectivas dos candidatos, o sistema de quotas é
gritantemente inaceitável! No acesso às universidades, por exemplo,
são escolhidos os melhores alunos, os que têm melhores notas. Por
sinal, são mulheres, mas aí, se não fossem, não seria justo nem
legítimo intervir .

A falta de educação, de formação seria, de resto, o único fundamento
de uma desigual participação feminina na vida pública. Onde a situação
é de igualdade ou supremacia, a ausência das mulheres num domínio como
o da intervenção cívica, da política, impõe uma presunção de
discriminação. A Lei da Paridade torna essa presunção inilidível e,
a meu ver, é com base nela que determina uma quota mínima em função do
género.

A igualdade de mérito presume-se e a realidade tem vindo a comprovar a
presunção onde quer que o sistema seja praticado de boa fé e com
honestidade: no norte da Europa, onde o sistema nasceu, ou no sul,
onde chegou com atraso. E Portugal não é excepção. As quotas vieram
garantir novos patamares de equilíbrio de género, com aparente
valorização do todo!

Mas é da maior importância que a aplicação da Lei da Paridade seja
objecto de avaliação, como a própria Lei impõe, ao fim de cinco anos
(artº 8º)

. Estranho que 7 anos depois da entrada em vigor da lei, a obrigação
de cumprir o preceituado no artº 8º ande esquecida. Onde estão os
estudos sobre a progressão das mulheres, a nível do parlamento e das
autarquias locais? Sobre a sua actuação concreta?

Estranho, ou talvez não... porque as questões de género continuam
descentradas da agenda política em Portugal.

Aqui fica uma chamada de atenção ao Governo (à Comissão para a
Cidadania e Igualdade de Género, que terá condições ideais para o
levar a cabo um estudo conclusivo) e ao Parlamento, seja para
eventualmente poder o legislador pensar alterações à lei nº 3/2006,
com vista a "mais paridade", ou a dar mais visibilidade ao percurso
que as mulheres vêm fazendo no caminho aberto pela Lei, contra regras
não escritas e práticas discriminatórias vigentes nos aparelhos
partidários.


E quanto à frase com que comecei para me definir como feminista, devo
dizer que não a li num livro, nem a ouvi num congresso - vi-a, há
muitos anos, inscrita numa placa de um automóvel que atravessava o
centro de Boston, num dia de sol:


FEMINISM IS THE RADICAL NOTION THAT WOMEN ARE PEOPLE