terça-feira, 28 de janeiro de 2014

A praxe - boas e más tradições...

Entrei na Faculdade de Direito de Coimbra em 1960.  Sempre gostei do meu traje académico, É um sinal de pertença, é  elegante, é prático. Igualiza.
Usei o "grelo" no 3º ano, as fitas vermelhas no 4º, a cartola e bengala no ano de despedida. Recordo com imensa saudade as serenatas, os cortejos e bailes das "Queimas" O cine clube, o teatro, as tertúlias de café. Tudo o que diverte, sem ser à custa de ninguém.
Praxe só neste sentido!
O resto é barbaridade, é prepotência, é opressão - mesmo que não haja violência física. Umas tesouradas na cabeleira dos caloiros não é propriamente coisa que ponha em risco a sua vida e isso foi o pior que vi na Coimbra do meu tempo. Mesmo assim, eu detestava as trupes, que irrompiam  das sombras da noite na perseguição dos "caloiros".  E que levavam os incautos, sem que estes resistissem, para lhes aplicar o castigo ritual.
Para mim, tudo aquilo era sinistro, os vultos negros das trupes, as cabeças rapadas dos colegas...
Vivi, assim, o primeiro ano em estado de revolta contra a praxe, e nunca recuperei desse sentimento profundamente "anti"
Não me afetava pessoalmente, porque as  estudantes não estavam sujeitas a essas praxes. Pelo contrário: como quaisquer outras senhoras, até podiam "dar proteção" aos caloiros, desde que com eles fossem de braço dado. Várias vezes, salvei colegas, com um gesto rápido ao pressentir o "inimigo" ...

E se não estivesse num lar de freiras (o lar das Dominicanas, junto às escadas monumentais) nada mais teria para contar sobre o meu 1º ano.   Nesse mundo fechado, imagine-se, havia uma réplica da praxe,  numas festas noturnas,  em que as "caloiras" eram gozadas pelas "doutoras" e não podiam responder na mesma moeda. Respondi. Insurgi-me, saí pela porta fora e fui naturalmente, de imediato, ostracizada.
Isto é, no pacato lar era a única a não ser convidada para aquelas sessões patéticas de basófia (de um lado) e de servilismo (do outro). Excelente solução! Nunca mais me maçaram, e vice versa.

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

O destino de GASPAR...

Sem surpresa a nomeação de GSPAR para o seu alto cargo europeu.
Eu sabia, todos os portugueses sabiam que foi para isso que trabalhou, enquanto ministro das finanças -  o ministro das finanças da troika.
Apoios ; o governo alemão, e o governo português (os alemães da Alemanha e os de Portugal)

O admirável mundo novo da Internet - ler uma reportagem, 8 anos depois...


MANUELA AGUIAR:

NO CÍRCULO DA EMIGRAÇÃO

Reportagem de
Vitália Rodrigues

Manuela Aguiar, deputada pelo círculo da Emigração e Carlos Oliveira, cônsul-geral de Portugal em Montreal

Círculo de livros ao centro da mesa. Livros que Manuela Aguiar ofereceu aos presentes.



Francisco Salvador, Conselheiro das Comunidades Portuguesas no Canadá, ladeado por Manuela Aguiar e Corinne Descombes

Manuela Aguiar autografa o seu último livro


Dr. Carlos Oliveira em amena cavaqueira com o docente do Instituto Camões, dr. Luís Aguilar


Mário Conde e Corine Descombes ladeiam o representante de Portugal em Montreal, dr.Carlos Oliveira, retribuindo-lhe a visita que o diplomata fez aos Estudos Portugueses da Universidade de Montreal
Vitália Rodrigues e Manuela Aguiar
Luís Aguilar com alguns dos Representantes da Comunicação Social de Montreal presentes: Luís Tavares Belo, Conseição Rosário e Sylvio Martins

É difícil, numa figura humana, política, social, artística, económica e, até literária, como é vista Manuela Aguiar por aqueles que tiveram o privilégio de com ela contactar, acreditar na sua partida da vida política activa. Um retiro, local para onde os descendentes de Viriato, muitas vezes querem remeter figuras incómodas, que configuram uma postura independente, não-alinhada e, sacrilégio maior, pensam pela sua própria cabeça, descarrilando vezes de mais, das correias de transmissão do partido a que pertencem.
É quase consensual ter sido Manuela Aguiar a conseguir a mais significativa actuação, quer como Secretária de Estado da Emigração, quer como deputada pelo círculo da emigração, nas várias localidades deste país da América do Norte, em particular e por todo o reino da Emigrolândia, em geral.

E ela cá esteve, de novo, desta feita, para lançar um livro que reúne documentos que testemunham a sua permanente batalha em prol das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo: No Círculo da Emigração. Na última quinta-feira, dia 6 de Janeiro de 2005, na sala multiusos do Consulado-Geral de Portugal em Montreal, no círculo restrito dos órgãos de informação deste círculo da emigração portuguesa que acaba de comemorar o seu cinquentenário. Incansável, com uma energia bastante superior à que demonstrou na anterior visita a Montreal, Manuela Aguiar foi questionada sobre a sua
anunciada retirada. Uma resposta simples e imediata: - Não, eu não me retiro de coisa nenhuma. Eu apenas saio do Parlamento, o que, afinal, é muito pouca coisa.
Manuela Aguiar decide, fazer perguntas que ninguém colocou, apesar do bombardeamento de questões a que foi submetida pelos jornalistas da diáspora:
- O que falta para que se consiga fazer uma Federação Internacional das Comunidades Portuguesas Espalhadas pelo Mundo? Se ninguém perguntou, naturalmente, ninguém se mobilizou para responder a este apelo à unidade, cooperação e solidariedade.
É uma iniciativa que muitas comunidades de polacos, italianos, romenos, gregos, etc., têm levado a cabo, estranhando-se que as associações portuguesas não sigam a ideia de criar uma Federação Internacional que tanta falta faria para articular iniciativas, desenvolver projectos de cooperação, etc. Mas é a trica política - lá como cá- que mobiliza os lusos para o debate. É que Manuela Aguiar, com as questões que coloca, politicamente incorrectas, insiste numa série de medidas ameaçadoras para alguns reumatismos que habitam a comunidade portuguesa de Montreal em particular e as comunidades portuguesas, na sua generalidade.
Manuela Aguiar demonstra uma certa incompreensão, ou mesmo desespero, pelo abandono de mulheres de todos os partidos que muito ajudaram à construção de uma estranha forma de fazer política e intervir socialmente. Sente-se, por ventura, incompreendida quando olha para cada um dos presentes e percebe o desfile de olhares que se escondem por detrás de cada cumplicidade com aqueles que julgam que a diferença que marcou (e esperamos que continue ainda a marcar) um outro modo de ver as coisas, foi derrotado pela cartilha de compressão de obediências, que o politicamente correcto quis e quer impor. Com efeito, Manuela Aguiar tem um pensamento límpido, obsessivo e grávido de coerência que compagina dificilmente com o alinhamento que se espera de um político, geralmente, o oposto disso mesmo.
Respira-se outro ambiente na sala multiusos do Consulado-Geral de Portugal, ambiente a que não será alheia a postura discreta, mas empenhada, disponível, experiente e humorada do novo cônsul-geral de Portugal, cuja curiosidade pelas pequenas e grandes coisas também não cessa de espantar quem a tal não está habituado na diplomacia portuguesa. Faz-nos falta, a dinâmica presença da Maria Luísa Fernandes que, temos a certeza de que, num contexto destes, se sentiria como peixe na água.
Admiramos a extrema paciência que detém, a nossa deputada e Secretária de Estado, como muita gente de todos os quadrantes políticos gosta de chamar-lhe aqui em Montreal, para, com a pinderiquice lamecha de alguns representantes de um Portugal queixinhas, trajado de pobreza franciscana, que se esgueiram da varanda da hipocrisia, sempre a verter lágrimas de crocodilo, penduradas da algibeira oportunista.
Manuela Aguiar, entende Portugal como uma nação de comunidades e, quanto a nós, entende aquilo que, afinal, de Portugal, se espera, porque, foi esse sempre o grandioso, misterioso e glorioso significado que tem e que sempre teve como Nação do V Império visionário de Pessoa ou religioso do Padre António Vieira ou mesmo profético do sapateiro Bandarra. Isso mesmo leva um número crescente de estudantes universitários, luso-descendentes ou estrangeiros a estudar a língua de Camões e a cultura lusitana.
Foi nesse sentido que dois estudantes do programa de Mineur en langue portugaise et cultures lusophones da Universidade de Montreal, acompanharam o docente de língua portuguesa, Luís Aguilar, a este encontro: o Mário Conde, de origem galega e a Corinne Descombes uma gaulesa da Haute-Savoie que ficaram fascinados, tanto com a deputada Manuela Aguiar como com o dr. Carlos Oliveira. Foram acolhidos com simpatia os estudantes de Português, pelos dois políticos, num encontro que ficou pautado pela espontaneidade, por uma dinâmica de troca, de curiosidade e até por um certo carinho por serem eles aprendentes da nossa cultura e magna língua.
Nenhum dos dois representantes de Portugal correspondeu à imagem que eles têm dos políticos e diplomatas, pois a deputada manteve um discurso frontal e desprovido de superioridade e snobismo e o cônsul-geral, constantemente à procura da novidade e a não faltar a uma possibilidade de dois dedos de conversa que lhe apeteça.
O livro de Manuela Aguiar, cujo lançamento serviu de pretexto para este Encontro informal, mais parecido com uma tertúlia do que uma conferência de imprensa como foi alcunhado, apresenta documentos escritos na primeira ou na terceira pessoas, a actividade parlamentar da deputada e os percursos percorridos nos tempos de exercício de funções e de avidez de comunicação. Nele podemos encontrar o que escrevíamos na edição do jornal LusoPresse do dia 1 de Janeiro de 2000, a propoósito do lançamento do seu livro anterior, Manuela Aguiar. Migrações sem Fim ( Manuela Aguiar, cita-nos na página 168 deste seu novo livro):
]...[ Os temas abordados durante cerca de duas horas foram variados, mas com vincada insistência sobre o problema da nacionalidade. Manuela Aguiar voltou a esclarecer a importância da lei de

No Círculo da Emigração
1981, que veio acabar definitivamente com a lei salazarista e fascista de 1959, a qual retirava automaticamente a nacionalidade portuguesa a qualquer indivíduo que optasse por outra. Com esta nova lei, velha de 18 anos, é possível através de um processo burocrático, infelizmente moroso, reaver a nacionalidade portuguesa e manter a dupla nacionalidade. Lei libertadora, mas não menos discriminatória para todos os portugueses que se naturalizaram Canadianos entre 1959-1981. Antes de partir a deputada prometeu fazer tudo o que estivesse ao seu alcance a fim de facilitar e diminuir este processo burocrático. Esperemos que consiga obter a aprovação de um decreto, de uma alínea, de algo que permita restabelecer de uma forma simples e rápida a nacionalidade portuguesa. Boa sorte.
Hoje, aqui estamos a anunciar e a render homenagem a quem soube levar a bom porto, uma batalha de Bom Senso e Bom Gosto, mas nem por isso fácil. Cinco anos depois.
Aplica-se a Manuela Aguiar o que o povo muitas vezes diz: Água mole em pedra dura tanto dá até que fura. Furou! As pedras duras que são a burocracia lusa e a ociosa e sonolenta actividade parlamentar portuguesa.
E à Manuela Aguiar dizemos, como habitualmente, até à próxima e Boa Sorte com o seu No Círculo da Emigração, e com o novo Círculo da Emigração por e para onde não concorre desta vez, mas que, nem por isso, estamos certa, deixará de marcar o caminho desta emigrolândia, onde muito se ressona, pouco se inova, muito se grita, quase nunca se reconhece e, permanentemente se insiste em agir de costas voltados uns para os outros. Uns porque são do Benfica e outros do Sporting, uns porque são de São Miguel e outros da Terceira, uns porque são da Voz de Portugal e outros do LusoPresse, uns porque são da Escola Portuguesa do Atlântico e outros porque são da Escola de Santa Cruz, etc. Enquanto, paralelamente, todos se queixam da falta de meios e de recursos humanos. Não parece.