terça-feira, 10 de novembro de 2015

Luxemburgo Entrevista jornal CONTACTO


Antiga secretária de Estado das Comunidades


               “Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses no estrangeiro”




Publicado Quarta-feira, 10 Junho 2015 às 14:27

“O Governo português deve reconstituir a Secretaria de Estado da Emigração” para dar resposta aos problemas dos emigrantes, como os novos casos de exploração de portugueses na construção. A antiga secretária de Estado da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar, esteve no Luxemburgo e defende que o Governo deve ter uma política virada para os portugueses que emigram, mas também para os que regressam.

Maria Manuela Aguiar esteve quinta-feira em Esch-sur-Alzette, enquanto presidente da Assembleia da Associação Mulher Migrante para acompanhar e coordenar a conferência-debate do maestro António Victorino d’Almeida sobre a “Portugalidade” (ver pág. 20).

À margem da conferência, o CONTACTO confrontou a antiga secretária de Estado da Emigração e das Comunidades (1980-1987) com os novos casos de exploração de portugueses a trabalhar na construção. Um dos últimos casos dá conta de subempreiteiros portugueses que exploram imigrantes portugueses numa obra pública num estaleiro dos Caminhos de Ferro Luxemburgueses, na cidade do Luxemburgo (ver pág. 5).

“É uma história clássica de portugueses explorados pelos próprios portugueses. Nos séculos XIX e XX encontramos muitos casos desses e julgamos que não se repetem, mas quando olhamos para estas situações terríveis são muito iguais às do passado e acontecem em países onde menos se espera, como o Luxemburgo, Noruega, Inglaterra ou Holanda. Este é um dos aspectos para o qual sempre chamei à atenção quando estava no Governo”, recorda Manuela Aguiar, que foi convidada em 1980 pelo primeiro-ministro Francisco Sá Carneiro a integrar o seu executivo.

Depois de ter deixado a Secretaria de Estado da Emigração e das Comunidades, Manuela Aguiar continua a trabalhar com as comunidades portuguesas no estrangeiro. Na Associação Mulher Migrante coordena vários estudos sobre os emigrantes portugueses. Considerada uma das maiores especialistas portuguesas da emigração, critica qualquer governo, mesmo do seu PSD.

“O Governo tem a obrigação constitucional de reorganizar os serviços de emigração, o Governo tem de reconstituir uma máquina de apoio aos portugueses nos países onde estão, para combater estes fenómenos de exploração”, defende Manuela Aguiar.

“Logo a partir de 74, a primeira coisa que os governos provisórios fizeram foi criar uma Secretaria de Estado da Emigração e reorganizar os serviços para servir os portugueses. Mas quando Portugal aderiu à CEE [Comunidade Económica Europeia], achou que a emigração tinha acabado e desmantelou os serviços de emigração. Neste momento, em que temos uma emigração como nos anos 60, temos a obrigação de voltar a ter adidos sociais, que há pouco tempo acabaram, ter pessoas que possam fazer relatórios ao Governo, que possam seguir a situação dessas pessoas exploradas e indicar soluções também para outros casos. Precisamos de novos serviços, à semelhança dos que tivemos, adaptados aos tempos modernos”, propõe Manuela Aguiar.

Para a também antiga deputada eleita pelo círculo da Europa, o Governo português deve também ter uma política virada para os que querem regressar.

“O Governo tem de apoiar os que querem sair, mas também apoiar de todas as formas possíveis os portugueses que querem regressar. Tem de haver uma política de regresso, ainda que não seja um regresso imediato, e chamar as pessoas à medida que for possível. É certo que neste momento são muito mais os que querem sair do que os que querem regressar, mas os governantes têm de adequar os instrumentos, os serviços e os meios institucionais às realidades”, defende Manuela Aguiar, lembrando o “sinal positivo” dado por Pedro Lomba, secretário de Estado do ministro-adjunto, Miguel Poiares Maduro. “Ele apelou ao regresso dos portugueses e é bom que o Governo não tenha apenas o discurso do ’vão embora’”.

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

MULHERES MIGRANTES no Conselho das Comunidades Portuguesas
MARIA VIOLANTE MARTINS, presidente da Associação das Mulher Migrantes Portuguesas da Argentina, MILÚ DE ALMEIDA e FÁTIMA PONTES, Presidente e Vice-presidente da Associação da Mulher Migrante da Venezuela, concorreram às eleições para o CCP, neste mês de setembro de 2015, como cabeças de lista e venceram. Entraram no Conselho pelo voto das suas comunidades e entraram também na história desta instituição e na do movimento associativo, que lhe dá força identitária e personalidades com um saber de experiência feito em terra estrangeira..
Chegam as três de um associativismo feminino, que, pela primeira vez, na nossa Diáspora ultrapassa as fronteiras de uma região ou de um país, e inclui nos seus principais objetivos a igualdade de participação cívica e política das mulheres. Pela primeira vez, vimos as suas dirigentes a tomar a iniciativa de constituir listas para o CCP - listas abertas, paritárias - a fim de assumirem a defesa dos intereses das comunidades a que pertencem e dos seus compatriotas no interior do órgão que os representa face ao governo de Portugal.
O CCP foi inicialmente um universo de homens, que dominavam as intituições das comunidades - sua primordial base de recrutamento, nos termos da lei fundadora. Aliás, ainda hoje, num modelo de eleição por sufrágio universal, a maioria dos seus membros são homens, a que acresce uma minoria de mulheres, quase todas e todos provenientes do viveiro de lideranças e de notoriedade, que é o associativismo.
É certo que, desde o começo do século XX, coexistiam em algumas das então chamadas "colónias" da emigração portuguesa um amplo círculo das organizações masculinas e um pequeno círculo feminino, uma elite pioneira, que, em casos contados, deu vida a empreendimentos de ampla dimensão - por exemplo, as sociedades fraternais da Califórnia. Todavia, as mulheres dirigentes de ONG's, qualquer que fosse o seu poder de facto, nos anos 80, não se sentiram suficientemente motivadas para intervir numa instância consultiva, à qual o Governo reconhecia uma enorme importância, como plataforma para debate de questões prioritárias e definição das grandes linhas das políticas públicas neste setor. A que se deve o alheamento mais ou menos voluntário das mulheres? Não é fácil dar respostas a uma interrogação que, de início, não se colocou, talvez por se considerar - tal era a desproporção da sua presença no todo institucional - uma inevitabilidade. Talvez pelo facto de funcionarem em paralelo, à margem do associativismo-padrão, onde pontificava o outro sexo. Ou - é uma outra hipótese plausível - por terem o seu enfoque matricial em domínios que julgaram fora das prioridades do CPP - a entreajuda entre as próprias associadas, o voluntariado beneficente, o puro bem-fazer, em conformidade com a tradição.
Como sabemos, o movimento feminista de novecentos veio colocar a tónica na defesa dos direitos de cidadania e no acesso à educação e ao trabalho profissional ( sem abandonar a vocação beneficente e humanitário), mas não curou nunca, diretamente, da situação das mulheres migrantes. Estas foram, de facto, insolitamente esquecidas. Marginalização, na altura, tanto mais definitiva quanto nas Diásporas, não surgiu, de uma forma autónoma e espontânea, militância num ativismo norteado pela ideia da igualdade, no campo político e social. O obra visível das portuguesas expatriadas na esfera pública floresceu, como dissemos, sobretudo, em moldes menos reivindicativos, mais consonantes com uma configuração consevadora dos papéis de género.
As primeiras conselheiras do CCP ganharam o lugar nessa magna assembleia de líderes comunitários, não pela dinâmica coletiva (feminina), antes tão só pela vontade de intervenção cívica e pelo prestígio individualmente grangeado entre os seus pares. Não é surpreendente que tenham vindo sobretudo do jornalismo - caso de CUSTÓDIA DOMINGUES, de MARIA ALICE RIBEIRO, desde 1983 e , depois, de MANUELA DA LUZ CHAPLIN, advogada, que mantinha uma colaboração regular e importante na imprensa luso americana..
Creio que MANUELA DA ROSA, fundadora da Liga da Mulher Portuguesa da África do Sul, terá sido a primeira conselheira oriunda de uma estrutura feminina (aliás não "feminista", no sentido revolucionário ou, pelo menos, fortemente reivindicativo, da palavra). Não tendo tido, provavelmente em razão do sexo, acesso a cargos de relevo na hierarquia do Conselho, nem por isso deixou de ter sempre uma voz influente, tal como aquelas cujos nomes acima lembrámos.
A uma conselheira deve o CCP o ficar na história como o improvável, mas autêntico, impulsionador do embrião de políticas atentas às especificidades da situação das migrantes . Foi Maria Alice Ribeiro, quem propôs, em 1984, uma audição governamental de portuguesas da Diáspora, que a SECP levou a cabo logo em 1985. Foi um auspicioso primeiro passo, que se queria continuar, com a formação de uma organização internacional, no plano da sociedade civil, e, a nível das políticas governamentais, através de conferências periódicas na órbita do Conselho - uma forma hábil de inclusão das mulheres na vertente consultiva do Conselho.
A Associação "Mulher Migrante" foi criada, quase uma década depois, em 1993, para reavivar aquela valiosa herança, levando por diante o projeto de ampla cooperação transnacional para uma participação igualitária na vida das comunidades e do país.
O segundo CCP é posterior (1996) e não tem manifestado, até agora, particular propensão para agir no domínio da igualdade de género, apesar de em muitos outros campos ter sido um poderoso e insubstituível instrumento de co -participação nas políticas de emigração, de expansão da língua e da cultura portuguesas, de aprofundamento dos laços com o País de origem e de integração no país de residência.
É a hora de o CCP se preocupar mais com os fenómenos de exclusão não só da metade feminina, como também dos mais idosos e experientes, dos jovens, da nova emigração. Para isso, contamos com a intervenção das Mulheres Migrantes e com os aliados que, com toda a probabilidade, encontrarão no interiror do Conselho.
Apesar de a Associação Mulher Migrante - a que está sedeada em Lisboa, com ramificações pelo mundo - não ter tido qualquer interferência na apresentação das candidaturas ou nas campanhas vitoriosas das suas associadas da Argentina e da Venezuela, vè nelas a comprovação da eficácia de uma estratégia de envolvimento cívico das portuguesas do estrangeiro, desenvolvida, em colaboração com sucessivos governos, sobretudo a partir dos "Encontros para a Cidadania", nas Américas, África e Europa entre 2005 e 2009, continuados com os Encontros mundiais de 2011 e 2013 e outras ações integradas no que podemos chamar "congressismo". Daí que partilhemos o sabor e o significado destas vitórias, com um sentimento de esperança num CCP mais próximo da realidade das comunidades e mais eficaz, porque o equilíbrio de género é, obviamente, uma mais valia. da representação democrática

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

MULHERES NO CCP - VENEZUELA

Milú de Almeida em Caracas (Ocidente) e Fátima Pontes em Valência (Oriente) foram cabeças de lista nas duas áreas consulares em qua a Venezuela se divide e venceram as eleições, com 61% no conjunto do país. As suas listas, apresentaram um programa comum, sob o lema "Somos Portugalidade". Com uma outra candidata eleita, a representação deste país é rigorosamente parítária (3 mulheres e 3 homens), facto que julgamos inédito numa grande delegação plural.
Sinal dos tempos! Decorrência natural de um associativismo, onde as mulheres, as mais das vezes, em organizações próprias, passaram para a linha da frente!
Milú , Fátima e Adé (que participou ativamente na campanha) são os 3 delegados da Associação Mulher Migrante - Venezuela no Conselho de representantes da "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade", em que estão filiados..
Reconhecendo a 100% o mérito das conselheiras que são nossas dirigentes ( mas que não foram votadas nesta veste), temos em triplicado razões de regozijo: pelo êxito das nossas amigas, cujas grandes qualidades conhecemos bem: pelo que a sua vitória significa para a causa da igualdade; pelos frutos que a ideia de impulsionar, através do associativismo, a participação igualitária está já tendo na vida das comunidades e, por reflexo, no CCP. Uma longa luta, que se começa a ganhar, um pouco por todo o lado.
Parabéns às conselheiras e Conselheiros da Venezuela pelo exemplo que dão a todas as comunidades portuguesas! O exemplo é, sem dúvida, o mais esplêndido instrumento de luta pela mudança.

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

"LES SORTANTS" de LOPETEGUI

Lopetegui queixa-se de que perdeu metade dos titulares da equipa, mas dessa metade quantos  mandou ele embora? Quaresma, Quintero e Fabiano!
Na verdade do plantel do FCP só perdeu mesmo Danilo e Jackson. Os outros dois estavam emprestados e, como era previsível, regressaram aos seus clubes. Para o lugar de Fabiano tem Casillas, para o de Casemiro tem Ruben Neves. e para o de Óliver não tem, mas tinha Quintero, se quisesse. Não percebo os queixumes, tanto mais que para o lugar de Danilo lhe deram Maxi e para o de Jackson o famoso Pablo Osvaldo.
Acho que nunca o FCP foi tão generoso com um treinador 
Agora, esparamos que retribua e ganhe TUDO
Nada menos que TUDO o que há para ganhar!

domingo, 9 de agosto de 2015

MAIS TRANSFERÊNCIAS - uns vão, outros chegam, o FCP já é campeão neste domínio!

De Casillas, Maxi e uma legião de outros, que chegam ao Porto, de grandes estrelas que saem, (enchendo os cofres do Dragão) e do vaivém no SCP e,no SLB, se faz o verão na TV, onde a política foi de férias,,,
O meu Presidente (como sempre chamo, com toda a admireção, ao Presidente do FCP!), fala das partidas de Jakcson, Danilo, Óliver e Casemiro. Faltou acrescentar QUARESMA, que era o melhor de todos, e cuja falta ontem se notou bastante, e QUINTERO, que é, pelo memos, tão bom como Óliver...

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

JORGE JESUS E CO ADRIAANSE

De todos os passados treinadores do FCP o que mais detestei foi, sem dúvida, do primeiro ao último minuto, o denso holandês Jacobus Adriaanse.
Pois bem: comparado com JJ  Co Adriaanse é um gentleman!
Durante anos, vivi e convivi com o grande medo de ver JJ no Dragão... Agora espero que esse perigo esteja definitivamente afastado...

O EGO DE JORGE JESUS

O ego é grande, o cérebro não... Daí as suas declarações absurdas, chocantes, detestáveis...
De Rui Vitória se pode dizer exatamente o contrário.
Pela primeira vez na minha vida, nesta Supertaça, vou torcer pela equipa treinada por Rui Vitória - e apenas porque aprecio o seu fair-play.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

QUARESMA no BESIKTAS...

Nenhum dos nomes sonantes que acaba de chegar ao Porto, incluindo o prodígio francês que custou 20 milhões ou o mítico "portero" espanhol, me fazem esquecer Quaresma -  um símbolo vivo do FCP. Defeito meu, mas prefiro os símbolos do meu clube, aos símbolos "importados" de Lisboa ou Madrid.
Espero que façam uma época fantástica, que façam história, mas isso é futuro, não é presente. Têm de provar o que valem para o clube, como interiorizam os seus valores, como se entregam à luta...
Quaresma era uma certeza. Têm génio, tem força, e tem caráter. Bonito ter querido regressar ao que é, na Turquia, o "seu" clube" - mesmo que outros lhe oferecessem mais dólares e a possibilidade de mais títulos. Magnífica, a receção, a apoteose, a paixão. Quaresma merece!

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Que bom rever AJ JARDIM!

Foi um prazer ouvi-lo falar de uma outra forma de fazer política,  dos tempos em que acompanhou Sá Carneiro e lançou a ´Madeira nos caminhos da modernidade...
Quantas verdades teve a coragem de dizer ... como sempre!
Não é que concorde com a sua apreciação de todas as personalidades de quem falou abertamente...Longe disso. Para mim, por ex, Gaspar foi o criador e Passos Coelho a criatura., Maduro é um descoordenador do Governo...e por aí fora.
Mas é um homem de uma outra Europa e de um outro Portugal - e olha lucidamente a declínio dos projetos da social democracia, da democracia cristã e do socialismo que fizeram a Europa humanista e solidária . E sonha com outro futuro.

domingo, 12 de julho de 2015

CASILLAS E AS RELAÇÕES PENINSULARES

A brutal classificação que a Mãe de CASILLAS faz do FCP  - como equipa de categoria B, muito abaixo do merecimento da excelsa figura desportiva do filho - é um exemplo triste de preconceito anti-português, corrente no espanhol vulgar,pouco dotado no capítulo da inteligência e da boa educação.
O comentário é vergonhoso, é falso e é injusto. Mas explica muito do insucesso desta espécie comum de espanhois em Portugal.
A começar por JULEN LOPETEGUI, e pelo que a Srª Presidente da AR chamaria o seu INCONSEGUIMENTO  na tenebrosa época de 2014-2015.
Sem ousar dizê-lo em voz alta, é claro que se sentia tão superior a todos os nativos que, que nunca conseguiu perceber que ser um estrangeiro num país cheio de GRANDES TREINADORES NACIONAIS tornava a sua missão quase impossível...
Eu não tenho preconceito contra espanhÓis - há-os, lúcidos, equilibrados emocionaLmente, e competentes -  como muitos dos nossos.
Lembro o que nos deu um título mundial, a nossa última taça intercontinental no Japão.
UM SENHOR TREINADOR, chamado Henriquez !  Tive muita pena, quando se foi embora, sem nunca lhe terem dado o plantel oferecido de bandeja a Lopetegui ... ...

sábado, 11 de julho de 2015

SAUDADES DE QUARESMA

Uma única certeza - o FCP perde na próxima época o seu melhor, mais genial e mais carismático jogador. Aquele que derrotou o Bayern no Dragão e nos fez sonhar alto. Aquele que levanta a voz, irreverentemente. Eu gosto de irreverência, de inconformismo, de bravura e de magia
De treinadores que saibam lidar com Homens assim - que saibam compreende-los e estimula-los...
JESUALDO, FERNANDO SANTOS... Treinadores e líderes , que deram títulos ao PORTO.
Lopetegui dará???
Dúvida legítima. Deus queira que sim.
Porque portista eu sou, mais do que tudo na vida...
E outra tristeza tenho de manifestar - a de ver o portista, HELTON, cada vez mais completo como guarda redes, sentado no banco, a ver a estrela madrilena na baliza....

MARIA BARROSO E A AMM

Na visão de Maria Barroso, na sua luta pela dignidade de cada ser humano, não havia favoritos - eram todos seus irmãos, suas irmãs: portugueses, africanos ou timorenses, velhos, crianças, mulheres, homens... Não foi por acaso que deu à sua Fundação humanitária o felicíssimo título de PRO DIGNITATE.
Nesta causa maior cabem todas, sem exceção - a luta pela liberdade, pela democracia, por um mundo sem guerras e sem violência, sem fome e sem medo, a expressão das culturas, o diálogo sobre as heranças e o futuro...
Mas o mais admirável da sua história era o trabalho incessante, concreto, prático, em todas as áreas em que constantemente a solicitavam.
Fez de cada dia da sua vida, um dia de labor sem fim, a resolver problemas, a ajudar, com um sorriso....Com tempo para tudo e para todos...
Esta a sua maneira inigualável de estar com ou outros.
Em missão...sempre!
Por sorte, fomos nós, um recém criada associação para o estudo das questões específicas das mulheres migrantes, que a chamámos a este domínio, que, afinal, tanto lhe dizia  e onde acbou desempenhando um papel tão importante!

quarta-feira, 8 de julho de 2015

COM MARIA BARROSO, nos ENCONTROS para a CIDADANIA na DIÁSPORA PORTUGUESA

Publicada no Boletim da Fundação Pro Dignitate

Entre 2005 e 2009, a Dr.ª Maria Barroso foi a Presidente de Honra dos Encontros para a Cidadania - a Igualdade entre Homens e Mulheres, uma iniciativa inédita, em Portugal - e, ao que julgamos, única em países de emigração - destinada a levar às comunidades portuguesas da Diáspora um forte apelo à participação de todos na afirmaçâo dos valores de género e geração, na vivência da democracia e na valorização de uma cultura universalista, como é a nossa,
Foi verdadeiramente um "correr mundo" para a Dr.ª Maria Barroso e para um conjunto de personalidades que a acompanhava, e que incluía, para além de membros do Governo, representantes de organizações da "sociedade civil", unidos e motivados pela mesma causa, a de aprofundar a consciência das discriminações que subsistem e assumem contornos específicos no quadro das migrações, assim promovendo a inclusão dos grupos mais marginalizados da sociedade, através do exercício concreto e efectivo dos seus direitos e dos seus talentos.
Há muitos anos que admirava a Dr.ª Maria Barroso e que com ela tinha colaborado, sobretudo nestes domínios dos direitos humanos, dos direitos das mulheres, em colóquios e congressos da Associação de Estudos Mulher Migrante, onde sempre foi uma presença influente e mobilizadora. Contudo, nunca tinha partilhado com ela longas viagens através dos oceanos (um tempo que, em conversa, ouvindo-a, passava célere), e a intensidade do dia a dia feito de debates vivos e memoráveis, de convívio em que os temas dos encontros se continuavam, incessantes, nas pausas, nos almoços e jantares, com que as nossas comunidades gostam de acolher os visitantes... Nunca tinha podido sentir tão de perto a profunda afectividade que desperta a Dr.ª Maria Barroso em todos quantos escutavam as suas palavras brilhantes, na substância e na forma como as diz, com a marca da convicção e da autenticidade, e com a simplicidade natural, com que se torna tão próxima (“uma de nós”, sem que nunca esqueçamos a sua absoluta excepcionalidade!).
Esses Encontros faziam História, como reconhecíamos já então, porque significavam o princípio da aplicação das políticas da igualdade de género em Portugal, no seu inteiro espaço humano, para além das fronteiras territoriais, e também porque eram encabeçados por um autêntico expoente das qualidades e capacidades da Mulher Portuguesa. Para as emigrantes, um exemplo vivo de como ser Mulher e Cidadã, que estava ali a seu lado, tão acessível e solidária. Para os convidados de um País estrangeiro, uma singular mensageira de Portugal, da sua verdadeira dimensão cultural e política.
O primeiro de seis encontros foi o da América do Sul, realizado em Buenos Aires, seguindo-se o da Europa, em Estocolmo, os da América do Norte, no leste do Canadá, em Toronto e no ocidente dos EUA, em Berkeley, o da Africa em Joanesburgo e, por último, o “encontro dos encontros”, um congresso internacional no nosso País. Sobre cada um deles se poderia escrever uma longa crónica – longa e feliz. Aqui fica apenas um breve e objectivo registo de factos, que se espera sejam, de qualquer modo, sugestivos do ambiente vivido, das esperanças despertadas, do impacte que se prolonga até hoje, em novas iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita à política de Estado para as comunidades, que passou a incorporar, esperamos que definitivamente, uma componente de género.
O ENCONTRO NA AMÉRICA DO SUL
Buenos Aires, 16 e 17 de Novembro de 2005
Biblioteca Nacional, Salão Jorge Luís Borges
Organização local da Embaixada de Portugal e da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina.

Sob a égide do grande escritor argentino, que, por ascendência e por afecto, é também nosso, com a presença simbólica de Maria Kodama, a viúva de Borges, num auditório repleto de ilustres participantes portugueses e argentinos, com jornalistas dos principais media nacionais - imprensa, rádio, RTP - se reiniciou uma caminhada histórica, que tivera o seu começo precisamente 20 anos antes, no 1º Encontro Mundial de Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo, convocado durante o Governo de Mário Soares. O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas António Braga propunha-se, como asseverou publicamente, retomar uma questão que andava esquecida pelos governos nas suas políticas de emigração há muitos anos.
Aí, em Buenos Aires (capital de um País onde a Mulher já ascendera à presidência da República, e onde uma Portuguesa - Regina Pacceli - fora a única Primeira Dama estrangeira), partilhando a mesa de honra com António Braga, com o Embaixador Almeida Ribeiro e comigo mesma, a Dr.ª Maria Barroso proferiu a conferência de abertura - dando-nos uma perspectiva diacrónica sobre a luta das mulheres pela plenitude dos direitos de cidadania e convidando-nos a participar na aventura de equacionar e de construir o seu futuro.
Depois de dois dias de debates e da aprovação das conclusões, que são um notável documento sobre as matérias em análise, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade".
As comemorações da Associação Mulher Migrante constituíram, logo depois, a parte festiva destas jornadas de trabalho. E, como são sempre celebradas em ambiente de grande entusiasmo e confraternização inter-associativa, e "paritária" (com os líderes das maiores instituições envolvidos na homenagem aos méritos e realizações da primeira associação feminina da comunidade), foram mais um meio de alargar a reflexão sobre as questões da cidadania, dos direitos e deveres em que esta se expressa, do novo papel das mulheres.

O ENCONTRO NA EUROPA
Estocolmo, Museu Etnográfico, Março de 2006
Organização local da PYCO, Federação Internacional de Mulheres Lusófonas

Presente ao lado da Dr.ª Maria Barroso e do Embaixador de Portugal, a antiga Ministra, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres, Anita Gradin, que foi uma próxima e importante colaboradora de Olaf Palme e uma pioneira, grande impulsionadora da "praxis" da paridade na Suécia, primeiramente no seu próprio partido. Entre ambas, como entre todas nós, na organização dos trabalhos, e entre nós e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, representando o Governo, havia uma evidente sintonia de posições. E, tal como na Argentina, foi ampla a participação de personalidades e de ONG's do país que nos acolhia, a permitir a troca de experiências e ensinamentos. A imprensa nacional e regional esteve presente e deu notícia das propostas deste novo congresso.
"É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres", salientou a Dr.ª Maria Barroso.
Este ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, na linha de pensamento das feministas da 1ª República, leva-nos a vê-la, nos ideais, como na acção concreta pela liberdade e democracia, como uma genuína herdeira dessa plêiade de notáveis Portuguesas do começo de novecentos.

O ENCONTRO NA AMÉRICA DO NORTE
"Conferência para a Participação Cívica e Política"
Toronto Março de 2007 Auditório do "Metro Hall"
Organização Local: Consulado Geral de Portugal, e um elevado número de ONG´s luso-canadianas e canadianas.
Patrocínio da Região Autónoma dos Açores
A conferência reuniu muitos membros de associações, universitários e investigadores, deputadas canadianas, e activistas dos direitos humanos, mulheres e homens, e teve uma cobertura excepcional de todos os media em língua portuguesa de Toronto ( muitos e muito bons), que, de uma forma unânime, saudaram aquela realização e deram a medida do seu relevo, contribuindo para que as temáticas desenvolvidas e o essencial de uma mensagem tão clara e forte chegasse à comunidade inteira.
O Secretário de Estado Jorge Lacão, esteve, naturalmente, nos momentos protocolares de abertura e encerramento, mas também participou activamente nos trabalhos de todos os painéis, Aí divulgou o Plano Nacional para a Igualdade e a extensão da Lei da Paridade às eleições do Conselho das Comunidades Portuguesas (que viriam a ser as primeiras a que as novas regras se aplicaram). O Embaixador Silveira de Carvalho e o Dr. Álamo de Oliveira em representação dos Açores foram também brilhantes intervenientes. E a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva foi unanimemente elogiada pela organização da" Conferência", e, mais globalmente, pelo desempenho à frente do Consulado, onde foi a primeira mulher a exercer o cargo.
A Dr.ª Maria Barroso, partilhou do entusiasmo geral, falando da abertura de horizontes ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), não deixou, todavia, de denunciar, em contra corrente, muitas discriminações que subsistem: "Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".
Para além da Conferência, houve ainda ocasião para corresponder a convites da comunidade, do Museu dos Pioneiros e da Associação de Apoio a Deficientes Portugueses, onde a Dr.ª Maria Barroso e eu recebemos o título de Presidentes de Honra.
Recém inaugurada esta grandiosa obra de solidariedade, converteu-se já um "ex-libris" da nossa Comunidade, tornou-se centro de apoio e, também, de animação cultural e de valorização humana dos mais velhos e dos mais marginalizados.
Na despedida de Toronto fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu amplamente: "Viemos ver coisas extraordinárias."
O articulista do" Pós milénio" foi um dos que sintetizou bem o espírito destas iniciativas: "Um encontro para a cidadania tem que se lhe diga. É bem capaz de cavar alicerces que nem sempre foram abertos para todos (...) de trazer à discussão temas do maior interesse, que levam a harmonia a uma sociedade, por vezes pouco lógica e racional".
É de assinalar ainda, fora de Toronto, uma deslocação breve da Dr.ª Maria Barroso a Montreal para um outro encontro, a celebrar o Dia Internacional da Mulher - uma iniciativa que o jornal Luso Presse promove todos os anos. Com a presença do Cônsul Geral Dr. Carlos Oliveira e da Ministra da Imigração do Québec, de várias deputadas e de uma vereadora portuguesa, de uma sala cheia de portugueses, viveram-se momentos irrepetíveis de emoção até às lágrimas, com a Dr.ª Maria Barroso a receber uma infindável ovação, no fim de uma memorável mensagem sobre a história e o futuro da nossa democracia.

ENCONTRO EM ÁFRICA
Joanesburgo, Março de 2008
Sala de Conferência do "Lusito", Associação em favor de Crianças Deficientes
Organização Local: Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul. Patrocínio da Região Autónoma da Madeira e do Consulado Geral de Portugal

Nas esplêndidas instalações do "Lusito", para uma audiência onde predominavam as mulheres, mas onde estavam também o Embaixador Paulo Barbosa, o Cônsul-Geral Manuel Gomes Samuel e os dirigentes das principais instituições comunidade, a Dr.ª Maria Barroso falou da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância" - e esta é justamente uma das injustiças a que o exercício da cidadania no feminino procura por fim.
A oradora focou muito em especial a participação das Portuguesas na luta pela democracia e a importância que isso e outros factores, como a grande guerra mundial e a guerra colonial, tiveram na ascensão das mulheres e abordou preocupações e uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos, a exclusão social, os maus tratos a crianças, a violência doméstica.
O Encontro ganhou uma dinâmica original, a marca do modo de funcionamento da "Liga da Mulher", com a organização de quatro "workshops" sobre: a situação das mulheres portuguesas na Àfrica do Sul e o seu diálogo e colaboração com as naturais do País; os diferentes processos de afirmação das Portuguesas na Diáspora e no nosso País; os principais domínios em que se reconhece perdurarem discriminações; o ensino do português a da nossa cultura na África austral.

Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se confirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.
A missão na RAS, como, aliás, as anteriores, traduziu-se na discussão de ideias e no traçar de metas para trabalho futuro, mas também na criação de laços de amizade que facilitarão a cooperação para a sua prossecução concreta.
E houve tempo para a nostalgia, para a Dr.ª Maria Barroso lembrar que ali estivera a acompanhar o seu filho, salvo pelo empenho e qualidade da medicina sul-africana, depois de um acidente quase fatal. Ou para recordar um prévio encontro com o Dr. Paulo Barbosa, então Embaixador em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo do Presidente Mário Soares e da Dr.ª Maria Barroso. Pedaços da história à qual a antiga fundadadora do PS, Deputada e Primeira-Dama, pertence para sempre.

ENCONTRO NA AMÉRICA DO NORTE Califórnia
Berkeley, Universidade da Califórnia
Maude Fife Room, Wheeler Hall
25 de Setembro de 2008
Organização Local: Profa. Deolinda Adão, (Universidade de Berkeley) e Cônsul Geral de Portugal, Dr. António Alves de Carvalho
A nível da coordenação nacional, foi directamente a Fundação Pro Dignitate e não a AEMM que assumiu o papel operacional de coordenação, a cargo do Dr António Pacheco, actualmente o Secretário-geral da "Fundação"
A caminho da costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da Paz e da Igualdade.
Com Monsenhor Antão, um verdadeiro líder espiritual da comunidade, de quem a Dr.ª Maria Barroso diria tratar-se de "uma personalidade de excepção", visitamos a escola que tem o seu nome. (uma honra num país onde é raríssimo atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas). Um Liceu muito prestigiado, com vocação para as artes e a música, onde jovens americanos cantaram o nosso hino nacional na perfeição. Difícil foi conter a emoção...
Berkeley recebeu o Encontro sobre "O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia", pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com uma admirável introdução da Profª Adão), e da colaboração intergeracional assim como do papel dos media na formação para a igualdade.
No encerramento, o SECP António Braga e a Presidente Maria Barroso deixaram a certeza de que as soluções ali propostas não seriam esquecidas.
Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar (e todos nisso a secundávamos) que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença (1).
Seguiu-se um encontro mais restrito no departamento de Estudos Europeus, com bolseiros portugueses que naquela tão conceituada universidade preparam doutoramento em diversos domínios.
Antes do regresso a Portugal, nova passagem por Elizabeth, onde Monsenhor João nos preparara uma surpresa, uma singular tributo à Dr.ª Maria Barroso, no termo de um longo périplo por tantas comunidades: naqueles poucos dias da nossa ausência na Califórnia, o talentoso artista Roger Gonzalez (a quem se devem as obras primas de arte sacra da Igreja de Nossa Senhora de Fátima) pintara um esplêndido retrato da Dr.ª Maria Barroso, à entrada da ala da residência onde estivera hospedada!
Ao findar um périplo por tantas comunidades, reavivando a importância histórica do "congressismo" na luta pela igualdade das mulheres, readaptada aos tempos de hoje, a Presidente dos Encontros deixava assim simbolicamente o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, capaz de mobilizar pela palavra e pelo exemplo para a mudança em sociedades cada vez mais abertas a todos os seres humanos, mais livres e democráticas.

Em Espinho, em Março de 2009, num último Encontro internacional, com a presença das responsáveis pela organização de todos os que ocorreram na Diáspora, e a presidência da Dr.ª Maria Barroso um ciclo se encerrou, na esperança de que o projecto de mobilização para a cidadania iria prosseguir na rede de solidariedades que ficou criada, e em gestos concretos de vivência da cidadania que as mulheres aprenderam umas com as outras. Esperança bem fundada, que hoje podemos ver ínsita emnovas manifestações de mobilização para a igualdade

MARIA BARROSO E OS "ENCONTROS PARA A CIDADANIA"

Entre 2005 e 2009, a Dr.ª Maria Barroso foi a Presidente de Honra dos Encontros para a Cidadania - a Igualdade entre Homens e Mulheres, uma iniciativa inédita, em Portugal - e, ao que julgamos, única em países de emigração - destinada a levar às comunidades portuguesas da Diáspora um forte apelo à participação de todos na afirmaçâo dos valores de género e geração, na vivência da democracia e na valorização de uma cultura universalista, como é a nossa,
Foi verdadeiramente um "correr mundo" para a Dr.ª Maria Barroso e para um conjunto de personalidades que a acompanhava, e que incluía, para além de membros do Governo, representantes de organizações da "sociedade civil", unidos e motivados pela mesma causa, a de aprofundar a consciência das discriminações que subsistem e assumem contornos específicos no quadro das migrações, assim promovendo a inclusão dos grupos mais marginalizados da sociedade, através do exercício concreto e efectivo dos seus direitos e dos seus talentos.
Há muitos anos que admirava a Dr.ª Maria Barroso e que com ela tinha colaborado, sobretudo nestes domínios dos direitos humanos, dos direitos das mulheres, em colóquios e congressos da Associação de Estudos Mulher Migrante, onde sempre foi uma presença influente e mobilizadora. Contudo, nunca tinha partilhado com ela longas viagens através dos oceanos (um tempo que, em conversa, ouvindo-a, passava célere), e a intensidade do dia a dia feito de debates vivos e memoráveis, de convívio em que os temas dos encontros se continuavam, incessantes, nas pausas, nos almoços e jantares, com que as nossas comunidades gostam de acolher os visitantes... Nunca tinha podido sentir tão de perto a profunda afectividade que desperta a Dr.ª Maria Barroso em todos quantos escutavam as suas palavras brilhantes, na substância e na forma como as diz, com a marca da convicção e da autenticidade, e com a simplicidade natural, com que se torna tão próxima (“uma de nós”, sem que nunca esqueçamos a sua absoluta excepcionalidade!).
Esses Encontros faziam História, como reconhecíamos já então, porque significavam o princípio da aplicação das políticas da igualdade de género em Portugal, no seu inteiro espaço humano, para além das fronteiras territoriais, e também porque eram encabeçados por um autêntico expoente das qualidades e capacidades da Mulher Portuguesa. Para as emigrantes, um exemplo vivo de como ser Mulher e Cidadã, que estava ali a seu lado, tão acessível e solidária. Para os convidados de um País estrangeiro, uma singular mensageira de Portugal, da sua verdadeira dimensão cultural e política.
O primeiro de seis encontros foi o da América do Sul, realizado em Buenos Aires, seguindo-se o da Europa, em Estocolmo, os da América do Norte, no leste do Canadá, em Toronto e no ocidente dos EUA, em Berkeley, o da Africa em Joanesburgo e, por último, o “encontro dos encontros”, um congresso internacional no nosso País. Sobre cada um deles se poderia escrever uma longa crónica – longa e feliz. Aqui fica apenas um breve e objectivo registo de factos, que se espera sejam, de qualquer modo, sugestivos do ambiente vivido, das esperanças despertadas, do impacte que se prolonga até hoje, em novas iniciativas, deixando-nos a convicção de que há um período antes e depois deste encadeamento de congressos, no que respeita à política de Estado para as comunidades, que passou a incorporar, esperamos que definitivamente, uma componente de género.
O ENCONTRO NA AMÉRICA DO SUL
Buenos Aires, 16 e 17 de Novembro de 2005
Biblioteca Nacional, Salão Jorge Luís Borges
Organização local da Embaixada de Portugal e da Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina.

Sob a égide do grande escritor argentino, que, por ascendência e por afecto, é também nosso, com a presença simbólica de Maria Kodama, a viúva de Borges, num auditório repleto de ilustres participantes portugueses e argentinos, com jornalistas dos principais media nacionais - imprensa, rádio, RTP - se reiniciou uma caminhada histórica, que tivera o seu começo precisamente 20 anos antes, no 1º Encontro Mundial de Portuguesas no Associativismo e no Jornalismo, convocado durante o Governo de Mário Soares. O Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas António Braga propunha-se, como asseverou publicamente, retomar uma questão que andava esquecida pelos governos nas suas políticas de emigração há muitos anos.
Aí, em Buenos Aires (capital de um País onde a Mulher já ascendera à presidência da República, e onde uma Portuguesa - Regina Pacceli - fora a única Primeira Dama estrangeira), partilhando a mesa de honra com António Braga, com o Embaixador Almeida Ribeiro e comigo mesma, a Dr.ª Maria Barroso proferiu a conferência de abertura - dando-nos uma perspectiva diacrónica sobre a luta das mulheres pela plenitude dos direitos de cidadania e convidando-nos a participar na aventura de equacionar e de construir o seu futuro.
Depois de dois dias de debates e da aprovação das conclusões, que são um notável documento sobre as matérias em análise, a Presidente Maria Barroso, como que sintetizando as conclusões, diria: "Considero que foi uma reflexão aprofundada sobre os problemas que dizem respeito às mulheres, e, em particular, às mulheres migrantes. Mulheres e Homens têm de assumir um papel onde ambos os géneros contribuem para a melhoria da sociedade".
As comemorações da Associação Mulher Migrante constituíram, logo depois, a parte festiva destas jornadas de trabalho. E, como são sempre celebradas em ambiente de grande entusiasmo e confraternização inter-associativa, e "paritária" (com os líderes das maiores instituições envolvidos na homenagem aos méritos e realizações da primeira associação feminina da comunidade), foram mais um meio de alargar a reflexão sobre as questões da cidadania, dos direitos e deveres em que esta se expressa, do novo papel das mulheres.

O ENCONTRO NA EUROPA
Estocolmo, Museu Etnográfico, Março de 2006
Organização local da PYCO, Federação Internacional de Mulheres Lusófonas

Presente ao lado da Dr.ª Maria Barroso e do Embaixador de Portugal, a antiga Ministra, Comissária Europeia e Presidente da Internacional Socialista de Mulheres, Anita Gradin, que foi uma próxima e importante colaboradora de Olaf Palme e uma pioneira, grande impulsionadora da "praxis" da paridade na Suécia, primeiramente no seu próprio partido. Entre ambas, como entre todas nós, na organização dos trabalhos, e entre nós e o Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, Jorge Lacão, representando o Governo, havia uma evidente sintonia de posições. E, tal como na Argentina, foi ampla a participação de personalidades e de ONG's do país que nos acolhia, a permitir a troca de experiências e ensinamentos. A imprensa nacional e regional esteve presente e deu notícia das propostas deste novo congresso.
"É muito importante que os homens estejam presentes, não queremos uma sociedade de mulheres, mas antes de homens e mulheres conscientes dos seus direitos e deveres", salientou a Dr.ª Maria Barroso.
Este ênfase na ideia da cidadania feminina para o serviço da comunidade, na linha de pensamento das feministas da 1ª República, leva-nos a vê-la, nos ideais, como na acção concreta pela liberdade e democracia, como uma genuína herdeira dessa plêiade de notáveis Portuguesas do começo de novecentos.

O ENCONTRO NA AMÉRICA DO NORTE
"Conferência para a Participação Cívica e Política"
Toronto Março de 2007 Auditório do "Metro Hall"
Organização Local: Consulado Geral de Portugal, e um elevado número de ONG´s luso-canadianas e canadianas.
Patrocínio da Região Autónoma dos Açores
A conferência reuniu muitos membros de associações, universitários e investigadores, deputadas canadianas, e activistas dos direitos humanos, mulheres e homens, e teve uma cobertura excepcional de todos os media em língua portuguesa de Toronto ( muitos e muito bons), que, de uma forma unânime, saudaram aquela realização e deram a medida do seu relevo, contribuindo para que as temáticas desenvolvidas e o essencial de uma mensagem tão clara e forte chegasse à comunidade inteira.
O Secretário de Estado Jorge Lacão, esteve, naturalmente, nos momentos protocolares de abertura e encerramento, mas também participou activamente nos trabalhos de todos os painéis, Aí divulgou o Plano Nacional para a Igualdade e a extensão da Lei da Paridade às eleições do Conselho das Comunidades Portuguesas (que viriam a ser as primeiras a que as novas regras se aplicaram). O Embaixador Silveira de Carvalho e o Dr. Álamo de Oliveira em representação dos Açores foram também brilhantes intervenientes. E a Cônsul-Geral Maria Amélia Paiva foi unanimemente elogiada pela organização da" Conferência", e, mais globalmente, pelo desempenho à frente do Consulado, onde foi a primeira mulher a exercer o cargo.
A Dr.ª Maria Barroso, partilhou do entusiasmo geral, falando da abertura de horizontes ("A Mulher de hoje pode governar uma Nação"), não deixou, todavia, de denunciar, em contra corrente, muitas discriminações que subsistem: "Temos muito que lutar para que a igualdade entre homens e mulheres seja uma realidade, mas tenho a certeza de que um dia venceremos. Já não será para mim, mas para aquelas que nos darão continuidade".
Para além da Conferência, houve ainda ocasião para corresponder a convites da comunidade, do Museu dos Pioneiros e da Associação de Apoio a Deficientes Portugueses, onde a Dr.ª Maria Barroso e eu recebemos o título de Presidentes de Honra.
Recém inaugurada esta grandiosa obra de solidariedade, converteu-se já um "ex-libris" da nossa Comunidade, tornou-se centro de apoio e, também, de animação cultural e de valorização humana dos mais velhos e dos mais marginalizados.
Na despedida de Toronto fica a frase de Jorge Lacão, que a imprensa reproduziu amplamente: "Viemos ver coisas extraordinárias."
O articulista do" Pós milénio" foi um dos que sintetizou bem o espírito destas iniciativas: "Um encontro para a cidadania tem que se lhe diga. É bem capaz de cavar alicerces que nem sempre foram abertos para todos (...) de trazer à discussão temas do maior interesse, que levam a harmonia a uma sociedade, por vezes pouco lógica e racional".
É de assinalar ainda, fora de Toronto, uma deslocação breve da Dr.ª Maria Barroso a Montreal para um outro encontro, a celebrar o Dia Internacional da Mulher - uma iniciativa que o jornal Luso Presse promove todos os anos. Com a presença do Cônsul Geral Dr. Carlos Oliveira e da Ministra da Imigração do Québec, de várias deputadas e de uma vereadora portuguesa, de uma sala cheia de portugueses, viveram-se momentos irrepetíveis de emoção até às lágrimas, com a Dr.ª Maria Barroso a receber uma infindável ovação, no fim de uma memorável mensagem sobre a história e o futuro da nossa democracia.

ENCONTRO EM ÁFRICA
Joanesburgo, Março de 2008
Sala de Conferência do "Lusito", Associação em favor de Crianças Deficientes
Organização Local: Liga da Mulher Portuguesa na África do Sul. Patrocínio da Região Autónoma da Madeira e do Consulado Geral de Portugal

Nas esplêndidas instalações do "Lusito", para uma audiência onde predominavam as mulheres, mas onde estavam também o Embaixador Paulo Barbosa, o Cônsul-Geral Manuel Gomes Samuel e os dirigentes das principais instituições comunidade, a Dr.ª Maria Barroso falou da situação das mulheres através dos tempos e no nosso tempo e lembrou-nos que "apesar da História ter sido tecida por Mulheres e Homens só a estes é dada relevância" - e esta é justamente uma das injustiças a que o exercício da cidadania no feminino procura por fim.
A oradora focou muito em especial a participação das Portuguesas na luta pela democracia e a importância que isso e outros factores, como a grande guerra mundial e a guerra colonial, tiveram na ascensão das mulheres e abordou preocupações e uma nova agenda de temáticas em que as mulheres podem fazer a diferença - a denúncia da violência nos media, o racismo e a xenofobia, a indiferença perante tantos atropelos dos direitos humanos, a exclusão social, os maus tratos a crianças, a violência doméstica.
O Encontro ganhou uma dinâmica original, a marca do modo de funcionamento da "Liga da Mulher", com a organização de quatro "workshops" sobre: a situação das mulheres portuguesas na Àfrica do Sul e o seu diálogo e colaboração com as naturais do País; os diferentes processos de afirmação das Portuguesas na Diáspora e no nosso País; os principais domínios em que se reconhece perdurarem discriminações; o ensino do português a da nossa cultura na África austral.

Na sessão de encerramento, o SECP António Braga manifestou o seu inteiro apoio ao movimento de mudança que ali se confirmara e anunciou a realização em 2009 de um Encontro Mundial de Mulheres em Portugal.
A missão na RAS, como, aliás, as anteriores, traduziu-se na discussão de ideias e no traçar de metas para trabalho futuro, mas também na criação de laços de amizade que facilitarão a cooperação para a sua prossecução concreta.
E houve tempo para a nostalgia, para a Dr.ª Maria Barroso lembrar que ali estivera a acompanhar o seu filho, salvo pelo empenho e qualidade da medicina sul-africana, depois de um acidente quase fatal. Ou para recordar um prévio encontro com o Dr. Paulo Barbosa, então Embaixador em Israel, durante uma visita presidencial, que coincidiu com a trágica morte de Itzak Rabin, um grande amigo do Presidente Mário Soares e da Dr.ª Maria Barroso. Pedaços da história à qual a antiga fundadadora do PS, Deputada e Primeira-Dama, pertence para sempre.

ENCONTRO NA AMÉRICA DO NORTE Califórnia
Berkeley, Universidade da Califórnia
Maude Fife Room, Wheeler Hall
25 de Setembro de 2008
Organização Local: Profa. Deolinda Adão, (Universidade de Berkeley) e Cônsul Geral de Portugal, Dr. António Alves de Carvalho
A nível da coordenação nacional, foi directamente a Fundação Pro Dignitate e não a AEMM que assumiu o papel operacional de coordenação, a cargo do Dr António Pacheco, actualmente o Secretário-geral da "Fundação"
A caminho da costa oeste, uma breve estada em Elizabeth, NJ, a convite de Monsenhor João Antão, e da paróquia portuguesa de Nossa Senhora de Fátima, em cujos salões se realizou um primeiro encontro de formação de jornalistas lusófonos, centrado nas temáticas da Paz e da Igualdade.
Com Monsenhor Antão, um verdadeiro líder espiritual da comunidade, de quem a Dr.ª Maria Barroso diria tratar-se de "uma personalidade de excepção", visitamos a escola que tem o seu nome. (uma honra num país onde é raríssimo atribuir a instituições públicas o nome de pessoas vivas). Um Liceu muito prestigiado, com vocação para as artes e a música, onde jovens americanos cantaram o nosso hino nacional na perfeição. Difícil foi conter a emoção...
Berkeley recebeu o Encontro sobre "O papel da Mulher no futuro do associativismo e movimentos cívicos da Califórnia", pondo o enfoque nas questões do associativismo feminino, (com uma admirável introdução da Profª Adão), e da colaboração intergeracional assim como do papel dos media na formação para a igualdade.
No encerramento, o SECP António Braga e a Presidente Maria Barroso deixaram a certeza de que as soluções ali propostas não seriam esquecidas.
Ao abordar, tanto em Berkeley como em Elizabeth, o tema da interculturalidade entre comunidades migrantes de diferentes países que se expressam em Português, Maria Barroso, mostrava acreditar (e todos nisso a secundávamos) que, também neste domínio, o entendimento entre as mulheres migrantes dos vários quadrantes da lusofonia pode fazer a diferença (1).
Seguiu-se um encontro mais restrito no departamento de Estudos Europeus, com bolseiros portugueses que naquela tão conceituada universidade preparam doutoramento em diversos domínios.
Antes do regresso a Portugal, nova passagem por Elizabeth, onde Monsenhor João nos preparara uma surpresa, uma singular tributo à Dr.ª Maria Barroso, no termo de um longo périplo por tantas comunidades: naqueles poucos dias da nossa ausência na Califórnia, o talentoso artista Roger Gonzalez (a quem se devem as obras primas de arte sacra da Igreja de Nossa Senhora de Fátima) pintara um esplêndido retrato da Dr.ª Maria Barroso, à entrada da ala da residência onde estivera hospedada!
Ao findar um périplo por tantas comunidades, reavivando a importância histórica do "congressismo" na luta pela igualdade das mulheres, readaptada aos tempos de hoje, a Presidente dos Encontros deixava assim simbolicamente o seu retrato num mural na América do Norte, tal como deixara, por todo o lado, o retrato de corpo inteiro de uma cidadã, capaz de mobilizar pela palavra e pelo exemplo para a mudança em sociedades cada vez mais abertas a todos os seres humanos, mais livres e democráticas.

Em Espinho, em Março de 2009, num último Encontro internacional, com a presença das responsáveis pela organização de todos os que ocorreram na Diáspora, e a presidência da Dr.ª Maria Barroso um ciclo se encerrou, na esperança de que o projecto de mobilização para a cidadania iria prosseguir na rede de solidariedades que ficou criada, e em gestos concretos de vivência da cidadania que as mulheres aprenderam umas com as outras. Esperança bem fundada, que hoje podemos ver ínsita emnovas manifestações de mobilização para a igualdade

terça-feira, 7 de julho de 2015

PERDI UMA AMIGA

QUERIDA AMIGA
Assim me chamava sempre...Assim a considerava eu também...
Uma Senhora incomparável,tão boa, tão simples, tão culta,Cidadã perfeita, na sua incessante procura de fazer mais por um mundo imperfeito. Uma vida inteira, ascencional, pelos caminhos da proximidade com os outros e com Deus
Querida, admirável DrªMaria Barroso!.
Num hospital, sem saída á vista, penso muito nela, para me sentir mais livre, com a liberdade, que está dentro de nós. Continua tão viva na minha memória!

sábado, 13 de junho de 2015

QUE MAL JOGOU A SELEÇÃO...QUE BEM JOGAVA no tempo de DECO!

A seleção jogou tão mal,  que conseguiu fazer com que a Arménia parecesse uma boa equipa europeia . Em compensação, Ronaldo, o "melhor do mundo", foi oportuno e marcou 3 belos golos (que a defesa arménia facilitou, o mesmo se podendo, aliás, dizer dos 2 falhanços de Patrício, a dar os golos ao adversário), E pouco mais haverá a destacar.
Depois do desporto na RTP, segui o comentário semanal de Luís Marques Mendes na SIC. Começou, naturalmente,  pelo jogo de Yerevan...
Lembrou outras seleções bem superiores a esta - tão banal... Falou daquela em que brilhou Figo, mas esqueceu-se da  em seguinte, em que Deco era o grande "maestro" - e que foi, graças a ele, a melhor das últimas décadas. A mostrar que vale muito mais ter um Figo ou um DECO do que um RONALDO - que pode jogar, mas não sabe fazer jogar os outros...
Não é só Marques Mendes que sistematicamente apaga DECO da história. Quase todos os comentaristas o acompanham, mesmo os daqueles jornais que, ao tempo, compunham títulos de 1ª página a destacar a DECODEPENDÊNCIA de uma excelente e inesquecível equipa.
Fica a dúvida:
Será porque DECO  é natural do Brasil? Ou porque é portista?
(ou será uma mistura fatal das duas possíveis explicações, a nacionalista e a clubista?)

domingo, 26 de abril de 2015

UMA DÚVIDA PARA A ETERNIDADE

Será que o FCP teria sofrido SEIS golos em Munique com o "novo" Helton na baliza?
Nada me move, bem pelo contrário, contra o mais jovem Fabiano, mas ele pode esperar.
Sempre achei que a carreira de Baía foi prematuramente posta em causa por pura inépcia do treinador de então - em prejuízo do jogador, do clube e do desporto. Helton ocupou o lugar de Baía cedo demais. Ainda bem que agora não vai, ao que julgo, acontecer coisa semelhante ao próprio Helton, que está a defender melhor do que nunca!
Para mim, Helton impôs -se, como um guarda redes de classe, a partir daquela época de ouro de André Villas Boas.
ABV é o meu verdadeiro "special one" (sem esquecer o outro, também de boa memória,  que faz parte da história do FCP, mas não é portista...). AVB, tal como eu, teve a sorte de nascer portista.

SEM IDADE - HELTON E NELSON ÉVORA

Fantásticos exemplos de superação da adversidade. Demostração de que não há idade para enterrar uma carreira, uma vida desportiva, quando a alma é jovem

AMM no CAFÉ GUARANI

22 de Abril, Café Guarani, 17.30-19.00

Num dos mais emblemáticos e antigos cafés da Baixa portuense, no ambiente informal de tertúlia, o primeiro lançamento da nova publicação da AEMM - publicação que constitui o relato possível do acontecido numa série de debates, em Portugal e em comunidades portuguesas do estrangeiro, sobre o significado da democratização da vida política no País, a partir da revolução de 1974, sobre a sua projeção nas políticas de emigração, no relacionamento com os cidadãos e as instituições da "Diáspora"..
Nesses debates, em auditórios de Universidades - Berkeley, Universidade Aberta de Lisboa, Sorbonne, Toronto - de escolas do ensino secundário - em Espinho, em Elizabeth, New Jersey - do MNE, dos Municípios de Gaia e de Espinho, houve muitas oportunidades de ouvir mulheres e homens sobre o quadro geral do fenómeno migratório, assim como sobre a evolução do papel das mulheres nos movimentos de expatriação e de retorno e no movimento associativo: partindo da história e da memória de sucessivas gerações até aos dias de hoje, com a avaliação da dimensão atual do fenómeno, da sua componente feminina, das novas formas de associativismo e de vivência das relações com as sociedades de origem e de destino.
No Guarany, muitas participantes, e alguns participantes também, dialogaram sobre o renascimento da democracia em Portugal e a sua projeção no domínio das migrações de saída e regresso.
Moderou, como sempre muito bem, Nassalete Miranda, começando rigorosamente às 17.30 e terminando, como previsto, um pouco depois das 19.00. Foram cerca de 100 minutos de conversa animada, que passaram depressa demais. Mas todos terão ocasião de falar do que ainda ficou por dizer na próxima apresentação, em Espinho, na Biblioteca José Marmelo e Silva, no dia 13 de maio às 16.00.
No Porto, estiveram as coordenadoras da publicação - Graça Guedes e Manuela Aguiar, tendo Arcelina Santiago enviado mensagem do Alto Minho, onde trabalho profissional a retinha,
Dos co-autores dos textos publicados, para além das dirigentes da AEMM, há a destacar a presença e intervenção do dr Amândio de Azevedo.
Entre as animadoras da reunião, uma maioria de "mulheres d'artes", que têm colaborado, de uma forma contínua e admirável, com a Associação. E entre as entidades parceiras da AEMM, a presidente do Observatório dos Luso- descendentes, Drª Emmanuelle Afonso.
À despedida, um agradecimento especial para o Senhor Barrios, o nosso anfitrião - o antigo emigrante no Brasil, que veio para o Porto, restituir à cidade os seus mais belos cafés - o Majestic, o Guarany, onde renasceu o ambiente, o espírito do "café-tertúlia".

terça-feira, 21 de abril de 2015

Joan Marbeck - Malaca e a "Linggu Kristang" no século XXI

Mutu Grandi Merseh Manuela. Onti pos jah lebah pra yo libru Mulher Migrante ( 1974 -2014 40 Anos de Migracoes em Liberdade) Korsang yo fikah mutu allegrih pra olah na pg 103 yosa email kung bos ki falah nos sa encontra na Melaka kung jah fikah yo sa kambradu teng binti seti anu. Mas bos sa saportah kung inspirah kung yo fikah ung skribang pra dokumentah ' Papiah Kristang' Ozindia yo fikah gabadu pra falah agora yo jah publikah tres libru na Linggu Papiah Kristang. Yo lo kontinua isti sibrisu pra skribeh Linggu Kristang pra mas tantu anu, ateh teng jenti kristang idadi ka mas krensa di yo sigih skribeh kung kontinua yosa sibrisu ki yo tantu amor. Masembes, mutu grandi merseh pra tudu ki bos jah fazeh pra yo.

English Translation:

Thank you so much Manuela. Yesterday, the Post brought me the Migrant Women Report - 1974-2014 ( 40 years of Freedom Migration) I was filled with happiness to note of an email article from me on Page 103. It related of our 1st Meeting in Melaka in 1988 when I was introduced to you by Rev. Fr. M. J. Pintado. Photos show of our 2nd. Meeting at the Marbeck Family Home Museum in 1996. Our collaboration, your support and inspiration in my work of Reviving the Language and Culture has seen me publish 3 books in the Papiah Kristang language. I shall continue with this work of documenting the Papiah Kristang Language and Heritage as long as I am able to do so and until there are others especially the younger generation of Eurasians who will continue with interest and passion the work on our Heritage, Language and Culture for the future. Once more let me say a big Thank you for all you have done for me and the Eurasians of Malaysia.
Nóe é que temos de agradecer a Joan tudo quanto vem fazendo e vai continuar a fazer pela lusofonia no Oriente. Que bela é esta língua antiga que nos une ainda no século XXI! A "Lnggu Kristang"!

segunda-feira, 20 de abril de 2015

HISTÓRIAS DA PRAÇA DE LONDRES

1  -  Praça de Londres - local de trabalho

A Praça de Londres é a minha Lisboa favorita desde que, em janeiro de 1967, tive de deixar o Porto e de ir trabalhar para a capital (que era, ainda, a capital do império, embora de um império a caminho do fim).
Não posso dizer que a Praça mudou a minha vida, mas sim que a minha vida mudou nessa Praça - e por mais de uma vez. Foi o cenário onde me aconteceram coisas surpreendentes e determinantes de um futuro nada planeado, antes aceite pela incapacidade de dizer não ou pela curiosidade de dizer sim ao que se me ia oferecendo, em cada novo dia. Mudança, movimento...
A Praça  foi o cenário do meu primeiro emprego num centro de estudos jurídicos (do Ministério das Corporações e Previdência Social), e, uma década depois, de uma acidental entrada num governo da República. Governo atípico, de independentes, de iniciativa do presidente Ramalho Eanes (o IV Governo Constitucional). Ou seja, do meu tirocínio na política, como Secretária de Estado do Trabalho do Executivo de Mota Pinto - a última coisa que podia antever. Mas o Prof Mota Pinto era alguém com quem valia a pena trabalhar. Homem inteligentíssimo, um professor de Coimbra, que todos os alunos admiravam, como jurista e como pessoa. Mais inteligente, mais sério e mais generoso, não é possível ser. E quem assim pensa do Primeiro Ministro, num tempo tão conturbado como aquele, sendo chamada, por mais estranhável que seja a chamada, não vai recusar.
Gostei de ambas as experiências - da profissional, que durou 7 anos felizes, e da política, nos seus efémeros e intensos 9 meses.
E gostava do fim do dia, de sair para a Praça, atravessar a Avenida de Roma e ir tomar um café ao Londres, ou, mais adiante, à Mexicana (tudo nomes cosmopolitas...). Como era simpático o seu pequeno jardim, a vista das largas vidraças dos meus gabinetes (o de assistente do Centro no 1º andar, o de governante no 16º), a assimetria das ruas que aí acabam ou começam - nenhuma delas particularmente fadada pela originalidade ou monumentalidade arquitetónica, mas tranquilas e discretas, como a média burguesia que as habitava! Tinham sido as "avenidas novas", nma época, politicamente infausta, mas  convivial nas relações de vizinhança. De espectacular, nessa Praça, apenas o prédio sede das minhas funções, o "arranha - céus" do Ministério das Corporações (no ancien régime) ou Ministério do Trabalho (em democracia). Obra do Arquiteto Sérgio Botelho Andrade Gomes, que vim a conhecer muitos anos depois. Um artista e um encanto, como pessoa! O edifício, sóbrio e elegante, por algum tempo o mais alto de Lisboa, concebido de raíz para hotel de luxo, acabou reconvertido para serviço da República, Funcionários e não turistas estavam destinados a usufruir. dos seus grandes e luminosos espaços. Ladeavam-no, de um lado, a Igreja branca, (que é o melhor que se pode dizer em seu favor), do outro lado, cafés, lojas, que subiam de nível e de preço na Avenida Guerra Junqueiro. Ali perto, havia cinemas, o tradicional Roma, e outros que foram surgindo e prosperando, com audiências fieis, que eu sempre contribui para aumentar.
Naquele "arranha.céus" vivi uma infinidadde de dias e acontecimentos agradáveis dos meus anoss de assistente, mas, não sei porquê, do dia inicial recordo apenas a simpatia do Diretor do Centro de Estudos, o seu gabinete enorme, e uma visita á Biblioteca, guiada pela responsável máxima, muito bem vestida de roxo (que, como pude constatar, usava todos os dias, embora. às vezes, em imaginativas combinações com outras cores fortes e contrastantes). Deve ter corrido tudo, como dizem os brasileiros, "bem demais", com os gestos e palavras certos e, por isso, sem história...
O contrário posso dizer do me primeiro dia de governo... Fui para a Praça de londres, logo depois da tomada de posse, de boleia no carro dos meus amigos do SPJ, onde era, então, assessora do Provedor...O que me ficou gravado, indelevelmente, na memória não foi todavia a primeira reunião de trabalho, foi a saída, não da reunião, mas da porta de entrada do edifício. Nesse exato lugar, à vista do café Londres, me esperava o carro, o inevitável carro oficial. Não faço a menor ideia da marca do carro, nem do modelo, nem da cor...Só me lembro mesmo do motorista, pequeno de estatura, cara redonda e muito corada, o mais cerimonioso que imaginar se possa. Mantinha aberta a porta traseira e mal entrei, sentou-se ao volante e perguntou-me: "Como é que Vossa Excelência deseja ser chamada? Senhor Secretário de Estado ou Senhora Doutora?.
Abismada, respondi, sem hesitação: "Senhora Doutora, se faz favor!"
A nossa memória é assim, seletiva, com critérios que não são os nossos. O imprevisto de uma pergunta deixou marca mais funda do que todas as questões tão relevantes que preencheram a tarde.

2- Os porquês de um convite para o Governo da República

De uns, sei. De outros não, avento suposições, ou nem isso...
Mas, quando me questionam sobre as razões porque me envolvi na política - uma daquelas questões tão previsíveis e sem graça, que continuam a fazer-me, intermitentemente - tenho dado a mesma resposta, ao longo de algumas décadas. Não resisto a repetir-me. Cito-me textualmente: "Pela razão errada, porque não tinha filiação partidária, não queria fazer política e apenas aceitava participar num governo de independentes do qual, a curto prazo, esperava voltar para a minha rotina profissional".
Não tinha vocação, não tinha jeito, não sentia atração. Não queria comandar hostes, nunca tinha chefiados nada nem ninguém, ao menos desde os tempos de criança ou de estudante do liceu, em que me fartei de mandar em gente da mesma idade e nem sempre do mesmo sexo - em atividades lúdicas, quase sempre à volta de uma bola de futebol.
Mas fascinava-me discutir política, claro - vinha de uma família onde isso fazia parte do convívio e onde as fações eram múltiplas,  mais para a direita do que para a esquerda ( o que na relatividade destas coisas, me fazia esquerdista, ou mesmo muito esquerdista). Era feminista, regionalista, portista... democrata, europeista, social democrata à sueca... Tinha opiniões, quadrante partidário, paixões políticas (quase comparáveis às paixões desportivas, a primeira das quais foi por Yustrich, Monteiro da Costa, Jaburú e outros seus contemporâneos ). Também tinha - fator decisivo - amigos na política do pós 25 de abril, de ideologias várias, incluindo a minha.
Por coincidência, precisamente quando o velho regime caia, acabava eu de tomar posse como assistente da Faculdade de Economia de Coimbra (por "precisamente" quero dizer umas horas antes).
Enquanto Salgueiro Maia preparava a saída de Santarém para Lisboa, estava eu em Coimbra, depois de quase uma década de ausência, e assinava o auto de posse... (E, poucas semanas depois, transferia-me para a minha Faculdade de Direito).
Coimbra foi, pois, o ponto de reencontro com antigos, professores, antigos amigos, que estavam convertidos em novos e influentes protagonistas no processo de democratização "em curso".
Em 1978, já eu estava de volta a Lisboa, a tempo inteiro, mas mantinha contacto com alguns deles.

Ora, nesse ano, um governo de independentes, precisava obviamente de independentes,- mas não de quaisquer uns, de preferência individualidades unidas por sintonia ideológica com o chefe do governo. Foi isso que Mota Pinto conseguiu - tornando mais coesa e dinâmica a sua equipa do que tudo o que se vira antes. Quase todos eram de uma área social democrata, com um ou outro mais à direita ou mais à esquerda, sem destoar demais. Muitos vinham de meios académicos. Houve até um jornalista, já não me lembro qual, que achava que o Governo Mota Pinto mais parecia um Senado universitário. Um bocadinho exagerado, mas il y avait du vrai... (a mim, por exceção, calhou-me em sorte um ministro que vinha direto do Conselho da Administração das cervejas).
Suponho que o Professor se lembrou do meu nome para aquele pelouro, porque era oriunda do ministério, trabalhava há anos naquelas matérias, não tinha filiação partidária, tinha, sim, posicionamento político e reclamava, fervorosamente, mais participação de mulheres na "res publica". Fui, pois, sem dúvida, vítima dessa reivindicação, geral e abstrata, na qual eu pessoalmente não entrava, como voluntária. Vi-me confrontada concretamente com a necessidade de preencher a vaga que reclamava para o género feminino, E dei o passo em frente.

3 Senhora Secretário de Estado?.
Questão de género e questão da gramática.

Foi no gabinete do Dr Cortez Pinto, o diretor do Centro de Estudos, que muito ativamente me envolvi numa primeira polémica sobre os nomes de cargos desde sempre masculinos, quando finalmente se quebrava o monopólio desse sexo no seu exercício. Teresa Lobo acabava de tomar posse de uma Subsecretaria de Estado, precisamente naquele Ministério.
 Mais um símbolo da primavera marcelista.
Só a vi de longe, em raras ocasiões, atravessando o átrio do Ministério, passo rápido, elegante, fato de bom corte, impecável penteado alto e arredondado, como o que que a Drª Manuela Eanes voltou a pôr em moda, depois da revolução. Precedida por contínuos que, diligentemente, chamavam o elevador, seguida por outros servidores públicos que lhe levavam a pasta, os dossiers. A sua passagem provocava sempre interesse e comoção, maiores do que a de colegas masculinos...
Para mim, era um mais um capítulo da história viva do feminismo português, muito embora, suponho, aquela Mulher, que fazia história, não fosse feminista, nem mesmo à maneira da Pintasilgo, então Procuradora ( "Procurador", para a maioria dos meus colegas) à Câmara Corporativa.
Quanto a Teresa Lobo, as nossas opiniões dividiam-se - para o Diretor, para muitod dos assistentes, era a Senhora "Subsecretário de Estado", para mim, não. Impunha-se adequar o título ao sexo feminino, mas, em vão, argumentava com o exemplo daqueles cargos, onde as mulheres ja eram numerosas - notárias, conservadoras dos registos, advogadas... Não convenci ninguém.
Vendo bem as coisas, o meu motorista, no ano de 78, estava, afinal, completamente sintonizado com aqueles ilustres juristas - e, mais e melhor do que eles, resolvia, pelo menos, o problema da consonância gramatical (já que o de género, para eles, nem se punha...).
A revolução democrática mudara muita coisa, mas ainda não o sexismo das denominações ministeriais. Pintasilgo foi, na terminologia oficial, "Ministro dos Assuntos Sociais" e "Primeiro Ministro", sem levantar objeção.
No 8 de março de 2015, numa breve entrevista à televisão, Leonor Beleza contava que tinha sido a primeira mulher a integrar como "Secretária de Estado" (da Segurança Social?) o organigrama de um governo constitucional. Deve ter tido a influêmcia necessária para operar essa pequena grande revolução terminológica.
Se foi em 1983, disso beneficiei diretamente, como Secretária de Estado da Emigração. Mas confesso que não dei pela mudança. À revelia das qualificações oficiais, sempre me auto intitulei no feminino, respeitando a gramática da língua portuguesa.
Dilma, que tinha o poder de se fazer chamar como entendesse, oficialmente, escolheu ser a Presidenta da República Federativa do Brasil. Soa mal, mas é politicamente correto e gramaticalmentetem tem apoiantes. Fui verificar no dicionário da Texto Editora de 1999, e lá está: presidenta, feminino de presidente, mulher que preside...
Aqui no país, nem a Leonor, nem eu nos intitulámos "vice -  presidentas da AR", cargo que ocupamos sucessivamente, ainda no século passado... E nem a atual presidente da AR reclama uma tal feminização da terminologia...
4 - Eu e a minha nova "circunstância"
Na minha vida, mudaram as circunstâncias. E eu? Será as circunstâncias me mudaram?...
Deixarei a pergunta sem resposta - é a coisa mais fácil. Na verdade, não sei a resposta. No que me respeitava, não, evidentemente, no que concernia a história da minha vida. porque essa foi mais construída pelas circunstâncias do que por mim. Ou não? Mais duvidas...
Houve surpresas. Surpreendi.me! Aos outros, não faço ideia. Nunca quis averiguar.
Como dizia Idi Amim Dadá aos seus ministros, num filme.documentário inesquecível, que passou em Lisboa no verão quente de 75, (o único em que me ri mais do que nos melhores "Woody Allen"): "um ministro tem de decidir". Um Secretário de Estado, também, no domínio das delegações de competências ministeriais que nele recaem...
A maior surpresa foi a de verificar que não tinha a mais pequena dificuldade em decidir! Vista a situação à distância de 30 anos, acho que isso me tornava potencialmente mais perigosa. E se nem sempre o potencial de risco se concretizou, deveu-se a boa sorte, com certeza, e a uma extremamente cauta atitude quanto à escolha de colaboradores próximos. O meu "inner circle" era uma muralha de aço, para usar linguagem de época. Ou melhor, em tom menos bélico, um grupo de sábios, que tinha a dobrar toda a sageza e experiência que me faltavam... Aqui fica a receita, para quem quer que se veja em tais trabalhos.
Um velho plítico, que eu considero o expoente da sua geração - a anterior à minha - ensinou-me, um dia, um ditado com uma perfeita adequação às realidades a que se reportava (os políticos que, desde há já alguns governos, temos pela frente): DESCONFIAI DE PAREDES VELHAS E AUTORIDADES NOVAS - CAEM-NOS SEMPRE EM CIMA ....
Contra mim, tinha, então, o facto de ser a quinta essência da "autoridade nova" - em idade e em experiência, agravadas pelo temperamento (faceta de que ainda não falei, mas que, desde já, afirmo, que não ajudava nada) e pela singularidade, partilhada por muitos membros da equipa de Mota Pinto, de não recear as consequências de decisões polémicas numa carreira política futura, porque não via o meu futuro em semelhante carreira.
A favor, jogaram vários dados, alguns dos quais talvez tenham motivado tão insólito convite, mas outros não, apenas acresceram, afortunadamente: estava no "meu" ministério, no meu domínio preferido do Direito, conhecia pessoas, serviços, mecanismos. Tinha um elevado conceito da sua qualidade, mesmo nos tempos do velho regime. Acreditava que os funcionários públicos eram tão bons ou melhores do que os talentos do setor privado... Tinha trabalhado ao lado de grandes juristas, grandes peritos, em comparação com os quais eu era uma modesta aprendiz.O ambiente de cooperação e convívio era tão bom que, em mais de 7 anos, não recordo o mais pequeno incidente ou disputa (a não competitividade por lugares ou promoções traz ao de cima o melhor da natureza humana? Não sei será se será esta uma das explicações para os paraísos laborais que foram o Centro de Estudos de 67 a 74 e a Provedoria de Justiça de 76 a 80. - com os mais simpáticos colegas e os mais amáveis chefes que alguém poderia desejar).
Ou seja, tudo me tinha preparado para acreditar firmemente que precisava de encontrar, de imediato,  conselheiros que soubessem do ofício mais do que eu! Como me dei bem com essa estratégia, desde 78, nos meus cinco gabinetes, nunca houve nem "boys" nem "girls", provenientes de escolas de juventude dos partidos. Sempre preferi gente que fazia o favor de colaborar com o governo, do que rapaziada que estivesse ali por favor partidário,
Além de muito boa, a minha equipa era quase 100% função pública, pequena e muito fratterna.
Comecei pelo Chefe de Gabinete - para uma mulher Secretária de Estado, a regra da paridade aconselhava um homem para nº 2.  De preferência, um especialista de direito administrativo. Havia um, excelente, na Provedoria de Justiça. De Coimbra, antigo aluno de Mota Pinto, meu colega e amigo, não conseguiu dizer que não. Foi a minha salvação . papel que ele lesse e aprovasse , era papel que eu podia assinar com segurança...
Seguiram-se os dois adjuntos: uma jurista e um jurista, ambos dos quadros do Ministério, com larga experiência. Paridade perfeita...
Duas secretárias, competentíssimas, vindas de anteriores gabinetes, formadas pelo ISLA, colegas de curso (pura e feliz coincidência, como veremos...),
E os motoristas, funcionários do Ministério, naturalmente.
Duas categorias, que desafiaram o objetivo do equlíbrio de género, que eu perseguia dentro do horizonte do possível. Mulheres motoristas, não havia, de todo. E secretários, com aquele nível de eficiência, também não eram do conhecimento de ninguém.
Problemas internos, só houve mesmo com os motoristas. O primeiro resistiu pouco tempo, depois, um segundo também. Não cumpriam horários, davam desculpas fracas, eu sei lá.... Até que consegui aliciar o motorista da Secretaria-Geral. Uma grande transferência. Chamava-se Caravana.
 Eu gostava imenso do Senhor Caravana - era pontualíssimo, nunca falhava, sempre alegre, a contar histórias engraçadíssimas, dos tempos da revolução, do Alentejo da reforma agrária. Guiava muito bem, muito rápido. À vezes, passava um pequeno sinal vermelho - o que os franceses chamam "bruler les rouges", considerando isso, quando feito habilmente, coisa menor (exatamente o meu ponto de vista). Guardava uma arma de fogo debaixo do assento (eu sou alérgica a pistolas, salvo no grande écran dos "westerns", mas condescendi, com aquela otimista certeza de que ele não ia precisar nunca de fazer de Lucky Luke, para me defender de um assalto, por absoluta falta de assaltantes para o anónimo alvo, que eu era).
Depois que o Senhor Caravana completou o meu elenco, ele foi absolutamente perfeito.  Alguns conflitos e imbróglios vieram de fora e foram combatidas, por nós, com espírito mosqueteiro:  "um por todos e todos por um um".

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Páscoa em MONTREUX 1968

Uma Páscoa memorável, a de 1968!
Uma decisão felicíssima a de escolher Montreux para passar um fim de semana do tempo Pascal. Montreux  é a mais bela cidade das margens do lago Léman , não muito distante de Genebra , onde eu participava, então, num curso do Instituto de Estudos do Trabalho da OIT e a minha prima Eduarda fazia turismo.
Fomos as duas à aventura, sem reserva de hotel - acabamos no albergue local da juventude, mas até isso teve a sua graça e representou uma imensa poupança no nosso orçamento de viagem...
Tudo estava destinado a correr bem. O sol brilhava sobre o Castelo de Chillon e sobre o grande lago. Foi por puro acaso que vimos, na rua, o cartaz que anunciava a final da Taça das Nações de hoquei em patins. A nossa Nação disputava, nessa noite, o título com a Espanha. Conseguimos ingressos na 1ª fila, rigorosamente ao centro. Nunca tinha visto um jogo tão perto, sentia-me em campo...  A Eduarda nunca tinha visto um jogo sequer, mas o seu entusiasmo era igual ao meu... E igual ao de numerosos portugueses que nos ladeavam. Não sei de onde tinham surgido - tantos... -,  atendendo a que a grande emigração para a Suiça só haveria de acontecer mais de uma década depois.
Uma fantástica vitória, seguida de convívio,  celebração e  jantar com os nossos vizinhos do lado! Eram do Porto,  logo descobrimos que tínhamos muitos amigos em comum. Graças a elas e a eles, antecipámos o regresso a Genebra, aproveitando uma simpática boleia (e escapando, assim, a mais uma dormida no albergue, muito pitoresco e juvenil - mas a experiência estava completa, não era preciso exagerar...).

sábado, 4 de abril de 2015

MANUEL DE OLIVEIRA NO PANTEÃO?

Esta moda de povoarem o Panteão...  Nenhum notável parece poder escapar, nos tempos mais próximos
Se se discute o mérito, claro que o grande cineasta o merece.
Mas compreendo bem aquelas senhoras que a Tv entrevistou ontem e que diziam:
"Ele é do Porto , queremos que fique no Porto". Isto é, na sua terra, onde está o coração de D Pedro, I do Brasil e IV de Portugal. Ao lado dos seus, no jazigo de família..
Há tantas outras formas de o homenagear - bem mais vivas!  Dar-lhe, a ele, ao seu cinema, ao cinema português e universal, um novo espaço, uma nova centralidade e importância, aqui no Porto. Na  cidade onde morou, junto ao Douro, que imortalizou na arte cinematográfica..

domingo, 1 de março de 2015

EM MOVIMENTO

O gosto da vida e o gosto do movimento, para mim, foram sempre a mesma coisa.
Não importa tanto a distância, como a atitude.
Um astrólogo diria –“está nos astros – o seu signo é gémeos”. Um conhecedor da história da família diria antes: "está nos genes – sai à Avó Maria”.
Mas mesmo essa mítica Avó Aguiar, poderosa matriarca, mãe de 8 filhos -  4 nascidos em Gondomar, quatro nascidos no Rio de Janeiro - , de muitos mais netos e bisnetos, que cuidou ao longo dos 91 anos sobre o planeta terra, se inquietava com a pequena descendente que, aos 3 ou 4 anos, já corria por escadas e corredores longos ou pelo jardim, e, caso único entre tantas crianças da família, não parava nunca...
A Avó comprava-lhe cadeiras interessantes e diferentes, alentejanos, de cores garridas, de madeira, de verga... Agradecia, expansiva, fazia à volta delas uma festa, experimentava-as de imediato, naturalmente, mas não ficava muito tempo sentada. Só com um livro na mão, alguns anos depois... 

sábado, 28 de fevereiro de 2015

CRATO e JUSTINO


 A minha divisa é: "de exames e chumbos, o menos possível".
Estou, pois, nas antípodas do actual Ministro da Educação, que, ao que parece, acredita na multiplicação dos exames, a todos os níveis, como a grande panaceia para a melhoria do nível do ensino...Acho esta perspectiva completamente errada. Os exames não acrescentam nada a ninguém. A melhor avaliação é a que os professores fazem de forma continuada, atentos ao progresso dos alunos. A qualidade do ensino é a qualidade das pessoas - de quem ensina e de quem aprende.
Os exames nacionais são apenas uma prova de desconfiança nas escolas, nos professores...
E chumbar não pode ser visto como um castigo, mas antes como um privilégio. Assim se pensava já na Suécia, em finais da década de 60. Na altura, isso para mim foi uma surpresa, porque nunca tinha imaginado que fosse possível criar um sistema em que os chumbos fossem uma anomalia, mas logo aderi àquela escola de pensamento (estava num curso organizado para francófonos pelo Instituto da Informação em Estocolmo - "Connaissance de Suéde"). Um verdadeiro achado: só repetia o ano um aluno, que por razões excepcionais, não tivesse conseguido acompanhar os outros - caso em que era objecto de atenção e apoio especial. Era a social -democracia, no seu melhor!
Em Portugal não havia, então, sequer democracia, quanto mais social-democracia... Mas seria o modelo praticável no Portugal depois de 1974? Nunca um Ministro de Educação ousou propo-lo... Parecia-me que não...
De repente, em 2015, um antigo Ministro da Educação e actual Presidente do CNE veio abrir caminho a considerar esta opção. Já era coisa de causar espanto, neste país conservador, de tradição patriarcal e autoritária! Fantástico descobrir que, na nossa "inteligentsia", ao lado dos Cratos existem Justinos - mesmo que os Cratos sejam muitíssimos e os Justinos poucos...
Porém, mais fantástica ainda é a notícia que vem na 1ª página do Expresso: o Agrupamento de Escolas  de Carcavelos aplica este modelo "nórdico", com sucesso, há já 12 anos!

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

"BOYHOOD" (o filme) EM ESPINHO

Uma bela iniciativa, esta de organizar um mini ciclo de cinema com filmes candidatos a óscares,
Na verdade, os óscares são o que menos me interessa - o que me interessa são mesmo estes 3 filmes. O Grande Hotel Budapest, que vi quase por inteiro no Dolce Vita Porto - tive de sair antes do fim- Que prazer  voltar ao princípio e chegar até ao último fascinante momento...
Comecei, hoje por Boyhood... excelente... não tem altos e baixos, é sempre, sempre excelente. True to life , in USA.
E aquela verdade universal: the moment seizes you...
Pelo meio, há ainda Birdman.
Tempos houve em que em Espinho se podia ver 60 filmes por mês, um por dia em dois cinemas, o do Teatro S Pedro e o do Casino... depois fomos dos 60 aos 2 - ou menos.
Agora poder ver 1 filme por dia durante 3 dias no Multimeios é uma festa!!! 
  .

COM JC JUNKER

Conheco-o há muitos anos - ainda ele era um jovem Secretário de Estado, responsável pelas questões do trabalho e da imigração. Um bom aliado dos trabalhadores portugieses.
 As suas afirmações sobre a torika não me surpreendem.
Sempre gostei dele. Continuo a gostar e, como se vê, tenho boas razões para isso

ICH BIN ( nicht) EIN BERLINER

Asssim falaria, provavelmente, Kennedy hoje... É mais ou menos isto o que tem dito Obama sobre a nova Alemanha -  pós queda do muro e reunificação - e as suas políticas de austeridade, a troika, a Grécia, o futuro de uma Eurpa subjugada pelo egocentrismo germânico, .
É o que digo com crescente sentimento de revolta, apenas alterando "ein" para "eine"  - "um" para "uma".
Já não somos berlinenses. Berlim, capital da Alemanha é agora a capital da Europa, contra a Europa... Teremos de ser cada vez mais gregos. para sermos europeus em liberdade...