terça-feira, 28 de abril de 2020

TODOS MASCARADOS



p
TODOS MASCARADOS
1-  O Presidente da Assembleia da República, para além de algumas declarações "politicamente incorretas" (em prejuízo das comemorações
 do 25 de abril, que deveriam ter sido consensuais), foi mais longe ainda no campo do "cientificamente incorreto", com a sua indignada
 rejeição do uso de máscaras. Tal como Graça Freitas, ainda não percebeu que o sucesso do "desconfinamento" em segurança, ou com
 mais segurança, vai depender da insubstituível arma defensiva que é a máscara, cujo uso deverá ser obrigatório no espaço público,  e,
 aconselhado, igualmente, nas visitas a familiares e amigos. Eu fá-lo-ei, voluntariamente, consciente de que, com uma simples máscara 
protejo os outros. Deles espero reciprocidade.  
Sobre a COVID 19, crescem dúvidas e pavores, e as nossas raras certezas remontam, por sinal, aos primórdios da pandemia. A primeira é 
de que se trata de um vírus altamente contagioso, e, na esmagadora maioria de casos, escondido, como camaleão, numa ausência de 
sintomas ou na mansidão de sintomas ligeiros e enganadores.Outra certeza é a de que a taxa de contágio desce, substancialmente,  com o 
uso  de máscaras. A invisibilidade do vírus tem de se atacar, usando-as, realizando rastreios maciços, isolando os positivos, que os testes 
detetam. Não basta adesinfeção das mãos e o afastamento dos nossos semelhantes (um metro ou dois, ou mais -  aí já se penetra no terreno
 da incerteza). Por vezes, temos de nos aproximar dos outros, ao menos para  pagar uma compra, ou quando nos cruzamos num passeio 
estreito, e não é o ato de lavar as mãos, que nos livra (ou livra os nossos interlocutores) das gotículas potencialmente infetantes de um súbito
 espirro ou tossidela... A experiência dos países que sempre praticaram o confinamento seletivo ou melhor concretizaram o "desconfinamento"
 global está aí, em diversos continentes, para o provar. Negando as evidências, Graça Freitas caiu em descrédito, qualquer que tenha sido a 
razão da sua luta longa e quixotesca contra as máscaras (mera tentativa de encobrir impreparação, e falta de equipamento protetor nos
hospitais?). O Primeiro-ministro tem dado mostras de estar ciente de que não pode avançar para o "desconfinamento", sem, previamente, 
assegurar a abundância, no mercado, de material protetor. Enquanto aguardamos a sua decisão, aqui deixo um apelo: na rua, todos
 mascarados!

2 - Ao "estado de emergência", deve suceder o "estado de calamidade". Muda o nome, fica praticamente intacto o poder discricionário do
 executivo, apenas balizado, teoricamente, pela Constituição. Ao que consta, finda esta inédita ordália do emparedamento, seguir-se-á uma
 abertura gradual, privilegiando setores de atividade, e, eventualmente, grupos etários, cidades, regiões - segundo o critério do Governo.
 Para já, o debate público tem-se centrado, sobretudo, na necessidade de isolamento, até que seja operacionalizada uma vacina  (lá para 
2001 ou 2022...) não de todos os "grupos de risco", mas apenas dos maiores de 70 anos, muitos deles gozando de boa saúde, como o
 Presidente Marcelo. Está encontrada uma nova "peste grisalha"! Esquecidos andam, no debate, os diversos grupos de comprovado risco -
 diabéticos, (mais de um milhão) , cancerosos,  doentes renais, pulmonares, cardíacos…( que deverão tomar, eles próprios, tal como os
 seniores, as devidas cautelas).
No anos da troika e do governo de Passos Coelho, em cujo partido surgiu a designação de "peste grisalha", estava, supostamente, em causa
 a sustentabilidade do sistema de pensões. E, por isso, sobre os reformados foi lançado um aberrante imposto etário, denominado
 "contribuição extraordinária de solidariedade". Era inconstitucional, mas foi validado pelo TC, com alguns honrosos votos contra. Agora,
 para garantir a sustentabilidade do sistema de saúde, (debilitado por cortes insensatos), emerge a tentação de sacrificar os mesmos, os mais
 velhos, que, nos termos da declaração do estado de emergência, se viram sujeitos, tal como os cidadão de outros grupos de risco, a um
 "dever especial de confinamento". No futuro, se o governo mantiver esse dever de confinamento, estará, de facto, a condená-los a prisão
 domiciliária, atentando contra Liberdades e Direitos Fundamentais. Manuel Alegre, de imediato, levantou a voz para protestar. Não há limite
 de idade para defender a Liberdade!
3 - Traçar a fronteira etária do declínio físico e mental é coisa impossível. Não existe categoria mais heterogénea. É inegável que muitos 
idosos sofrem de patologias graves, e, é por isso e não pela idade cronológica, que estarão em situações de risco, altamente agravado no
 caso dos residentes em lares, legais ou clandestinos. Deles ninguém cuidou atempadamente! Aqui, como na Europa, de norte a sul, 
constituíram grosso das fatalidades da COVID 19. Bom será que os nossos políticos atentem na vergonhosa realidade de tais estatísticas.
 E que encontrem, também, explicação para o facto do enorme acréscimo de mortes (mais 3000) ocorridas no país, nestes dois últimos 
meses, em comparação com o mesmo período do ano passado, e atribuídas a outras causas, que não a pandemia. Talvez o medo de
 recorrer a um hospital, o medo de sair de casa...  Medo, solidão, desesperança vitimaram mais velhos do que o corona vírus! É a hora de
 ouvir uma voz que se levantou acima do ruído das banalidades, a do Cardeal Tolentino Mendonça: "Que os velhos se tenham tornado uma
 abandonada periferia - e os condicionamentos da pandemia podem ainda dramaticamente acentuá-la - diz muito da crise interior que mina
 o nosso tempo

sábado, 18 de abril de 2020

A COVID 19 - mais CINEMA e menos FUTEBOL

Entre as medidas que este preclaro Governo se prepara para tomar, na normalização possível no pós estado de emergência, decretado por Sua Excelência  o senhor Presidente da República, está a reabertura de cinemas, com lugar marcado e lotação limitada, e futebol à porta fechada.
Que me desculpem os senhores governantes, mas tenho de lhes dizer: não entendo!!!.
Então os estádios desportivos, ao ar livre, têm de estar de bancadas inteiramente vazias e as casas de espetáculos, pequenos retângulos fechados, acanhados, muitos deles subterrâneos, clautrofóbicos, podem ter público, de duas em duas filas e de três em três lugares?
It is a mad, mad, mad world (título de um filme hilariante que vi, há muitos anos).

sexta-feira, 17 de abril de 2020

DEFESA DE ESPINHO 80 anos

Comemorar 80 anos de vida do jornal "Defesa de Espinho" é, bem vistas as coisas, lembrar e festejar 80 anos de vida do concelho, da terra e de várias gerações de Espinhenses, que o são pelo naturalidade ou, simplesmente, pelo afecto.
Assim é, antes de mais, porque a qualidade do seu jornalismo, a percepção e tradução da realidade, que serve de matéria prima à "Defesa de Espinho", lhe tem permitido cumprir o projecto que faz jus ao próprio título: um projecto de defesa dos valores e de afirmação das singularidades do espaço geográfico e das vivências de que se constrói a identidade desta terra tão extraordinária, de que todos nos orgulhamos.
Através da informação e da opinião plural, da crónica e das notícias do quotidiano, se pode acompanhar um longo percurso colectivo de oito décadas e se guarda a memória de eventos sociais e culturais, de vicissitudes e de problemáticas que marcaram cada época - em suma, da evolução e das transformações da história local.
Há um património riquíssimo da cidade e das suas gentes, que se expande em muitos e muitos milhares de páginas - retratando as tradições piscatórias, que sempre conviveram bem com o vanguardismo da estância balnear dos tempos de juventude de meus Pais, assim como, depois, com o bulício da vila alegre e ainda bastante cosmopolita dos meus anos de "teenager" - os banhos na "Praia Azul", o rinque de patinagem à beira-mar, os bailes no salão da Piscina, as "matinés" do São Pedro ou do Casino, as noites de vai-vem no Picadeiro, entre as mesas dos cafés e as palmeiras... E assim continuou até aos dias de hoje.
Na "Defesa de Espinho" a cidade está ainda agora em retrato de corpo inteiro!
Os parabéns, nesta data festiva, têm de ser repartidos, igualmente, pelos directores, pelos jornalistas, pelos leitores, por um alargado colectivo que interage e partilha uma aventura jornalística de continuado sucesso.
São esses os meus votos, para o jornal e para a cidade: que possa transparecer nas páginas inspiradas da DE nos anos de um longo futuro, a viver por muitas gerações, a modernidade reencontrada de Espinho, cidade rainha da Costa Verde.

AMM NA BIENAL MULHERES D ' ARTES

A AEMM nasceu, bem vistas as coisas de uma fundada crença nas imensas virtualidades dos encontros entre gente que gosta de viver com os outros e para os outros. Os extrovertidos, como nós, os portugueses somos. Quando olho a nossa história dos últimos séculos, a das viagens marítimas, que começaram na vontade de "descobrir" ou achar terras novas, de estabelecer relacionamentos de toda a ordem com povos os mais diversos e, depois, se continuaram na emigração, gosto de falar de uma aventura de extroversão.´ Uma cultura de convivialidade!
Este encontro, como tantos outros na vida da AEMM, começou na ideia de uma simples visita de um grupo de estudantes da Califórnia à Bienal  "Mulheres d'Artes". Claro, é um grupo especial trazido a Portugal por alguém, que para além da sua excecional qualidade como Pedagoga, é a mais dinâmica e a mais comunicativa das Portuguesas da diáspora: a Professora Deolinda Adão!
Uma Bienal de Artes no feminino é, à partida, coisa atrativa,  pelo seu carater aparentemente inédito e, do ponto de vista de alguns,  controverso  também. A merecer uma visita de estudo. E, para a tornar mais interessante e profícua, porque não convidar as Artistas para falarem das suas obras e do da sua perspetiva sobre a Arte e o Género? Ou seja, converter a passagem pela Bienal num diálogo com as Artistas. E, sabendo que num dos átrios do Museu estão expostas quatro belíssimas Caravelas, construídas  por alunos da Escola Domingos Capela, porque não pedir a presença dos seus  obreiros , para que o diálogo se  alargue numa reunião de gerações?  Género e geração - uma simbiose que marcou o primeiro grande encontro realizado pela AEMM, há quase 20 anos. aqui em Espinho
 O Museu, a Câmara Municipal, como sempre, abriram-nos as portas,  entusiasticamente.
Esta evolução da ideia inicial só foi possível porque de todas as partes vieram respostas de imediata adesão :da Vereadora da Cultura Drª Leonor Fonseca, dos responsáveis do Forum de Arte e Cultura de Espinho,  das pintoras, escultoras, professores, alunos, associadas da AEMM... Quase de um dia para o outro o acontecimento cresceu à dimensão daqueles que, normalmente exigem semanas e semanas de preparação.
Muito obrigada a todos por este pequeno e simpático milagre - esta aventura de extroversão e convivialidade
E por, no final, nos terem dado a certeza de que o encontro se vai continuar em muitos outros,  com jovens de Espinho e da Califórnia.

SOBRE O FCP NO facebook

Edmundo Macedo Há qualquer coisa com o Porto que transcende o Porto! Just amazing!
.

  • Maria Elvira Lemos Oh, campeão, o teu passado
    É um livro de honra de vitórias sem igual
    O teu brasão abençoado
    Tem no teu Porto mais um arco triunfal
    Porto, Porto, Porto, Porto
    Porto, Porto, Porto, Porto
    Porto, Porto

  • Maria Manuela Aguiar Há uns 3 ou 4 anos , nas festas de um desses nossos 27 títulos de campeão, recebi um telefonema do programa de rádio da Linha Cunha (Rio de Janeiro), para entrar em directo a comentar. No fim, a família Aguiar, que me rodeava cantou o hino, com a letra na íntegra e a música na perfeição...

    Maria Manuela Aguiar Há uns 3 ou 4 anos , nas festas de um desses nossos 27 títulos de campeão, recebi um telefonema do programa de rádio da Linha Cunha (Rio de Janeiro), para entrar em directo a comentar. No fim, a família Aguiar, que me rodeava cantou o hino, com a letra na íntegra e a música na perfeição...

    Maria Manuela Aguiar Pertenci, em tempos, ao Conselho Cultural do FCP e durante anos, mais recentemente, ao Conselho de Delegações e Filiais do Clube - e, por isso, sei o que o Porto tem crescido no País e no mundo! inteiro! Ainda ontem o grande jornalista Ribeiro Critovão, que é uma simpatia e sabe o que é o "fair play", dizia que na sua Beira interior, quando ele era jovem não havia um portista. Agora, é o que mais há!

    Maria Manuela Aguiar Um grande país portista é, por exemplo, o JAPÃO. Na final de Yokohama, em 2004, o estádio estava cheio de adeptos vestidos de azul e branco, pintados de azul e branco - japoneses, evidentemente. Não vi nenhum com as cores do "Once" sul-americano... Quando encontrar as minhas fotos com esses adeptos do longínquo oriente, a celebrar o título mundial do FCP, prometo colocá-las no facebook!

    Manuela Bairos e Maria Manuela Aguiar participaram no II Simpósio Internacional "Rosa dos Ventos O Português nos quatro cantos do mundo", que, comemporava 65 anos de ensino de Português na Universidade de Toronto. Com uma excelente organização da Profª Manuela Marujo e da sua equipa e intervenções, nomeadamente, do Professor Malaca Casteleiro, da Presidente do Instituto Camões, do Cônsul de Portugal, Dr Júlio Vilela e de conferencistas brasileiros, contando com a presença de alunos da Universidade e de membros da comunidade portuguesa, o simpósio decorreu nos dias 28 e 29 de Setembro.
    No painel dedicado ao tema "A língua portuguesa e a Diáspora" , moderado pelo Cônsul Geral Júlio Vilela, Manuela Bairos falou sobre "A diplomacia da língua portuguesa e a Diáspora" e Manuela Aguiar sobre " Histórias de vida" - ASAS para voar - lançamento do projecto na Diáspora portuguesa" (Academias Seniores de Artes e Saberes)
    No final dos trabalhos, Manuela Bairo e um grupo de participantes do simpósio visitaram o Museu Português de Toronto, enquanto Manuela Aguiar partiu para a festa do 56º aniversário do First Portuguese Canadian Cultural Centre, onde teve ocasião de se dirigir aos presentes, enaltecendo a acção do First nos vários domínios em que foi pioneiro, mas, muito em particular, co campo da acção para os mais idosos, qualificando o seu Centro de III Idade, como uma verdadeira universidade sénior, em pleno funcionamento.
    No dia 30, antes do regresso ao Porto, Manuela Aguiar esteve na Casa dos Açores com Virgílio Pires e com Manuela Marujo e Aida Baptista, que aí realizaram a primeira das actividades do projecto ASAS em Toronto - uma aula sobre escrita criativa, com enfoque no tema narrativas de vida: "Minha vida numa moldura". Um sucesso, que se espera tenha continuidade ao longo dos próximos meses.

    Síntese da Intervenção de Maria Manuela Aguiar
    Manuela Aguuiar começou por referenciar os esforços da Associação a que pertence, e, antes disso, até dos seus próprios projectos na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, para promover a recolha de narrativas de vida de emigrantes, como embrião de um futuro Museu das Migrações. Um Museu cujo primeiro património seria a história das pessoas e das instituições de que se são formadas as comunidades portuguesas, em sentido orgânico - uma forma ideal de fazer a história das migrações, como parte da história da Nação portuguesa - guardando a riqueza. das singuralidades de experiências individuais imersas na grande vaga dos movimentos de expatriação e de retorno,
    O Museu da Emigração sueca , em Vaxö , com os seus registos de milhares de imagens e de entrevistas de gente comum foi o modelo inspirador do Fundo Documental e iconográfico das Comunidades Portuguesas, criado na primeira metade da década de 80, (no âmbito do Instituto de Apoio à Emigração e às Comunidades Portuguesas), para proceder à recolha de imagens e de contributos de investigadores e dos próprios emigrantes, e à sua publicação, mas o "Fundo" acabou por não ter continuidade.
    Manuela Aguiar não escondeu as dificuldades com que tem deparado os projectos da Associação de Estudos Mulher Migrante, que se enquadram no mesmo tipo de preocupações - incluindo o que está em curso, com a denominação de "Ateliers da memória" . Resultados concretos foram obtidos no Rio de Janeiro, onde a Directora do Jornal "Portugal em Foco" Benvinda Maria impulsionou uma publicação com narrativas de vida de cerca de 120 mulheres portuguesas e luso-brasileiras e na região de Buenos Aires está em curso um projecto semelhante, encabeçado pela Associação Mulher Migrante Portuguesa da Argentina.
    Segundo Manuela Aguiar o próprio projecto da criação de Academias Séniores de Artes e Saberes foi desde o início visto como um meio de incentivar a recolha das narrativas, pela via da oralidade ou pela escrita. Essa é a única matéria que se coloca como prioritária no programa de funcionamento das "Academias" tudo o mais sendo deixado ao critério de cada organização, por se entender que só cada um dos interlocutores saberá como adaptar o paradigma das chamadas universidades sénires às características do associativismo local .Mais importante do que o número inicial de participantes, o número de cursos ou actividades. a própria designação que cada iniciativa tome, é que se vá num crescendo de participação, que signifique mobilização dos mais velhos para o intercâmbio de saberes, para o convívio, lúdico e útil, para o aumento da auto-estima. Para que se sintam cidadãos que ainda podem dar muito de si aos outros, à sua comunidade Para que possam ajudar a combater a tão falada decadência de boa parte das associações portuguesas.

    JFK

    O dia mais triste de todos quantos passei em Coimbra,
    Vivia então num prédio donde via os muros da penitenciária e estava a entrar na porta de casa quando uma colega me disse
    Assassinaram o presidente Kennedy

    A PROPÓSITO DE UM PASSO DE DANÇA DO PRESIDENTE OBAMA

    A propósito de um passo de dança do Presidente Obama 

     1 - Correram mundo as imagens do Presidente dos EUA a dançar o tango em Buenos Aires, acompanhado por uma veterana bailarina. Se não era uma sua primeira tentativa, parecia. Descobri, assim uma nova afinidade com um dos políticos que mais admiro: dançamos o tango imperfeitamente, apesar de ser uma música fascinante. (Na verdade, o tango é considerado uma expressão da alma argentina, como o fado é da portuguesa. Um e outro fáceis de compreender ou de sentir, difíceis de interpretar...). Falando por experiência própria, atrevo-me a profetizar que. tal como eu, o Presidente não vai conseguir melhorar muito. 
    Todavia, o que importava, ali, não era a qualidade da exibição, mas a vontade de partilhar saberes, aprendizagens, rituais de amizade, em gestos de empatia, que, um a um, somados, tornaram memoráveis as suas históricas visitas a Cuba e à Argentina - coisa que, aliás, se dirá de dois mandatos inteiros, generalizando. Pode até a América vir a ter um (ou uma!) presidente igual ou superior a Obama em pura competência - dificilmente terá o seu encanto, feito de simplicidade e simpatia. Imune, de princípio a fim, aparentemente, aos malefícios do Poder. Sempre igual a si próprio, um grande ser humano .

     2 - Ao ver Obama, caminhar em frente, na pista de dança, sem ritmo mas sempre sorridente. Lembrei-me, não de magnas questões da política internacional, mas da minha experiência pessoal num espaço culturalmente argentino (uma residência de estudantes da Cidade Universitária de Paris), a que não faltavam as noites de festa, noites de tango. 
    Nos dois anos de estudos de pós-graduação em França (68/70), vivi o primeiro na Casa de Portugal, em meio tão português, que mal podia acreditar que tinha deixado a Pátria - um meio politicamente fraturado, agitado por toda a ordem de mal entendidos, embora não ,por sorte, dentro do círculo de amigos com quem convivia - e passei o último ano "emigrada", e feliz, na casa de estudantes da Fundação Argentina. A Fundação pertencia ao Estado e era dirigida por um professor de Direito, com estatuto de embaixador e, por sorte nossa, perfil de independência face ao próprio regime do país, onde já havia sinais da pavorosa ditadura que não tardaria a implantar-se. 
     Quando deixava o "campus" universitário, psicologicamente, sentia-me como que a atravessar a fronteira para a França, porque lá dentro, vivia-se o modo de estar, a cultura nacional de cada residência, apesar dos regulamentes da "Cité" exigirem, para evitar a "guetização”, uma quota de estrangeiros… A quota era, com certeza, respeitava, mas em pouco ou nada contribuía para alterar a cultura dominante - o "mainstream" de ca uma das unidades de que se compunha a !Cité",  Na Casa de Portugal (então pertença da Fundação Gulbenkian), quase não se sentia a presença dos "outros", e não me lembro de eventos "comunitários" a que fossem chamados (não havia nada digno desse nome, apenas grupos mais ou menos antagónicos. Não se cantava o fado, não se jogava a sueca, nem se bailava folclore. Via-se televisão francesa e conversava-se ou discutia-se, na nossa língua. A Casa dos Estudantes Argentina, pelo contrário, era uma festa! Quase todos os estrangeiros eram sul-americanos. Abundavam os bons cantores e os músicos, com as suas violas. E ao fim de semana, invariavelmente, com o gira-discos no volume máximo, dançava-se o tango. Todos eram convidados e ninguém assistia sentado. Até eu... Nunca me faltava par, apesar de ir aos solavancos pela sala adiante, sem acertar o passo. Sentia-me bem, no meio de amigos. Fazíamos confidências sobre os nossos problemas, contávamos histórias da nossa família, da nossa terra. A política não era obsessão, emergia, por vezes, (não muitas...), naturalmente. O meu “grupo argentino” de Paris foi tão importante como o português – ali fiz amigos para toda a vida. Não assim, curiosamente, no meio académico – não há um só colega francês cujo nome recorde. .
    3 – Estes diferentes espaços em que, então, circulava ofereciam diferentes paradigmas de relacionamento intercultural. Eram microcosmos, é certo, correspondiam a um certo tempo e a um especial contexto, mas evidenciavam (evidenciam...) o modo como, em todos os tempos e contextos, uma sociedade se pode abrir aos outros e fazê-los felizes ou se pode fechar e ignorá-los, deixando-os à margem. 
    Hoje, mais ainda do que há 40 anos, um dos maiores problemas da Europa tem a ver com isto: é o medo da vaga de refugiados que aí vem. É o drama da sua imigração - o drama dos jovens, de segunda e terceira geração, que se sentem estrangeiros no seu próprio país. E, afinal, a solução pode começar num simples gesto, numa simples palavra, num passo de dança…

    UM MUSEU PARA AVINTES

    MA1
    Maria Manuela Aguiar
    UM MUSEU DE AVINTES
    Edifício, na Rua do Paço, onde vai ser instalado o Museu d Pão.

    1 - Um Museu na zona ribeirinha?

    Todas as terras, todas as comunidades em sentido orgânico, deviam, idealmente, ter a sua monografia, a sua imprensa, o museu do seu acervo, da história coletiva e das memórias de que se faz uma identidade carreada de geração em geração. No mundo novo a que alguns chamam "aldeia global", esta será, porventura, uma das formas de participarmos em pleno num movimento irresistível de confraternização planetária, sem nos perdermos nele. 
    A Avintes não tem faltado estudo e reconhecimento de um percurso mais do que milenar e excelentes publicações, entre as quais se conta, número a número, esta Revista, como uma ponte de passagem entre o passado e o presente, a tornar-se devir. Notáveis contributos que podem servir, agora, um inovador projeto da Junta de Freguesia, um projeto museológico focado numa das atividades em que ganhou renome nacional: a broa de Avintes, que não tem igual, nem no país, nem no mundo.
    Sobre ele, a Revista "Caminho Novo" me desafiou a fazer um pequeno depoimento, talvez pelo facto de poder vir a estar, de certo modo, ligada à criação do condicionalismo para um lançamento rápido da iniciativa. Na verdade, uma  casa rural da minha família paterna, com localização privilegiada, na marginal do Douro, junto ao Areínho, é uma das sedes possíveis para a localização física do museu.
    E é sabido que  estou recetiva a doa- la ao Município, para esse fim, para que a ideia possa, a breve prazo, concretizar-se ali mesmo, no lugar do Paço, que é tão bonito, e naquele conjunto assimétrico, mas harmonioso, de edificações de pedra antiga, com o lagar, o forno caseiro, a eira de granito e o espigueiro, em que hibernam reminiscências de séculos de agricultura ribeirinha - de quando o milho bordejava
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA4 Museu do Pão3.jpg
    Espigueiro e Casa da Eira
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA5 Museu do pão.JPG
    Lagar

    as águas do rio, e aí deixava, ao correr dos ventos, um reflexo ondulante. Ainda era assim, nos anos da minha juventude, a marginal de Avintes, um dos trechos mais idílicos do Douro num curso de correntes fortes e vagarosas, como se não tivesse pressa de chegar ao Porto, já tão perto. Paisagem não muito diferente da que avistava, no quotidiano, meu bisavô João Dias Moreira, que não conheci, mas imagino a calcorrear aqueles caminhos, na direção daquela casa, na companhia do meio - irmão, Padre Manuel Pinto da Silva, ambos vultos imponentes, com quase dois metros de altura, falando da sorte das colheitas, ou, talvez, da sorte do país, que atravessava as crises e os afrontamentos de um período revolucionário.

    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA6-Padre Patrão-foi publicad noo Almanaque  como Jose Joaquim da Silva Valente.tif
    Padre Manuel Pinto da Silva (Padre Patrão)

    Ao Padre Manuel, monárquico, convicto defensor de valores cristãos tradicionais, se deve a fundação e direção do primeiro jornal da terra , o "Aurora de Avintes",

    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA7Cabeçalho do Aurora de Avintes.jpg

    Cabeçalho de 1.º Periódico de Avintes A Aurora de Avintes, cujo Director e Editor era o Padre Manuel Pinto da Silva (Padre Patrão).


     e a João, menos movido pelo proselitismo religioso, a reconstrução, em fins do século XIX, da casa que herdara dos pais, triplicando a área da sua matriz (muito mais antiga)) e acrescentando-lhe, do outro lado do terreiro, três pisos de aidos, lojas e arrumos, a aproveitar o declive íngreme da colina, com a eira e o espigueiro no patamar superior.
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA8 Museu do pão.JPG 
    Conjunto interior de edifícios do futuro Meseu do Pão

    Tudo cercado de muros, dentro dos quais o granito austero dominava, nas escadas, nas paredes, e até no chão, emergindo aqui e ali, irregularmente, entre terra batida, sem fazer contraste com a pintura da fachada, de um  beije neutro.
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA9 Museu do pão4.JPG
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA10 Museu do pão.JPG
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA11Museu do pão.JPG
    Descrição: C:\Users\Zé Vaz\Desktop\CN34\Fotos Artigo Museu do Pão\Museu do Pão-Casas do Paço- Manuela Aguiar\MA12 Museu do pão (4).JPG 
    Outras instalações do futuro Museu do Pão

    Todavia, menos severo terá sido o ambiente humano ali vivido, pois João, ele mesmo pessoa serena e de bom feitio, era casado com Quitéria Francisca Pinto, mulher que sabia combinar perfeitamente os ritmos de labor intenso e de diversão, incomparável contadora de lendas e histórias e poetisa repentista, imbatível na arte de "cantar ao desafio". O pai andara pelo Brasil e de lá trouxera uma maneira alegre e otimista de estar em família e em sociedade, além de capital para investimentos e para construir uma vivenda, situada perto da que viria a ser da filha Francisca (Reis pelo casamento), na rua 5 de outubro, atualmente a sede dos "Plebeus Avintenses". A irmã, Esperança, casara com um jovem Adolfo Marques, dos Marques que a Avintes deram alguns dos seus famosos escultores da madeira.
    Do marido, João, sabe-se que os antepassados também eram de Avintes, mas a alcunha "patrão" parece indiciar que seriam gente ligada, não à agricultura mas à pesca ou a estaleiros, que ali terão florescido. Certo é que, em boa hora, ele se dedicou à lavoura, com um sucesso que o tornou figura lendária para a descendência, constando que terá adquirido, ao longo da vida, 99 propriedades, entre pequenas courelas e matas, pinheirais e quintas. Contudo, mais importante do que o seu rasgo empresarial é a aura de lisura de trato e generosidade, em particular para com quem estava ao seu serviço, que terá originado este dito curioso: "Mais vale ser cão na casa do João Patrão do que criado nas outras quintas".
    O espaço que poderá, em dias não muito distantes, albergar o museu de que se fala, fez, pois, genuinamente, parte do ciclo do milho e da broa, "ex-libris" de Avintes
    2 - Incursões no campo da experimentação museológica... 
    Penso, naturalmente, num museu de "nova geração", com work-shops, suportes digitais, ações formativas e pedagógicas - não um daqueles que, quando era jovem,  esgotavam,  para mim, praticamente, o seu conceito, sinónimo de coleções de arte, "templos das musas", no sentido etimológico da expressão, que eu gostava de visitar, embora conservassem quadros e estatuária, sempre ali, imutáveis e estáticos, dados à nossa contemplação. Hoje é coisas comum imprimir-lhes dinâmicas em várias direções, até ao cerne da vivência das comunidades e da interpretação das suas particularidades..
    Não esperava ver-me, anos mais tarde, envolvida em "aventuras museológicas", como aconteceu em função do meu trabalho no campo das migrações. Cedo me apercebi que a longa aventura da Diáspora portuguesa, feita de uma infinidade de aventuras individuais, que ainda prosseguem, imparavelmente, merecia honras de um museu nacional, capaz de testemunhar a realidade económica, política, sócio - cultural, intercultural, e as suas formas externas e, também, internas, de presença e representação, ao longo de séculos. Estávamos no princípio dos anos oitenta e a ideia parecia, então, pouco menos do que peregrina e irrealista. O interesse académico na área da emigração andava esmorecido, se se comparar com o que despertava no auge do êxodo para o Brasil, e com o que desperta atualmente. Na demanda de modelos inspiradores, pedi, durante uma viagem oficial a Estocolmo, para visitar o museu sueco da emigração, em Vaxjo, no sul do país, e de lá regressei com ensinamentos preciosos e impressionada, sobretudo, com o rigor na procura e obtenção sistemática de dados individuais, imagens, objetos, cartas, registos paroquiais e milhares e milhares de entrevistas, cada uma com duração de horas. Ali, ao dispor de visitantes, tanto como de futuras investigações multidisciplinares, estava o pulsar de várias gerações de migrantes, não apenas de alguns notáveis, mas de pessoas comuns.  No lugar central estava o Emigrante, enquanto protagonista do movimento coletivo - uma outra forma de escrever história.
    Na impossibilidade de importar, sem mais, o modelo original, para um país sem preexistência de semelhantes preocupações e  pesquisas, havia que as promover e aprofundar e, com esse propósito, se instituiu o "Fundo Documental e Iconográfico das Comunidades Portuguesas".  O "Fundo" teve, um rápido trajeto ascencional, porém, assaz abreviado, pois quando se consolidava, já com muitas dezenas de obras publicadas, terminava o meu mandato, e no executivo seguinte, como é de regra entre nós, até dentro do mesmo quadrante partidário, o programa nascente foi imediatamente abandonado....

    Atravessamos agora conjuntura bastante propícia ao lançamento das mais diversas configurações  museológicas, mas no terreno quase inexplorado da emigração, só vingaram as  que se devem a ação municipal,  caso do Museu da Emigração Açoriana, na Ribeira Grande, e do Museu das Migrações e das Comunidades, em Fafe, concelho por excelência, de "brasileiros" de "torna-viagem" (que, aliás, também em Avintes e em toda a região do Porto, deixaram a sua marca e não só em bonitas mansões familiares).

    A nível de sucessivos governos, o tema tem sido, espaçadamente, retomado, ainda que apenas no discurso, apesar de alguns deles terem conseguido levar a bom termo exposições temáticas de tal qualidade e dimensão que, como afirmou, recentemente, a Prof,ª Miriam Halpern Pereira, teriam podido constituir o embrião ou o primeiro polo de uma experiência museológica...  Esse queria ser e podia já sido  o destino da exposição "Os emigrantes e o mar" , que, há mais de 30 anos, foi o "canto de cisne" do  referido Fundo Documental e Iconográfico -  uma exposição que, em espaço próprio,  se converteria, facilmente, de temporária em permanente.

    O paradigma sueco levou-me, igualmente, como dirigente de ONG' s, a incentivar, no âmbito do movimento associativo das comunidades do estrangeiro ou nas regiões de origem dos emigrantes, a recolha de depoimentos individuais, que, em algumas (Rio de Janeiro, Buenos Aires, Nova York,  Chaves) se traduziu em relevantes estudos e publicações. O que falta é a sua generalização, e um esforço de coordenação científica. Daí a esperança veio trazer um ambicioso projeto da Universidade Nova de Lisboa, patrocinado pela FCT,  e dirigido pela  historiadora Maria Fernanda Rollo, (antiga Secretária de Estado da Investigação Científica), que tem por  título "Memória para todos"  e a todos lança um apelo aliciante: "Faça história, partilhando a sua".

    Para quem queira participar, saliento a abertura da projeto a quaisquer domínios, períodos, quadrantes geográficos, acontecimentos, festas e rituais, artesanato... A broa de Avintes, o círculo da sua produção, teria, no vasto conjunto já estudado, o mais perfeito cabimento...e falámos de mais de cem comunidades, de centenas de entrevistas, e de milhares de objetos pessoais recolhidos, de memórias das guerras mundiais, da primeira República, da guerra colonial, da ópera, de corporações (como a polícia), de aldeias e vilas. As possibilidades são infinitas, assim haja entusiasmo popular, solicitações, que, confio, hão-de chegar também das comunidades do estrangeiro.

     3 -   Diversidade cultural  e museus municipais
    No nosso país, assiste-se, neste começo do século XXI, a uma expansão de pequenos ou grandes museus municipais - e refiro-me aos que são, de facto, de vocação especificamente local, não os que resultam de uma apressada forma de descentralização, a remeter para a órbita autárquica alguns dos sedeados fora da capital. Há, evidentemente, importantíssimos museus nacionais, fora de Lisboa, (o da emigração poderá, em breve, ser um deles...) e como tal, terão de ser reconhecidos. Municipais devem, pois, considerar-se os que valorizam e divulgam as singularidades do seu espaço próprio. no que respeita a instituições, artes e artífices tradicionais, comunidades de trabalho e de empreendimento... São, hoje, muitos, por exemplo: o Centro Interpretativo do Património da Afurada, voltado para a pesca e para o rio Douro, o Museu de Espinho, dedicado à arte xávega e à indústria conserveira, o Museu do Ouro em Travassos, Póvoa do Lanhoso, o Museu da Chapelaria e o Museu do Calçado, em São João da Madeira, o Museu Mineiro de São Pedro da Cova, o Museu do Móvel de Paços de Ferreira, o Museu Marítimo de Ílhavo, (com os núcleos da faina da Ria e da pesca do bacalhau nos mares do Norte, um navio- museu e um recentemente inaugurado aquário de bacalhaus).
                Encontram, todos, a razão de ser no caráter singular de um património material e imaterial, e são, nesta perspetiva, uma celebração da diversidade cultural, do direito à sua afirmação e da responsabilidade de a cultivar e aprofundar. O que é extraordinário, único tem de ser preservado e partilhado, constituindo responsabilidade não só dos poderes públicos, como da sociedade civil e dos cidadãos.
    Em Avintes, a absoluta raridade dá um claro favoritismo ao fenómeno cultural e gastronómico, que é a sua broa, afamada no país inteiro e a merecer, sem dúvida, o esforço da internacionalização, que será enormemente facilitada pela existência de uma unidade museológica ou "centro interpretativo".
    Quando, como e onde isso acontecerá, é, de momento, pergunta sem resposta. Há, contudo, promissores sinais de uma tomada de consciência e vontade política, fatores determinantes para o seu arranque, num contexto em que não falta a imprescindível pesquisa da comunidade académica, recetividade popular, artefactos, empresas de fabrico artesanal, comunidades guardiãs das tradições e do segredo de um sabor inimitável. A meu ver, pode ser lido como significativo o gesto da Câmara Municipal, de distinguir, no dia da Cidade, com a medalha de Mérito Cultural, classe ouro, um fundador da Confraria da Broa, Joaquim da Costa Gomes, e quatro tradicionais obreiras da Broa de Avintes (Padaria Arminda e Neto, Padaria Broa da Manelinha, Padaria Maria Cristina e Padaria Climana) pela "produção da Broa de Avintes. Símbolo identitário e de cultura gastronómica da freguesia de Avintes e do Concelho de Vila Nova de Gaia"
    A fundamentação da homenagem, serve, igualmente, de justificação para a criação do Museu da Broa, num reconhecimento que pode ser visto como a sua pedra angular. Palavras ditas precisamente neste ano de 2019, em que não vemos mero acaso, antes pressentimos, a intenção política de passar das palavras aos atos.
    Há, como disse, muitas maneiras de delinear um museu, de iniciar uma caminhada e o de Avintes poderá estar perto de dar os seus primeiros passos!