Recordar tempos idos... Falar do presente, também. E até, de quando em vez, arriscar vatícínios. Em vários domínios e não só no da política...
terça-feira, 19 de agosto de 2025
2025 - O ANO DE TODAS AS ELEIÇÕES
O ANO DE TODAS AS ELEIÇÕES
1 – Do primeiro trimestre de 2025 ao primeiro trimestre de 2026 temos um país em campanha eleitoral… para as legislativas e as autárquicas, para a presidencial.
Das legislativas se poderia dizer “tudo como dantes”, não fosse a subida da extrema direita, se ter tornado pretexto para a pronta adesão do Governo à sua agenda persecutória de uma imigração pacata e laboriosa na vida real, mas diabolizada no discurso (ou, para usar o termo da moda, na “perceção”). Os resultados não explicam o volte-face visto que o Executivo tinha uma ótima alternativa à esquerda para as reformas de que precisamos. Deveria, sim, manter a coerência do seu slogan “Não é não!”, tão estranhamente convertido em “Não é sim!”.
Agora, na rua anda já a campanha das autárquicas. A nível global, a curiosidade maior é verificar se a adesão governamental à linguagem e às perceções fabricadas pelo Chega, em nova parceria, permitirá desfazer a tradicional repartição de Câmaras entre os dois grandes partidos fundadores da democracia. Caso o terceiro partido ascenda à “primeira liga”, será em prejuízo de qual das forças em cena? Se for em desfavor do PSD, poderá isso prejudicar a "entente" saída das legislativas? Ou pelo contrário, servirá para transpor a cumplicidade PSD/Chega de nível nacional, para inéditas alianças autárquicas?
De qualquer modo, não acredito que essa seja a questão principal em Espinho - aqui, acho impensável uma vitória da extrema-direita. Não têm, porém, faltado imprevistos na caminhada em curso... O primeiro de todos veio da parte do PS, com a incompreensível decisão de retirar o apoio à sua militante, que assumiu, com imensa honestidade e sentido de missão, a presidência da Câmara de maioria socialista decapitada por um processo judicial, que até hoje enche páginas de jornais. Com a mesma coragem que caracterizou toda a sua ação, Maria Manuel Cruz avançou para o sufrágio, à frente de uma lista de independentes. A política precisa muito de mulheres como ela, não de meras figuras decorativas, que os partidos selecionam só para cumprirem, (incumprindo o seu espírito), a lei da paridade. E que depois descartam...
Maria Manuel é uma amiga, com quem tem sido um prazer colaborar, sobretudo, em questões ligadas às migrações e à igualdade de género.
Esperar-se-ia do PSD, em virtuoso contraste, uma decisão pacífica, a partir da votação consensual da concelhia no nome do seu presidente. Uma concelhia que, finalmente, deu visibilidade ao partido, com abertura de uma acolhedora sede no coração da cidade (na antiga confeitaria Latina de boa memória!) e com uma atividade e mobilização, como não se via há décadas. Todavia, isso não aconteceu, outra sendo a opção de mais altas instâncias hierárquicas.
Dito isto, devo, porém, acrescentar que o nome indicado - Jorge Ratola - foi, para mim, não só uma surpresa, como uma boa nova! Conheço-o bem, da minha passagem pela Câmara, no pelouro da Cultura (já lá vão catorze, quinze anos…). É um amigo, o único a quem atribuía esse título naquele gabinete, o único que falava a minha linguagem. Um amigo que aprendi a admirar pelas suas qualidades humanas, a simpatia, a simplicidade, a solidariedade, tanto quanto por uma reconhecida competência técnica. Muitas vezes pensei como o meu mandato teria sido facilitado se o presidente fosse ele…
Interessante campanha em perspetiva!
2 – O mesmo prognosticamos na eleição que se segue, a presidencial, já com anúncio de uma pluralidade de candidaturas e algumas esporádicas iniciativas de pré-campanha eleitoral. O voto será no começo de 2026, mas podemos contar, nos últimos meses deste ano, com uma girândola de comícios, debates, entrevistas, arruadas e outros rituais festivos próprios das intensas pugnas eleitorais.
Alguns partidos terão representante "oficial", ungido e aclamado nas instâncias partidárias, mesmo que mais não vise do que testar a sua popularidade – caso do PCP, do BE (se se confirmar a corrida de Catarina), e da IL (com um nome que costuma valer bastante mais do que o partido). Não se sabe se o clã de extrema-direita ousará concorrer a partir do seu deserto de nomes sonantes, sendo, como é, partido de um "faz tudo", de um só homem, ainda que, pelo visto, não um homem só…
O PSD pode, ou não, voltar a Belém, mas está na corrida para ganhar. No polo oposto, o PS provavelmente não vai a jogo, numa passividade a que já nos habituou. Poderia ainda aderir à candidatura do seu antigo Secretário-Geral, que está no terreno há vários meses, (com audível ruído de vozes contra, mas sem concorrência no seu espaço político). Não há certeza de que o próprio esteja pronto a aceitar esse apoio tardio e ambíguo.
Globalmente, os partidos continuam assim a dar mostras da uma insaciável vontade de tutelar quaisquer processos de escolha popular. Nas legislativas, o seu domínio é total, (podendo, como é evidente, arregimentar independentes nas suas listas), nas autárquicas dificultam a concorrência de verdadeiros independentes, a tal ponto que estes apenas vingam como exceção à regra. Em cinquenta anos de democracia, o Porto foi a única das cidades maiores onde um independente conseguiu ser eleito e reeleito Presidente da Câmara, encabeçando a sua própria lista. Outros houve, e há, mas quase sempre vindos de dentro para fora das estruturas partidárias, por dissidência, e não diretamente da sociedade civil. Já na eleição presidencial, não sendo menor a sua ambição de domínio institucional, assiste-se ao que parece ser uma forte perda de influência e protagonismo…
Em meio século de democracia, o Palácio de Belém foi ocupado por um militar de Abril, o General Eanes, com apoio oficial de grandes partidos, depois, sucessivamente, por líderes do PS, Dr. Mário Soares e Dr. Jorge Sampaio, e pelos antigos presidentes do PSD, Professores Cavaco Silva e Marcelo Rebelo de Sousa. Mas este último já sem a chancela oficial do seu partido, que ele rejeitou. O ostensivo desinteresse de Marcelo por um rótulo laranja, podia ser apenas uma resposta à clara oposição de Passos Coelho ao seu perfil de candidato. A meu ver não é… o que o norteou foi a certeza de que, de facto, ultrapassava largamente o território do PSD e seria prejudicado pela excessiva conotação ao respetivo rótulo. Um sinal dos tempos! Com pré-história… Os partidos foram perdendo o poder de controlar e condicionar os seus próprios militantes. No século passado, os filiados que se puseram do lado da candidatura socialista do Dr. Soares foram sancionados com pena máxima: a expulsão. Em 2005, aos que fizeram igual escolha não aconteceu nada. Sou um dos exemplos desse progresso - pertenci à Comissão de Honra do Dr. Soares, no seu confronto com o (superfavorito) Prof Cavaco. Quem era, então, o presidente do PSD? Um ilustre democrata e social-democrata, o Dr. Marques Mendes.
Assim, começava a impor-se a ideia de que, na escolha do “presidente de todos os portugueses”, todos os portugueses devem ter liberdade de escolha.
3 - Sou adepta declarada da ideia de "despartidarizar" esta eleição, valorizando mais o cidadão, as suas qualidades individuais, do que a identificação partidária. O que não diminui a legitimidade de se candidatarem os militantes dos diversos partidos, apadrinhados, ou não, pelos respetivos diretórios. Na verdade, os nossos cinco presidentes eleitos pelo voto do Povo, incluindo os quatro com notáveis “curricula” partidários, desempenharam funções com independência requerida pelo cargo. É isso que se espera do próximo Presidente.
Os três principais candidatos partilham a vontade de transcender a esfera partidária. Gouveia e Melo é um independente, que se situa na área da social democracia, do socialismo reformista. Marques Mendes vai sob bandeira do PSD, mas procura adesões de nomes emblemáticos de outras áreas. Seguro apresenta-se como “independente”.
Numa atmosfera de cruzamento de militâncias pelas candidaturas, há tendência a considerar que se deve, sobretudo, a uma reação “contra” fações partidárias ou personalidades. No meu caso, posso dizer que não! Fiz a opção por Gouveia e Melo, tendo a maior estima por Luís Marques Mendes a quem, noutras circunstâncias, poderia dar o voto. E o mesmo digo de António José Seguro.
Porquê, o Almirante? Porque tem o perfil que a realidade atual e o futuro exigem. Nas legislativas, os políticos não quiseram olhar o enquadramento internacional da situação vivida, a situação de guerra em solo europeu, o caos provocados por Trump, inimigo confesso da Europa e dos seus valores civilizacionais.
Os tempos que correm exigem mundivisão e competência, compreensão dos problemas reais e da sua solução, assim como a capacidade de liderar de que o cidadão Henrique Gouveia e Melo deu provas tão concludentes em momentos de crise.
Os candidatos que fizeram nome e carreira mas organizações das juventudes partidárias vangloriam-se da sua "experiência política" a esgrimir argumentos, a arregimentar hostes. No quinquénio que Portugal, a Europa e o mundo vão atravessar até 2030, considero que conta muito mais outro tipo de experiência - a experiência de vida do Almirante Gouveia e Melo
capacidade de liderar de que o cidadão Henrique Gouveia e Melo deu provas tão concludentes em momentos de crise.
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