quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A gentlecat

Jáo-jão era um gato lindo, uma obra-prima da natureza. Tinha uns olhos enormes verdes e expressivos, que nos diziam exactamente o que queria. No seu pelo de "tigre" (tigre muito manso!) as listas eram absolutamente simétricas, escuras sobre o beige a abrir para um tom quase amarelo (herança do pai, o velho gato Mandarim, que esse é amarelo mesmo).
Mas não é, sobretudo, pela sua beleza que mais será lembrado, mas pelo carácter, pelas boas maneiras, pela amabilidade (aqule gesto de fazer festas às pessoas, sempre com as unhas recolhidas, ao contrário do resto da sua numerosa família).
Desde a primeira infância que eu o cumprimentava com a rima a que fazia jus: "Jão -Jão, o gato todo bom!" para o distinguir do temível irmão gémeo, Deco, que, por contraste e por causa da tendência para a asneira, era chamado "o gato todo mau", apesar de ser também simpático e até bem mais extrovertido com estranhos...
Mas o Jão era especial, tão inteligente, tão discreto, tão civilizado - era assim, não foi preciso ensinar-lhe nada (se é que se pode ensinar alguma coisa aos supremos praticantes da independência e da diferença que são estes felinos).
Não há dois gatos iguais em comportamento. E como o Jão-Jão não haverá nenhum, nunca mais. O seu único defeito era ser bastante boémio, grande aficcionado dos telhados... Pacífista de nascença, quando atacado pelo gato mais pequeno e mais guerreiro desta casa, emitia um som semelhante ao da sirene dos bombeiros. E nós corríamos a salvá-lo!
Hoje não pude valer-lhe, na sua última batalha contra a doença. Não pude dar-lhe o que os seus grandes olhos verdes, verdes, me pediam!

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