terça-feira, 30 de outubro de 2012

Memórias de companheiros de caminhada

MÁLICE RIBEIRO
Há 30 anos raras eram as portuguesas emigradas que tinham voz na sua comunidade. Maria Alice foi para mim, desde o dia em que a conheci, uma revelação do que pode ser a liderança no feminino - e no seu melhor!

Na verdade, muitos anos de convívio confirmaram o que antevi desde esse encontro inicial, na primeira "missão de serviço" que me levou à América do Norte: ali estava alguém que tinha infindas reservas de energia, de coragem, de dedicação à "res publica" e que delas fazia uso, apaixonadamente, intensamente, no quotidiano de uma das maiores e mais dinâmicas comunidades lusas à face da terra (como, com ela e com outros dos seus dirigentes, aprendi que é a de Toronto).

O que a movia? Julgo que era, claramente, o portuguesismo, o sentimento patriótico, sempre mais desperto no estrangeiro – na aventura da emigração - a par do inconformismo com as regras, as práticas e as tradições que desvalorizam o género feminino e lhe reservam um papel secundário. E, também, as causas que abraçava, com entusiasmo, tais como: a defesa dos direitos dos imigrantes, e das mulheres; a defesa da cultura portuguesa na imensa panóplia de culturas conviventes no Canadá; propósito de informar, com rigor, com verdade, sobre o passado e a actualidade de uma Pátria, distante mas presente; a vontade de dar corpo e alma a uma comunidade, que para sempre lhe deve parte da dimensão que alcançou - e que não para de crescer.

Málice, como os amigos lhe chamavam - e por isso a chamo eu assim - foi um pioneira da emigração portuguesa em Toronto. Fundou, com o marido, António Ribeiro, o primeiro jornal de Toronto, escrito – e muito bem! - Na nossa língua. Tornou-o um semanário "de referência" no mundo português de além fronteiras, e um espaço de vivência de ideias e de grandes causas. Envolveu-se em inúmeras realizações importantes e campanhas de mobilização comunitária, porque vivia para a sua própria família, como para a família mais extensa, a do associativismo, o núcleo agregador dos emigrantes, que constrói verdadeiras comunidades.
Foi Conselheira eleita do CCP, desde os anos 80 (quando o "Conselho" era, quase em exclusivo, masculino) e para o CCP trabalhou, eficiente e incansavelmente, até ao fim dos seus dias, vencendo a doença enquanto lhe foi possível. Um grande exemplo para os jovens, para as gerações que farão o futuro!

Maria Alice Ribeiro tem, para sempre, o seu lugar na história do jornalismo da diáspora, na história das comunidades portuguesas do E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e admiradores, permanece viva na memória e na saudade.

E, connosco, os que tivemos o privilégio de ser seus amigos e admiradores, permanece viva na memória e na saudade.


VIRGÍLIO TEIXEIRA

A fama, viveu-a com imenso talento e natural distinção a partir dos estúdios de Madrid ou Hollywood, Mas, um dia, como muitos outros emigrantes, quis regressar à terra, à Madeira, ilha dos seus amores - para iniciar uma nova vida, servindo, com toda a dedicação e competência, a emigração, portuguesa, em geral, e madeirense, em especial, dirigindo os serviços para as comunidades na Região Autónoma.
E para ser feliz, com a Vanda!
Pudemos contar com ele, invariavelmente, solidariamente, na defesa das  nossas causas, no esforço de reconhecimento do papel e dos direitos dos emigrantes: um aliado, um amigo generoso, simples e encantador.
Estas são algumas das qualidades com que fez história, prestigiando o País e tornando a sociedade do seu tempo melhor, mais civilizada e mais convivial.


MARY GIGLITTO

Conheci a Mary Giglitto em 1980, ao iniciar o convívio com um Portugal
bem maior do que o imaginava - o da "diáspora". Na primeira das
"viagens de descoberta" desse novo mundo, que me levou ao diálogo com
as nossas comunidades da América do Norte, ninguém me impressionou
tanto como a Mary!

Na Califórnia fiz, logo, grandes e ilustres amigos, que ficariam para
o resto da vida, mas, de facto, de entre eles, de entre os muitos
Homens e as muito poucas Senhoras, que, então, influenciavam
poderosamente a vida das comunidades portuguesas, Mary foi a que se
tornou o mais formidável paradigma da "arte de viver Portugal" no
exterior do território. Ela ensinou-me, de uma forma muito concreta e
evidente, que os portugueses de segunda ou terceira geração podem ser
tão ou mais patriotas do que nós, os nascidos e criados dentro das
fronteiras, e que sabem continuar, porventura melhor, e mais
eficazmente, a história antiga, dando-lhe visibilidade, força actual e
futuro.

 Bem o exemplificava já o Festival Cabrilho de San Diego! Se o navegador Cabrilho aí conservava, indiscutível, a sua nacionalidade portuguesa e se as faustosas comemorações do feito da descoberta da Califórnia mantinham a dominante da sua terra de origem, era porque Mary, a líder, alma de toda a organização, não consentia, em nome de uma dinâmica comunidade, que outros se adiantassem e se apossassem da herança nossa...

História, cultura, comunidades portuguesas encontraram nela uma defensora, que não hesitava perante nada e sabia ganhar todas as batalhas, com as armas que cada ocasião reclamasse: diplomacia ou irreverência, confronto ou consenso... sempre com os argumentos da sua inteligência, sentido de humor, irradiante simpatia e capacidade de comunicação e, também, infinita energia e coragem. Uma Mulher pronta a avançar, rápida e fulgurantemente, em qualquer "missão impossível" – e a vencê-la. Portugal foi a sua causa maior e não poderá esquecê-la - Mary Giglitto merece ser considerada como verdadeiro rosto feminino da nossa Diáspora!


Maria Manuela Aguiar

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