O NOSSO
BEETHOVEN FOI À SUÉCIA DAR RECITAL DE PIANO
Às tantas foi como se
no centro do estádio houvesse um piano e Beethoven tocasse um excerto sublime.
Às tantas foi como se
pelo estádio sibilasse súbita ventania, tempestade de granizo, trovoada
carregada de mil raios e coriscos, um pandemónio.
Às tantas foi que por
um estádio da Europa setentrional passara um artista impar, que inapelavelmente
deixou em cada sueco um sueco maravilhado perante absoluta elegância
futebolistica, perante insuperável destreza.
Às tantas foi que
Cristiano Ronaldo montara inesquecível clínica de futebol, em 19 de Novembro de
2013, na Friends Arena em Solna.
E no fim -- as contas feitas, caso arrumado, estádio a
esvaziar, frio de iceberg, silêncio de túmulo, almas torturadas -- a indelével imagem de Cristiano Ronaldo de
braço dado com cada sueco, acompanhando-os
calorosamente às suas
casas, suando neles a lembrança indesejável do desaire mas repondo neles a
recordação de uma peça desportiva de grande espectáculo -- verdadeiramente uma peça difícil de tragar
para suecos e afinal, bem vistas as
coisas, exibição preciosa, gratíssima até, pois nem sempre aparece por ali um
Cristiano Ronaldo todo inclinado a oferecer o seu 'produto-para-sonhar', todo
propenso a dar show!
O nosso Beethoven
acabara de tocar sonatas magistrais na Suécia e o eco da rara proeza tão cedo
não deixará de repercutir vivamente por aquela parte oriental da península
escandinava, suas cidades e vilas, suas colinas e vales.
Sonatas que o mundo
inteiro escutou deliciado!
Não houve equívoco quando trouxeram ao mundo
Cristiano Ronaldo-para-o-futebol! Do mesmo modo,
ninguém se equivocou quando, por exemplo, trouxeram ao mundo Muhammad
Ali-para-o-box, Michael Jordan-para-o-basquetebol, Rosa
Mota-para-coleccionar-maratonas.
Quatro predestinados
desafiando os rigores da perfeição!
Cristiano Ronaldo
marcou três golos contra a Suécia que teriam merecido pinceladas de Vincent Van
Gogh e na origem desse monumental hat-trick estiveram João Moutinho e Hugo
Almeida -- que souberam entregar aos
pés mágicos e à velocidade supersónica de Ronaldo três passes medidos a
quilómetros de distância, embora de precisão milimétrica e de qualidade
invulgar.
Foi tão reconfortante
o sucesso alcançado na Suécia na complicada eliminatória para o Brasil que se
poupam críticas à seleção das cinco quinas quanto àquela barreira do
arco-da-velha -- esburacada,
aflitivamente descuidada, que Ibrahimovic aproveitou chamando-lhe um figo e
"fuzilando" Rui Patrício sem piedade, sem venda branca nem
estaca!
Foi tão convincente a
vitória portuguesa arrancada em Solna que se perdoa à defesa portuguesa o desnorte e o seu andar-à-deriva em frente á
baliza nacional, à procura de posição e de resposta à marcação de um canto -- que o nosso velho conhecido Ibrahimovic
converteu "à José Águas" com primoroso toque de cabeça.
Até ao Brasil e,
depois, no Brasil, Paulo Bento irá trabalhar intensamente e incessantemente com
os categorizados componentes da seleção nacional. Irá ocupar-se,
particularmente, de tudo, sem omitir nada.
Até ao Brasil e
depois no Brasil irá recordando os nossos futebolistas -- sorriso franco, nada de dramas, coração
nas mãos, pão pão, queijo queijo -- que
no Brasil, qualquer que seja o nosso grupo, quaisquer que sejam os nossos
compromissos, Portugal pode ganhar o campeonato do mundo.
Irá recordando os
futebolistas portugueses de que lhes será legítimo alimentar todas as
esperanças desde que nunca desprezem todas as realidades.
21 de Novembro de
2013
Edmundo Macedo
Em 19 de Novembro de
2013 a selecção nacional de futebol foi à Suécia conquistar acesso ao Mundial
de 2014 no Brasil
viveu horas tao
refrescantes como a agua que brota das fontes de Sintra
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