quinta-feira, 4 de maio de 2017

VAMOS PARTICIPAR NA BIENAL 1 - A Bienal "Mulheres d' Artes" organizada pelo Município de Espinho vai na sua 4ª mostra de vida.. Evoluiu, procurou novos moldes e parcerias, apostou na internacionalização com acento em Espanha, e promete continuar na agenda cultural da cidade. E muito justamente, antes de mais, porque se trata de uma iniciativa, tanto quanto se sabe, inédita, a nível nacional e internacional. Curiosamente, a ideia original teve um percurso "por etapas" e uma pluralidade de co-autores. Posso contar a sua história, ou melhor, pré-história, que acompanhei desde o primeiro momento, embora acidentalmente. .O primeiro momento aconteceu em finais do ano de 2010, em Gaia, no Museu Teixeira Lopes, durante uma exposição de obras da sumptuosa coleção Millenium. Depois dos discursos da praxe (todos, se bem me lembro, a cargo de "homens públicos e notórios"), os visitantes dispersaram-se, em pequenos grupos. E, como é fruto de usos e costumes arreigados em Portugal, foram homens na dianteira, para um lado, e ficaram as mulheres para o outro. De uma forma espontânea e natural, ali se criou um círculo feminino de mulheres de letras e artes, em cujo meio, sem pertencer a nenhuma das artes, me vi, em animada conversa. Uma das nós chamou a atenção para aquele exemplo de segregação de facto, em que, por ser costumeira, mal se repara. Foi então, e a propósito desse anacronismo lusitano e da necessidade de divulgar, em especial, o mundo artístico feminino que Luisa Prior sugeriu que se promovesse uma exposição coletiva de mulheres. A proposta suscitou entusiasmo geral. Sendo eu, na altura, vereadora da Cultura da Câmara de Espinho, não poderia deixar de fazer, de imediato, uma segunda proposta: a da "candidatura" desta cidade à realização do evento. Era uma oferta irrecusável, dado que as galerias do FACE sempre ganhariam, em dimensão e beleza, a qualquer concorrente... Logo ali se aventou o mês de março do ano seguinte para a "expo" e se encontrou uma comissária prestigiada, na pessoa da Diretora do único jornal literário nortenho, Nassalete Miranda. Quando, em Espinho, poucos dias volvidos, se efetuou a primeira reunião entre a Comissária, as pintoras, a vereadora e o Diretor do Museu, a fim de dar corpo ao projeto, ainda estávamos a considerar uma simples coletiva de pintura. Já na fase da despedida de uma frutuosa manhã de trabalho, o Dr Armando Bouçon, inesperadamente, lançou um novo desafio: "E se déssemos continuidade a esta exposição numa Bienal? O que acham?" Achámos, é claro, unanimemente, que estávamos perante um verdadeiro "achado". Eis como uma muito interessante, mas episódica, mostra pictórica se metamorfoseou em Bienal. 2 - Porém, como é óbvio, uma Bienal só o é a partir de uma segunda vez... De 2013 em diante, é à Câmara de Espinho, sobretudo, à Vereadora Leonor Fonseca, que se deve o seu trajeto para o futuro, a sua consolidação. Num país onde as políticas, incluindo a cultural, se processam, infelizmente, mais por linhas de rotura do que de continuidade, é um feito a salientar... Não quero com isto dizer que o modelo inicial de mantenha. A experimentação foi parte integrante da caminhada, numa incessante procura de inovação. Em 2011 o impulso viera de fora, da "sociedade civil", os convites foram determinados por uma avaliação curricular rigorosa da responsabilidade da Comissária.. Em 2013, o Município tomou em mãos e evento e deu-lhe a maior abrangência Em 2015, optou pela constituição de um júri de seleção e pela atribuição de prémios, graças ao mecenato (por sinal uma empresa de renome internacional, as Tapeçarias Ferreira de Sá, que tem à frente uma Mulher) e, em 2017, evidencia uma vontade marcante de internacionalização, que já vinha de trás. A Bienal assume, cada vez mais, uma dimensão peninsular. Talvez nos anos vindouros se possa estender ao país vizinho, num intercâmbio alargado de artistas portuguesas e espanholas. - nos anos ímpares aqui, nos anos pares em Madrid ou Barcelona. Quem sabe? Seria uma forma de Espinho recuperar a vocação "ibérica" de Espinho, com que cresceu no início de novecentos. 3 - A Bienal é um repto da Câmara de Espinho e a resposta concreta das artistas escolhidas, mas não só: é, também, a resposta do seu público! Nós. os que vamos visitar a exposição, temos de tomar consciência que ela se destina ao nosso olhar e que é a nossa adesão que lhe dá vida, cumprindo a sua finalidade última. Somos, pois, ativos participantes! No dia inaugural, 25 de abril, no contexto de uma bela programação da festa da liberdade, em Espinho, uma alegre multidão de centenas de convivas encheu as galerias Amadeo Sousa Cardozo e o auditório do FACE registou "casa cheia" para um magnífico espetáculo musical. Sem dúvida, um sucesso! Porém, o dia seguinte, ou melhor, no plural, os dias seguintes não são menos importantes para dar a inteira medida desse sucesso. Até Agosto, há muito tempo para concretizar o ato de participação a que me refiro. Ou seja, para visitar ou revisitar a Bienal, para pensar a mensagem que nos deixa em cada tela, para refletir sobre o tema aliciante da arte na perspetiva de género (qualquer que seja o entendimento que se lhe dá...) ou até, eventualmente, para abrir o debate à problemática de "mulheres de outras artes" no tempo presente.

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