terça-feira, 29 de maio de 2018

A HORA DE DEFENDER O FUTEBOL PORTUGUÊS

1 -O tema violência no futebol tomou conta dos "media" e, em especial das televisões, desde a invasão da Academia de Alcochete e das cenas de terror perpetradas, ao que tudo indica, por membros de claques leoninas. Coisa jamais vista, até porque foi repetida e abundantemente "vista" em imagens, que correram o mundo e envergonharam o país. Para o presidente do Sporting foi apenas um acontecimento "chato", mas dentro da normalidade porque; segundo ele, "o crime faz parte do dia a dia". Não, não faz!. Foi um ato de "selvajaria", para usar o termo usado pelo Primeiro-Ministro, um ato que chocou, antes de mais, pela sua anormalidade. Vamos separar as águas... Nesta crise, que abala o SCP, eu distinguiria o que é, e o que não é, suscetível de generalização ao futebol como um todo. É-o toda a problemática do "hooliganismo" à portuguesa, enraizado nas claques. É preciso combatê-lo, implacavelmente. Não sei se a "Alta Autoridade para a Violência no Desporto", de que fala o Governo, pode acrescentar alguma mais valia... Essencial, sim, me parece o escrutínio dos registos de filiação nas claques, a exclusão de todos os cadastrados, a condenação destes crimes, com sanções pesadas e com a interdição absoluta de entrada nos estádios. Todavia, nem só de penas dissuasoras se faz a prevenção do crime, que deve partir da consciencialização dos dirigentes clubistas, do seu empenho em fazer a pedagogia dos valores desportivos e da lisura de comportamentos, que o emblema do clube exige. A Inglaterra teve, há décadas, o problema e resolveu-o. É um "case study". Sugiro que comecem por o estudar... Também a suspeita de fenómenos de corrupção agitou, entre nós, a época 2017/18. Não é vício exclusivo deste domínio - existe onde há poder, onde há dinheiro, e, no futebol, há ambos. Não atinge tudo e todos, mas está a ser objeto de investigações múltiplas e praticamente inéditas na liga principal - ao caso mais antigo dos "e- mails" do SLB, junta-se, agora, a suspeita de compra de árbitros e jogadores, por parte de colaboradores próximos de Bruno de Carvalho. A coexistência do "futebol-negócio" com o "futebol-desporto, é um sinal dos tempos. Contudo, isso não pode, de modo algum, significar negócios escuros, tráfico de influências, viciação de resultados. A ser verdade o que é, para já, suspeita, trata-se de uma situação dantesca, de um verdadeiro cataclismo! Há que aguardar... 2 - Admitindo que o "hooliganismo" do "comando" invasor da Academia ultrapassou os níveis de violência antes registados entre nós (e deixando em suspenso a hipótese de envolvimento em processos de corrupção), olhemos o que de singular e específico apresenta o drama que o Sporting vive Aparentemente, é um problema tão personalizado. que, se aqueles outros tiverem solução, pode ser fácil de resolver. Bastará para tal, a remoção de um só homem, que é cada vez mais, um homem só: o presidente Bruno de Carvalho. O dirigente desportivo que, numa inconcebível entrevista ao Expresso, revelou a sua crença na máxima de um tio-avô (excêntrico, sim, mas muito respeitado e a não confundir com o descendente) : "Para ter sucesso, a primeira coisa é criar fama de maluco. Depois, é só mantê-la". A essa fama Bruno de Carvalho fez jus, inteiramente. Só ela lhe terá permitido sobreviver às mais bizarras e insensatas atitudes contra antigos dirigentes do clube, contra treinadores de excelência, como Jardim e Marco Silva, contra os associados, que dele simplesmente discordaram, e, agora, até contra todo o plantel,contra Jorge Jesus!. Sucesso, porém, não conseguiu, bem pelo contrário - o populista terá perdido o seu povo e o clube, com ele, caminha para o abismo. Insolitamente, a cultura de agressividade exacerbada, a incontinência verbal, com que, de início, zurzia o inimigo externo, os competidores, foi resvalando para o interior do clube, em contornos de "guerra civil", como alguém lhe chamou. Quem poderá aceitar que todo o plantel seja objeto de públicos insultos, de ameaças de procedimento disciplinar e suspensão, numa fase crucial da época, ainda com tudo o que havia de mais importante para ganhar - Campeonato, acesso à "Champions" e Taça de Portugal? Quem poderá aceitar que passem sem uma palavra de censura do presidente, o lançamento, por claques do clube, de tochas sobre a baliza de Rui Patrício, no último jogo em casa. ou as tentativas de ataque na garagem de Alvalade, após o regresso da Madeira? Quem poderá aceitar, que, perante a sucessão de atos de violência impunes, ele, o presidente, não tenha acautelado, com reforços, a segurança dos jogadores nas instalações de Alcochete? Quem poderá aceitar que nem desculpas tenha pedido, pelas agressões de que foram vítimas jogadores, técnicos e funcionários do clube? Ele não se demite, mas tem de ser demitido. Obviamente. 3 - É durante estas tempestades mediáticas que, em Portugal, caem sobre o futebol, (sempre avassaladoras e passageiras, deixando, quando passam, tudo como dantes...) que se deve procurar o equilíbrio na avaliação do que corre bem e do que é preciso alterar radicalmente. Não nos esqueçamos, no futuro, de implementar a mudança, e não desvalorizemos, no turbilhão do presente, o que há de admirável no nosso futebol, em geral, e no SCP, em particular. Nenhum clube deu mais jogadores á nossa seleção campeã da Europa do que o Sporting! Patrício e William de Carvalho, alvos preferenciais da fúria das claques, foram dos que mais brilhante contributo deram para a vitória histórica, em Paris. Da sua formação saíram talentos como Figo ou Ronaldo, Quaresma... Lembremos que, em todos os continentes, há jogadores, treinadores e técnicos de futebol portugueses, que nos colocam à altura das grandes potências do desporto, como não acontece em outros domínios. Lembremos o campeonato da Europa de futebol, por nós organizado,que foi um fantástico exemplo de competência, de convívio entusiástico e pacífico de adeptos, dentro e fora dos estádios, que nem a derrota de Portugal no último jogo pôs minimamente em causa! Para mim, que não sou adepta do SCP, esta é a hora de manifestar solidariedade aos jogadores do clube, e a Jorge Jesus pelo seu exemplo de profissionalismo e pela coragem de estarem presentes na final da Taça. Qualquer que seja o resultado do jogo, eles já ganharam! 17 de maio Milénio Stadium - Toronto

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