sexta-feira, 7 de agosto de 2020

CAMINHOS DA POESIA prefácio e meus versos

OS CAMINHOS da POESIA

 O Prefácio 

e os meus versos

Prefaciar a nova coletânea galaico portuguesa de poemas e de lendas, narradas numa toada poética, foi convite inesperado, que recebi como uma honra, e aceitei como meio de me associar, em simples prosa, a um projeto tão conseguido nos seus vários propósitos, confluindo harmonicamente na finalidade maior de fazer futuro de duas comunidades geradas numa mesma língua antiga. Gente há quase um milénio separada pelos acasos da História, e por uma mera fronteira política, sem que se haja desfeito a magma de uma unidade antecedente... Aqui, em cada folha, vem impressa a voz livre e impetuosa dos Poetas, assumindo o papel de atores sociais de uma reaproximação pela amizade, renascida e reforçada, de encontro em encontro, pelos Caminhos da Poesia, assentes no mais recôndito, amplo e consensual denominador comum, que é sempre a Cultura! 
Mulheres e homens, portugueses e galegos, qualquer que seja lugar onde nasceram ou habitam, as suas ocupações ou títulos académicos, estão juntos na consciência de pertença a um mesmo universo cultural em expansão. Cada um se apresenta de uma forma livre, alguns preferindo falar quase só pelos versos, outros dando-nos a síntese de "curricula" profissionais, breves traços biográficos ou uma simples saudação de irmãos.Partilham, essencialmente, a vontade de intervenção num mesmo movimento de fraternidade, institucionalizado, ou não, numa significativa pluralidade de grupos e tertúlias - movimento que das Letras, numa amável luta, parte para os afetos, e neles redimensiona, afinal, a própria identidade. Como diz a Poeta:"Veño dunha estirpe/guerreira, como a gran Boudice/levo no sangue a loita/as minhas armas são pluma e tinta"
No "país lendário, que começou a norte e se estendeu a sul", o caminho do meu próprio sentimento de identidade galaico-portuguesa, fez-se em dois andamentos, primeiro nas visitas à Galiza, onde tudo me parecia familiar, veredas de aldeias, casas de pedra, a hospitalidade, a confraternização nas esplanadas e nas ruas da cidade, os rostos das pessoas e até a forma de falar, que entendia, espontaneamente . Mais tarde, rumando a sul, ao Algarve. encontrei, (Infinita surpresa...), pinceladas de exotismo na cor ocre das falésias, nas casas brancas de barras azuis ou amarelas, nos pátios mouriscos, nos modos de estar... E, assim, ainda menina, num simples olhar em volta, me apercebi de que Portugal, tal como a Espanha, (e não ao invés, como pretende uma certa corrente), é uma sociedade multicultural, de tradições, de reminiscências muito diversas (admirável  diversidade!), que se constitui numa outra unidade, singular e indestrutível, no seu território e na sua Diáspora.Todavia, mil anos de fronteiras, em que a Nação Portuguesa se forjou em Estado, não lograram esbater as eternas afinidades naturais do norte com a Galiza, ou do Algarve com a Andaluzia...Sintonias que se somam, sem antagonismos... E é (e, nesta ordem de das coisas, porque não haveria de ser?) um poeta andaluz, Manuel Machado, que vem proclamar a Galiza  "Espanha madre de la Espanha entera"... E nós acrescentamos: da Espanha, sim, e, ainda mais, de Portugal. Avançamos, tendo "por lema a poesia dunha mátria sen fronteiras"... Ou, como diz outro Poeta: "que Galícia sexa luz en Lisboa"/Luz que ven dos fillos das terras nosas"
Um dos aspetos mais salientes e inovadoras desta terceira coletânea é a incursão nos domínios do nosso riquíssimo património lendário e mitológico, via privilegiada de uma demanda identitária, que anima o projeto poético coletivo. Aos Autores foi proposto que recriassem as nossas lendas, em versão de autor e linguagem de uma beleza e melopeia poética, e não admira que a ideia fosse tão apelativa e alcançasse tão abundante e excelente materialização!  E, com ela, o trajeto se inicia mais atrás, mais perto das origens, em diálogo com a  ancestralidade profunda da cultura popular, suas crenças, memórias, valores, enigmaticamente envoltos na penumbra do fantástico e do mistério pressentidos e anunciados. Foram, agora, convocados os Poetas na veste de mediadores da intelecção de uma vida primordial, que nos oferece o seu imemorial cortejo de deusas, espíritos, sereias, mouras encantadas, mágicas metamorfoses de homens e animais, trocando de pele ou de condição, o sobrenatural enlace dos vivos e  dos mortos... Vestígios de histórias intangíveis que, sob a aparência do irracional e do absurdo, guardam a Verdade de outras idades. Há Poetas que, nesse relance retrospetivo, se interrogam: "Como teria sido essa outra vida/ vida que foi a nossa em outro tempo?"... E  há os nos dotam de certezas: "Somos o Povo que fomos em tempos ancestrais"... Filhos da Suévia e do Miño co mar por padrinho”.E, antes de suevos, nos redescobrimos celtas, lusitanos, "querreiras e guerreiros, filhos da Deusa de que emana a vida", no imaginário, entrevendo as "Xacias" que: "Lapexan na Auga/no Miño e nos regueiros/bañandose nas pozas frías/enxugandose ao vento". Como Navia, a Deusa lusitana, e astur- galega, que se acolhe nas pontes, nas lagoas e rios... Presentes se fazem, vindos da Natureza, os espíritos: "materializados em chovia arribam nos vales /multitudes de espíritos a conviver aos mortais". E os mortos, fugazmente, reunidos aos seus, na súbita diafania das dimensões ocultas e espectrais: "abrense as portas entre o Alén e este mundo/e veñen as ánimas dos devanceiros/ camiñar entre os vivos… E, tão temidas e malignas, a norte e a sul do Minho, eis as bruxas,  com seus "talismáns diabólicos": "Chegarón as bruxas vellas/ nas suas vassoiras rápidas como lóstregos/os gatos negros, as curuxas, os sapos". Quando não o diabo em pessoa, o "picaro diaño", um dia aparecido nas terras de Becerreá... 
Nas ingénuas estórias do ilógico e do impossível pode assomar o lobo bom que fala à menina assustada, a jovem transmutada numa "serva branca", que só na morte recuperará a forma humana, a moura capaz de comer, todos os dias, um boi inteiro, e a outra que, com o filho ao colo, transporta a pedra colossal, a "pedra má"…Ou a xacía, que "ergue castelos na area/entre colo de lúar", e uma outra "loira e fermosa, que vive nas augas do Miño"...
Muitos dos nossos “Poetas-contadores-de-lendas”  buscaram inspiração no legado mitológico das suas terras:Teixido, de onde trarás, com o amuleto, a "maxia por sempre contigo", Béade e a sua moura Mariña, que ali toma marido, a Feira, e o castelo da Princesa Lia, enamorada de um gentil mouro, Serradelo e o seu São Caetano, pronto a castigar os ímpios com a fúria dos temporais, Tabuado, onde se lembra como San Cristovo perdeu a capela votiva, Silvalde e a Bicha das sete cabeças, pelo povo cortadas, uma a uma, ou ali perto, em Esmojães, o vilão Catafula, herói improvável, morrendo em glória, na resistência ao invasor gaulês. Do mesmo modo, mais remotamente, o domínio romano em terras galaico- portuguesas permanece viveiro de Imortais, os bravos de Castro de Medeiros, o insubmisso Viriato. a merecer alturas de epopeia, a ardilosa donzela de Monsanto sitiado, qual outra Deu-la-Deu, a derrubar a força pela astúcia. Na luta hábil contra um Poder maior e prepotente, o mesmo alcançam as duas padeirinhas, no fogo do seu "forno sagrado" sacrificando o vil alcaide... No sulco histórico de uma religiosidade bárbara se insere a Lenda do Ferro em brasa, e, também, numa trama de contornos pitorescos, a do Galo de Barcelos, em ambas as ordálias, a justiça divina sobrevindo pelo milagre. Mais milagres revisitamos numa variante da saga arturiana da procura do Santo Graal, acontecida na capela de Cebreiro, onde se guarda "o cáliz e o relicário/dentro de duas ampolas/ feitas de vidro e de prata". E o suave "milagre das rosas" da Rainha Santa, que por ele, é mais venerada do que por feitos muito concretos, justificativos da mesma consagração de uma grande mulher política e paladina de uma Igreja dos pobres,segundo a doutrina joaquimita. 
Do repositório lendário desta coletânea, referência ainda à singeliza da narração da vida e morte da "Vella Maruxa" , no andar dos seus últimos passos: “Marucha silente no seu camiñar/passiño a passiño achega-se al mar"...  
Tantas são mulheres viventes neste outro universo!...Bem se podem dizer que, no feminino, sobejam em crónicas mitificadas, e, mais latamente, no imaginário poético, as figuras e os feitos extrordinários, que faltam nos anais da História, de onde andam desaparecidas. 
 Em tão original antologia, onde a Verdade, mitos, anseios e medos se abraçam em versos, que percorrem séculos ou milénios, num virar de páginas, a actualidade sofrida no planeta inteiro, neste ano fatídico de 2020, é assinalada com a curiosa introdução da palavra COVID, no léxico poético. A peste do século, que leva os homens como “bolboretas” deixadas no "almacén dos mortos"!  Um apocalipse: "feche-se a gente e todos os eventos serão cancelados"...  Um pesadelo: "Vinte dias do ano vinte vinte/Vinte dias sem abraços, sem beijos...".quedando-se "os amantes em quarentena"...  Contudo, os Poetas da distopia dividem-se entre sentimentos de finitude  ("Suspende-se a vida. Vive-se a morte"), e a sua denegação:("Confinado fisicamente/ mas livre como uma ave")...
De semelhantes contrastes se vai compondo o roteiro desta longa e variada viagem, entre paisagens do mundo exterior ou interior,  paisagens de alma...  Há os que conseguem "atravessar o mundo inteiro/nesta, mais uma, página do diário da vida" e os não encontram o seu rumo:  "Perdi-me num ir e vir de sentimentos, vividos, sufridos". E aqueles que vão além dos limites da perda, porque lhes deixa  "tão pouco que torna o nada enorme"...Os que à noite pedem: "abreme a friesta/que quero ver as estrela",  Os que nela se quedam: solitários  "O silêncio tomou conta da noite/Já entrouhá tanto tempo na nossa casa"... E os que tomam conta do quietude: "Não quero ruído que destrua a voz deste meu silêncio"
Falam a muitas vozes os poetas...ouçamo-los!.
Os Poetas do Mar...
Mar, fonte inesgotável de inspiração no "mundo de marinheiros", que é o nosso... "E o mar! Miña querida/ Noiva de sal e espuma (...) Cántate cual sereia/en rocha firme retida". Assim começa o dolente poema dedicado aos que no mar ficaram...  Em mar se volver é utopia de grandeza, que em verso se permite: “Eu nacín sendo regato/Soñando com ser u mar/Dormir contando as estrelas/ E vendo a lúa brillar” (...) Ninguém podera parar/os soños e a fantasia/ e ainda muito menos/se istos son poesia". Mais triste é o mar sem horizontes, no claro-escuro de areia e bruma:   "macera este mar...a areia e a bruma que encerra noites longas".  Tantas são as formas de o cantar, "mar de letras, sonho de ideias"...
Os Poetas da Terra... 
 Os Poetas da Terra, de Natureza fecunda e graciosa, estão, hoje, mais a norte do que a sul do Minho - labregos, filhos de labregos (no sentido nobre da palavra, que se desvirtuou num Portugal a abandonar, na miragem da cidade ou na dura saga da emigração, os seus campos e aldeias). Na Galiza muito do que viram os olhos da Poeta, que é a maior de todos, ainda nós o poderemos ver e sentir :: "Cheira a ti, Rosalia/Cheira a tua presença/ á tua vida, ao teu leito/ É tudo teu, é tudo nosso!". São "aldeiñas de choros e risas", aldeias ainda vividas, não apenas sobreviventes na memória : “terra, terra/eco da vida que nos guarda a auga/que âncora as nosas árbores/e que espera a fin dos nossos corpos/ terra amada/lugar/orige/pátria/terra/terra/terra”. Campos onde a vista se espraia em contemplação: “baixo un arbore cansado/de corroída corteza/sintome enamorado/de toda a Natureza”. Numa Galiza, para sempre  "chea de sacras ribeiras regadas pela auga dos deuses/ a reverter de arte, de música e de grandes festas". Desta vida não se apartam: "non me leves/ ao teu mundo/ que nel/ non quero ficar". À mulher se pede: "nunca marches da terra/porque tu eres a terra/ da nossa amada terra Galega". Mulher, Mãe:: "Serás madre, emerxente de súa raiz/encherás os espaços ocos, os movementos /de sempre, as formas, o recanto no fogar .
À cidade. chegou o outono: "Só este sentir Portuense/do Outono que chega e te leva/ só este lamento...  O Porto, de onde sempre se espera novas da Galiza, porque "é de lá que sopram/os ventos da esperança" 
Os Poetas do Amor
O amor em que se gerou a lírica galaico-portuguesa: "Non me pídas a lúa a que non chego/ Pídeme amor, amor sinxelo". Amor que se quer reviver: "Tenho saudade do amor que era/ Mas quem sabe possa ainda ser" ..Ou de que se morre: "cando vexo que se morre/ por a pessoa querida/xa sei que é poesia".Amor sem limites:."Amar, só amar-te a construir/amor e mais amor no amor já feito". Amor universal: "querer amar os outros, com o amor que nos temos".Amor de uma galega  por Portugal: "Deixei lá um bocadinhos de alma"... 

Os Poetas do Caminho

"Posso mostrar-te o instante para além do instante?" No tempo e no espaço, a caminhada não terá fim..
 “A ponte que me leva/ é infinita/ando correndo nela/mais non chego”: A ideia do longe, que não se alcança, pode bem ser a força que nos leva em frente: “vagabundo de sonhos/quanto mais os estreito/mais deles me aparto"..É preciso, apenas, dar ao caminho o sentido das nossas causas: "O Poeta olha-se ao espelho e vê o mundo/Veste-o com os sonhos replicados dos seus".  Causas e crença: : "creo firmemente que a poesia transforma o mundo e faino muito mellor"...  "Em cada poema que deixámos voar"!
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Citações colhidas um pouco ao acaso, que mais não pretendem do que salientar a pluralidade de leituras a que a coletânea nos chama - não apenas a puramente literária, que não esteve no centro destas breves considerações, mas, também a etnográfica, política, (na sua sede eminentemente cultural), a feminista (tantas são as mulheres, nas suas faces humanas ou divinas... ),  histórica - num duplo olhar retrospetivo e prospetivo, Acompanhando os que pensam que a história que mais importa é a do futuro, sublinharemos o papel que vem assumindo, a publicação anual das coletâneas, lançadas em magnas assembleia de Poetas, alternadamente, na Galiza e em Portugal.
 Por elas, pela Poesia se faz a prova da existência desta comunidade de iguais, cheia de afetos e de sonhos, que habita em todo o espaço das línguas nascidas do mesmo tronco, movida pela  força matriz da Galiza e, (como diria Pessoa), por um Ímpeto de Portugal.


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Chamo-me Maria Manuela e sou de Gondomar, uma terra antiga com nome de rei godo - como outra, que, na Galiza, talvez partilhe conosco esse remoto fundador. Nasci, em junho de 1942, em casa da Avó materna, uma das chamadas "casas de "brasileiros" do norte de Portugal, e desde pequena, ouvi declamar poemas, ao som de música brasileira, e contar histórias felizes de emigração. Era uma família em que todos discutiam política, fraternalmente divididos, e em que quase todos versejavam, embora só tenham vindo a público os de um tio, autor da letra do hino de Gondomar, os de outro tio que glorificou as belezas da terra na lírica de um musical de teatro, e uma coletânea de sonetos de meu Pai, editada postumamente. Mãe e tias maternas eram, todas,  discípulas de Florbela e uma Bisavó paterna tornou-se, para mim, figura mítica como poeta repentista, cantando ao desafio em romarias populares, para além de ser admirável contadora de lendas e tradições. Logo que comecei a dominar a escrita, tentei, com menos talento, mas igual propensão, seguir esses exemplos e guardo, no fundo das gavetas, muitos cadernos manuscritos em que posso seguir a evolução da minha caligrafia dos 9 aos 16 anos,  período em que estudei num internato de Doroteias, o Colégio do Sardão. A partir do momento em que me libertei da clausura, logo me voltei,  não sei porquê, para prosa... No meu último ano do curso de Direito, (em Coimbra), alguns colegas do Porto, à frente dos quais Mário Cláudio, editámos uma revista (A Tábua), na qual o meu contributo foi um poema feminista, assinado com pseudónimo. Depois, a vida levou-me, inesperadamente, para os terrenos da política, e para uma convivência de décadas com a emigração e a Diáspora portuguesas (como Secretária de Estado e deputada). Os vários livros ("Portugal, país das migrações sem fim" e outros)), os muitos artigos para revistas científicas ou jornais, que publiquei, são sobre Migrações, Direitos Humanos, Feminismo...  e Desporto (futebol)..
O desafio que a Amiga Ester Sousa e Sá me lançou de participar nesta coletânea, (uma honra imerecida!), levou-me a mergulhar no passado, numa torrente de versos inéditos, de cantigas de escárnio e maldizer (ah, como o Colégio era inspirador!), às tão portuenses "quadras de São João", passando por sonetos ... Não resisti à tentação de reescrever alguns desses versinhos, e de incluir, igualmente, aqui e ali, modificado, dando-lhe, enfim, o meu nome, o "poema de intervenção", aparecido in "A Tábua", há 55 anos... 

Maria Manuela Aguiar Dias Moreira


MULHER DO ROSTO DE VENTO
 Vai
Pela Terra-Mãe adormecida
 que em ti hiberna,
as mãos vazias
das rendas de outrora,
Vai dar sentido ao Dia!
Vai
Para que a Terra-Mãe
Seja em ti,
Ao chegar o momento...
Vai
Rosto de vento
Em busca de Alma!
Vai da noite moribunda
Do ter ser negado
Vai
Que agonizas
No corpo atormentado
Os sonhos  a viver
Num amanhã


2 - VIVER...
Queria ser guerreira e vencedora,
Queria andar perdida a vaguear,
Queria ser o tudo e ser o nada
Dos opostos fazer meu caminhar

 Queria ser a nuvem que se esvai,
Como a ilusão de amor de uma donzela,
Queria ser o pássaro que voa
No rasto de uma antiga Caravela,

Seguir o sonho e logo o desfazer
Para sonhar mais alto, e mais cair.
Entre estrelas, que morrem sem se ver,

No sono, devagar, adormecer
Deixando, sem saudade, no adeus, 
A breve eternidade de viver.

3 - QUADRAS DE SÃO JOÃO DO PORTO

Balão que sobe nos céus
Como miragem de vida
Leva com ele o devir
De uma promessa esquecida...

Deste-me um beijo de noite
Perfumado de alecrim
E a fogueira que saltámos
passou pr'a dentro de mim

Os balões e as cantigas
Unem-se à luz do luar
Que em noites de São João
O amor fala a cantar!

Quando saltares a fogueira,
Cuidado! Vê lá se cais...
Ao coração que se queima
O amor não volta mais!

Na manhã de vinte e quatro.
Olhando a cinza eu fiquei
Que, ao ver a cinza,  lembrava
O amor que ontem te dei...

Meninas, vamos gozar
A noite de São João
Ponham sorrisos no rosto,
Fogueiras no coração.

À suave luz da fogueira
Teu coração desenhei
A imagem em contraluz 
Sobre o meu a acharei

Quando à noite, no escuro,
Uma fogueira acendeste
Teus olhos disseram tudo
O que tu me não disseste...

Zangado estavas comigo
São João nos vai casar!
Que o amor e os santinhos
Sabem sempre perdoar...

Uma mensagem seixei 
Na luz áurea de um balão,
Promessa de amor sincero
Em noite de São João

Meu Porto, que sais à rua
Nas festas de São João,
Não há no mundo cidade 
Mais fraterna - não há, não!

Meu Porto sem São João
Por causa da pandemia,
Sem manjerico, alho porro, 
Festa, balões, alegria...

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