terça-feira, 26 de março de 2024

DANÇA DE EMOÇÕES – UM PAR IMPROVÁVEL Maria Antónia Jardim consegue surpreender-nos, em cada nova criação que nos oferece… Agora com “A Dança das Emoções – Um par improvável” , pequeno conto, que a ousadia da imaginação e a mestria de tornar simples uma escrita vertiginosa transformam em grande aventura literária. Parte a Autora da contemplação de um quadro, “A dança”, quadro maior, (e não só pela sua dimensão física), de Paula Rego, génio da pintura universal e admirável narradora de enredos traçados a pincel… “estórias” de vivência feminina de que se faz a” História das Mulheres”, trazidas das margens para o centro do mundo, com todo o seu poder subversivo da velha ordem opressiva e misógina. A “Dança” na praia, à luz do luar, converte-se em cenário de uma narração fantástica, que poderia ter servido de mote para uma outra tela de Paula Rego, que, por sua vez, a imaginação cúmplice da escritora recriaria, no seu estilo gracioso e rápido… Uma dança entre duas artes em que o feminino visivelmente se exprime! Nas palavras sobre papel de Antónia Jardim vemos corroborada a mensagem pictórica de Paula Rego, que ela própria definia, sem rodeios: "O que é isso de uma arte sem género? De uma arte neutra? Há histórias à espera de serem contadas e que nunca o foram antes. Têm a ver com aquilo em que jamais se tocou: a experiência das mulheres." Sim, as personagens deste conto encantatório entram na dança de Paula Rego, entram e saem, muitas vezes, com a marca inconfundível da autoria feminina. Numa dança de emoções, (do sentir e desejar, dança de idade e de gerações, de realidade e ficção), no romance como na tela, a Mulher tem o papel dominante. Chama-se Kristal, vagueia pela Londres de Paula Rego, à procura de um destino, e vai tocar a lua com a sua mão jovem. A lua cheia, lua/mulher, lua de mel… com Raul, o “alter ego”, homem/luar. Ler um livro (precisamente como olhar uma tela), é um exercício de plena liberdade, uma apropriação consentida de sensações, que, finalmente, são só nossas. Na gostosa leitura da “Dança de Emoções”, deixei-me envolver no ritmo da música, andei redopiando de página em página, e entrevi no enlace de Kristal e David, o de Tom Baxter e a Cecília, de “A Rosa Púrpura do Cairo”. Depois, ao táxi em que Kristal é transportada a cenários de pinturas célebres, associei o táxi da “Meia noite em Paris”, que leva Gil a viajar no tempo, até à cidade de outras eras, ao encontro de Cocteau, Gertrud Stein, Zelda e Scott, Picasso, Braque, Dali, Buñuel… E, assim, Maria Antónia, Paula e Woody, na minha feérica triangulação, se reúnem, em Londres, num improvável e fabuloso “Candlelight Concert”… Maria Manuela Aguiar

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