sexta-feira, 3 de maio de 2024

UM JORNAL DE CAUSAS - O LUSO PRESSE

UM JORNAL DE CAUSAS O LUSO PRESSE na história da emigração feminina e da igualdade de género 1 - A história da metade feminina da emigração portuguesa está largamente por fazer. Vários fatores terão contribuído para o descaso no estudo da sua especificidade, por parte de investigadores, de políticos, de líderes das próprias comunidades do estrangeiro, sendo um deles a reconhecida predominância masculina, ao longo de séculos de incessante êxodo migratório. O Estado abria fronteiras à partida de homens sós, que abandonava à sua sorte. De facto, até meados do século XX, as únicas políticas, neste domínio, foram as medidas de controle dos fluxos de saída, no sentido de os favorecer ou restringir, conforme o interesse público conjuntural. Às mulheres era, com raras exceções, proibido abandonar o país, alegadamente, para sua própria proteção. Neste quadro global, a emigração clandestina constituiu, sempre, uma significativa parte do todo. E, no que respeita a mulheres, aumentou, enormemente, a partir do início do século passado, até atingir a quase paridade, no nosso tempo. Contudo, mesmo em movimentos recentes, ao menos na emigração menos qualificada e ainda maioritária, os homens, regra geral, partem primeiro, as mulheres, os filhos reúnem-se com eles, ao abrigo do direito ao reagrupamento familiar - o que reforça a imagem de uma dependência e subalternidade feminina, muito desfasada da realidade. De facto, nas novas sociedades, as mulheres acedem, quase sempre, ao mercado de trabalho, conquistam a sua autonomia económica, e contribuem, de forma decisiva, para o orçamento, o bem-estar e a integração do todo familiar. Em suma, sucesso do projeto migratório! Por outro lado, são, também, as grandes construtoras das comunidades portuguesas, em sentido orgânico, ou seja, enquanto espaço extraterritorial de vivência da língua e dos costumes. Um fenómeno de extra-territorialidade nascido da capacidade de entreajuda e da vontade coletiva de preservação da língua, e de formas próprias de convivialidade. Os portugueses uniram-se, espontaneamente, um pouco por todo o lado, num poderoso movimento associativo, com que se substituíram, setor a setor, do social ao cultural, à ausência do Governos nacionais, distantes e indiferentes. Assim criaram um universo coeso e solidário, que é pura sociedade civil. A Nação sem Estado! Porém, nessas admiráveis comunidades, ou pequenas “repúblicas”, de que é feito o Portugal no estrangeiro, as mulheres, apesar da crucial importância da sua presença e do seu trabalho, deparam, ainda hoje, com enormes obstáculos à participação igualitária, à ascensão ao dirigismo – obstáculos, em muito casos superiores aos que encontram na sociedade local. O tema da igualdade de género na emigração entrou, embora tardiamente, na agenda dos Governos nacionais, conscientes de que se impõe a conjugação de esforços com as instituições das próprias comunidades, para mobilizar as pessoas, individualmente, mulheres e homens, em particular as e os jovens. Num quadro em que a sociedade civil é a força dominante, como motivá-la para esse projeto humanista, regenerador e transformador do tecido comunitário? Uma das respostas mais inspiradoras tem sido dada, a partir de Montreal, pelo Luso Presse, que há mais de duas décadas, faz história, através de conferências, colóquios, debates, dando visibilidade à obra realizada por mulheres migrantes, em todos os domínios, a fim de abrir horizontes a muitas outras. A nosso ver, esta caminhada pela igualdade, singular e pioneira iniciativa de Norberto Aguiar, à frente do Luso Presse, merece reflexão, público reconhecimento e apoio, porque é "serviço público" e deve continuar até que seja transposta a última meta. O que nos propomos, na nossa intervenção, é dialogar sobre meios e alianças para prosseguir o projeto e atingir metas. Com o seu paradigma de “congressismo” pela igualdade, que antecedeu, em alguns anos, as primeiras políticas públicas neste domínio, e centrado em estratégia, semelhante, o Luso Presse fez História. Mas isso não basta: ainda é preciso fazer futuro, ser mais do que exemplo de escola, ser sempre exemplo vivo.

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