sábado, 15 de fevereiro de 2025

“A MULHER DO LUSOPRESSE”: 20 ANOS DE HISTÓRIA NA COMUNIDADE• Por Adelaide VILELA (Fotos de David BOULINEAU e Franco RODRIGUEZ) A “Festa da Mulher do LusoPresse”,realizada na Casa dos Açores do Quebeque, jáacumulou uns belos 20 anos de história e dereconhecimento. Norberto Aguiar conscientede que a mulher tarda em ocupar o lugar quelhe é devido, na sociedade, criou um evento dedicado a elas acreditando na dimensão e noprivilégio que este acontecimento inédito viriaa alcançar. A mulher merece ser homenageada,é ela quem dá luz ao mundo, e de sobremaneiraconsegue o que deseja vencendo com destrezae valentia quaisquer desafios.  Norberto Aguiar sabia, de antemão, que a figura da mulher foradesconsiderada e mesmo desacreditada duranteséculos. Os direitos de liberdade da mulher tardaram em entrar no ciclo da igualdade, e é preciso acrescentar que apesar das lutas e das conquistas, muitas são apenas máquinas de procriação e donas de casa. Há que deixar claro que ainda hoje a luta pela igualdade de gênero éconstante em diversas sociedades. Quantas não ganham o direito de se instruir, e sem a liberdade de escolha não podem trabalhar nem ocuparlugar algum ao lado dos homens. Temos consciência de que as nossas seis oradoras e todasas outras que o jornal LusoPresse reconheceu nestes últimos 20 anos, são mulheres livresque se definem com seriedade e vantagem, aotrilharem caminhos ao lado dos homens, focadas em determinados critérios que assentamem padrões eficientes e competitivos. Ao longo do tempo ganharam espaço e passaram aassumir, dentro do seu plano de crescimento,um lugar importante na sociedade sem nuncaabandonarem o seu núcleo familiar. Tambémo criador deste evento se deu conta de que a luta por elas desenvolvida fez com que a mulherdeixasse de ser notada como a simples dona decasa e passasse a ganhar protagonismo. Cada uma das nossas seis preletoras apostou na suaformação, e conseguiu afirmar-se, mostrandoser grande prestadora de serviços à sociedade,por isso desempenhou e desempenha cargosimportantes em política, na armada, em finanças, no ensino e em grandes empresas. E foram grandes mulheres as que criteriosamente o Lusopresse escolheu e homenageou durante duas décadas, e outras merecem ainda ser reconhecidas. Durante os tempos difíceis em que a Covid19 encerrou a população em casa, caíram porterra as oportunidades para celebração ao vivo.Assim, neste quadro específico, o tempo foipropício para celebrar o Dia da Mulher. Foram entregues os Prémios Corte-Real, e apresentouse a conclusão do estudo: O estado e o futurodos meios de comunicação étnicos portuguesesno Quebeque, levado a cabo pelos professores doutores Luís Aguiar, Farrah Bérubé, CarlosTeixeira (ausente) e Amilie Chalifoux, licenciada. A festa da “Mulher do LusoPresse” realizouse na Casa dos Açores do Quebeque, num tempo em que o tempo não diz nada por falta de interesse, mas conta-nos tudo, conta com 20 anos de história, de reencontros e de reconhecimento de grandes damas do nosso burgo. Estivemos com atenção às palavras das convidadas e cada uma das palestrantes nos surpreendeu pela positiva. Teresa Aguiar, a jovem Alferes daArmada Portuguesa, a residir em Lisboa, commestrado em Ciências Desportivas, aconselhouos jovens, principalmente as mulheres, a integrarem o serviço militar. Na sua opinião, nas fileiras militares fazem falta as mulheres e, tal como o devem entender, as mulheres de fardasão tratadas por igual e muito respeitadas. Teresa Aguiar assume o seu posto e posição ao lado dos homens e conta seguir a vida militar. Do exército damos o braço e o abraço aAnabela Monteiro, uma menina que conhecemos na Comunidade Portuguesa de Montreal:viva, esperta e inteligente! Nós afirmamos sempre que a Anabela é uma grande profissional,ágil e de espírito aberto, um dia ainda veremosocupar um cargo de relevo como mulher napolítica nesta sociedade canadiana. AnabelaMonteiro trabalha como assessora do deputadode Nelligan e líder da Oposição oficial na Assembleia Nacional, em Quebeque. Na sua alocução, no Dia da Mulher do LusoPresse, rendeutributo à mulher emigrante, e sobretudo aosseus pais. Anabela Monteiro confessa que aforma de vida que a sociedade proporciona àsfamílias não é muito diferente da época emque era menina. Sabemos que dos pais recebeuum cofre de possibilidades para que hoje sejauma grande mulher na vida e no amor. Outra mulher valiosa é a Paula Ferreira,presidente do Conselho de Administração daCasa dos Açores do Quebeque, cursou Recursos Humanos e saiu licenciada pela Universidade McGill. Como formadora ocupou oposto de diretora de Remuneração Executivae Recursos Humanos numa empresa de renome canadiana. Paula Ferreira é uma mulhercalma, possuidora de uma grande riqueza interior e melhor ainda: canaliza a energia positiva para o sítio certo, gosta de se entenderbem com todos e sabe organizar-se em tudoo que realiza. O amor pelos seus está patente,notou-se no sem número de fotos que pudemos ver enquanto nos dava a conhecer o quefoi a sua vida, como mulher emigrante, nestaprovíncia.Falamos agora da querida Jacinta Amâncio, outra mulher de grande valor que nuncaviveu por viver e nunca se viu vacilar. Chegoua Montreal, depois de Angola, formou-se emHistória e segundo nos contou, as Finançasfalaram mais alto. Logo, voltou aos bancosda escola e trouxe nova formação nesta área.Graças ao nível de qualidade demonstrada foidiretora da “Caixa Desjardins Portuguesa”.Assim sendo, com grande desempenho, favoreceu e defendeu os interesses dos portugueses. Jacinta foi simplesmente uma máquinade trabalho, uma mulher profissionalíssima ede uma gentileza como só ela sabe ser e estarna vida e no emprego. Alexandra Mendes foi a menina traquinaque nunca viu vagareza nos seus atos, pareceque nasceu numa manhã cheia de oportunidades. Deputada de Brossard-Saint-Lamberte Vice-Presidente do Parlamento do Canadá,foi outra das convidadas do “Dia Da Mulherdo LusoPresse”. É outra das mulheres dasquais nos orgulhamos. Ao ouvi-la discursarafirmando de que na política como em qualquer outro trabalho a mulher deve lutar paraque todos os desejos se concretizem e nuncaesperar que as coisas lhe venham ter às suasmãos, “A mulher é que as deve agarrar comvantagem e convicção”. Alexandra Mendesé, sim senhor, uma Grande Mulher! (Já recebeu, em outra ocasião, o Prémio Corte-RealLouvor) Tal como a jovem Alferes Teresa Aguiar,Manuela Aguiar veio de Portugal para participar no “Dia da Mulher do LusoPresse”. Anossa estimada Amiga regressou ao Canadácom a mesma alegria de sempre. É de salientarque ao dedicar-se ao povo emigrante comoSecretária de Estado da Emigração e das Comunidades Portuguesas iniciou o Conselho dasComunidades, que seguramente seria umamais-valia, para os emigrantes e lusodescendentes caso soubessem tirar proveito. Durante a sua alocução, Manuela Aguiar, muito alegre e descontraída, contou-nos histórias inéditas esensacionais das muitas das suas visitas à diáspora portuguesa. A ex-Secretária de Estado eex-Vice Presidente da Assembleia da RepúblicaPortuguesa manda um recado ao Norberto Aguiar: “A Festa do Dia da Mulher é para semanter, principalmente, porque é um eventoinédito e visa render tributo à mulher”. Manuela Aguiar está aposentada, mas continua irrequieta. Ela pertence ao Conselho de Curadoresda Fundação Luso-Brasileira, ao ConselhoMonárquico, ao Círculo de Culturas LusófonasMaria Archer. É membro de diversas ONG’se Administradora não Executiva da SAD doFutebol Clube do Porto. Manuela Aguiar trouxe meia dúzia de livros para Montreal, uma obra acabada de sair, com prefácio do digníssimo colaborador do jornal LusoPresse, DanielBastos, mas não aceitou fazer o lançamentodo livro, preferiu assistir à festa e oferecer oslivros. O livro intitula-se O CONSELHODAS COMUNIDADES PORTUGUESAS –Espaço de Utopia e Experimentação. Já lemosuma parte, é uma obra de relevo, representativa,e de maior interesse para as comunidades quegostem de história desenhada na memória.Para que possamos entender melhor a sociedade, Norberto Aguiar é preciso que sejapreservado o Dia da Mulher do LusoPresse.Lembramos-te a ti e a todos os que defendem a mulher que nem tudo foi conquistado,os direitos da mulher na questão salarial e outros aspetos, mesmo nas sociedades desenvolvidas, sobretudo no que respeita aos direitosde igualdade de género ainda não é conclusivo,sabemos que as falhas masculinas persistemséculos depois. No fim da sessão, as oradorastodas foram unânimes em afirmar que nenhuma mulher deve esperar que a sorte lhe venha ter às mãos, cada uma deve ter os seuspróprios recursos e não esperar por ninguém. VIVA A MULHER!

terça-feira, 11 de fevereiro de 2025

INFORME SOBRE AS ATIVIDADES DO CÍRCULO MARIA ARCHER (2021/2022 Janeiro/março 2022 HOMENAGEM A MARIA ARCHER NA CIDADE DO PORTO, NO 40º ANO DA SUA MORTE A 23 de janeiro de 2022 completaram-se quarenta anos sobre a morte de Maria Archer, uma efeméride que foi comemorada, no Porto, pelo Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer, de janeiro a março, com uma programação de atividades focada nas múltiplas facetas da sua obra, e na sua vida, repartida no espaço da lusofonia, num constante cirandar entre realidades culturais de que se tornaria intérprete e mensageira privilegiada. Os eventos presenciais - uma Exposição de pintura de homenagem a Maria Archer, comissariada por Ester de Sousa e Sá, e o Ciclo de Colóquios, organizados por Maria Manuela Aguiar - foram realizados no Gabinete da Biodiversidade - Centro de Ciência Viva, de 22 de janeiro a 31 de março, com a ativa colaboração de Maria João Fonseca e dos funcionários do seu departamento. Os colóquios, subordinados ao tema "Maria Archer, Eu e Elas - mulheres que irromperam no mundo dos homens", sucederam-se, com periodicidade, em regra, quinzenal, ao longo do tempo de abertura ao público da Exposição de Homenagem a Maria Archer, e constituíram oportunidade de reflexão e debate sobre percursos de vida de mulheres portuguesas que foram precursoras em diferentes áreas e se tornaram modelos femininos de interagir, criativamente, no espaço público. O Colóquio Internacional "MARIA ARCHER E OUTRAS MULHERES DE REFERÊNCIA E DE (IR)REVERÊNCIA, uma parceria entre o Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa e o Círculo Maria Archer, projetado de início, para a Galeria da Biodiversidade, decorreu exclusivamente "online", a 22 de fevereiro, e reuniu investigadores portugueses e estrangeiros dedicados ao estudo da obra de mulheres portuguesas que se destacaram no panorama das Letras e Artes e nos movimentos proto feministas e feministas, de finais do século XVIII aos nossos dias, com o seguinte programa: Mesa 1 | 10h30 -12h30 Moderação: Rosa Simas (Universidade dos Açores) • Maria Luísa Malato (FLUP - ILC), “Catarina de Lencastre e o tema da guerra no limiar do século XIX” •Cláudia Pazos- Alonso (Univ. Oxford - ILC), “Onde se lê ‘feminismo pioneiro’... leia-se Francisca Wood” • M Luiza Taborda (FLUP - ILC), “Ana Plácido e uma cela só para si” • Ana Costa Lopes (Univ. Católica-CEPCEP), “Elisa Curado: uma progressista em tempos de cólera” Mesa 2 | 14h30 - 16h00 Moderação: Maria de Lurdes Sampaio • Ana Paula Ferreira (Univ. Minnesota) - “Discurso imperialista e posicionamento anti-colonial: Maria Archer (1935-1963)”. • Ana Paula Coutinho (FLUP - ILC), “Maria Archer: deslocação e (in) conveniência” • Elisabeth Battista (UNAMAT) Da dominação à resistência: percurso de Maria Archer Mesa 3 | 16h30 - 18h00 Moderação: Cláudia Pazos-Alonso • Isabel Pires de Lima (FLUP - ILC), “Mulheres na Revolução: das Três Marias a Agustina” .• Márcia Oliveira (Univ. Minho/CEHUM), “Womanart: Mulheres, Artes, Ditadura” • Deolinda Adão (Univ. Berkeley), “A audácia de escrever: uma abordagem da produção literária feminina” Comissão Organizadora: Maria Manuela Aguiar, Nassalete Miranda (CMA), Marinela de Freitas e Lurdes Gonçalves (ILC) EXPOSIÇÃO DE PINTURA DE HOMENAGEM A MARIA ARCHER CICLO DE COLÒQUIOS "MULHERES QUE IRROMPERAM NO MUNDO DOS HOMENS" Sessão de Abertura, sábado, dia 22 de janeiro 1º Colóquio - 16.00 - 17.00 Moderação: Nassalete Miranda (CMA) Conferencista Deolinda Adão (Universidade da Califórnia, Berkeley): “Sussurros de vozes no silêncio – o caso de Maria Archer” Exposição de Pintura, 17.00-18.00 Apresentação: Ester de Sousa e Sá Artistas plásticos: Aquilino, Balbina Mendes, Cláudia Costa, Constância Néry, Do Carmo Vieira, Elizabeth Leite, Ester de Sousa e Sá, Gabriela Carrascalão, Mafalda Rocha, Maria André, Norberto de Abreu, Sílvia Vale. Todos os pintores foram convidados a falar da sua relação com Maria Archer, tal como a expressam nas telas. 2º Colóquio - 2 de fevereiro, 16.00.17.30 Apresentação Mafalda Roriz Graça Guedes - Presidente da Associação "Mulher Migrante", a primeira mulher a fazer o doutoramento em Ciências do Desporto e a tornar-se professora catedrática nesse domínio, em Portugal, depois de ter sido campeã nacional e jogadora da Seleção Portuguesa de Voleibol. A apresentação foi feita por Mafalda Roriz, uma das jovens que orientou num domínio outrora coutada masculina. 3º Colóquio, 16 de fevereiro 16.00.17.30 Comunicação de Nassalete Miranda sobre "Agustina na terceira pessoa" Agustina Bessa Luís na sua veste de primeira Diretora de um grande jornal nacional, o Primeiro de Janeiro, nas palavras de Nassalete Miranda, que seria, por uma década, sua sucessora nesse cargo, e é, atualmente, Diretora do Jornal "As Artes entre as Letras". 4º Colóquio, 9 de março, 17.00-18.30 Por altura do "Dia Internacional da Mulher", em parceria com a Associação de Antigos Alunos do Liceu Rainha Santa Isabel, uma homenagem às primeiras mulheres eleitas democraticamente para o Parlamento, em 1975, na pessoa de Amélia de Azevedo, Deputada Constituinte: "Amélia Cavaleiro de Azevedo, uma democrata antes e depois de Abril". Intervenções de Maximina Girão e Nassalete Miranda. Testemunhos de Aurora Pereira, Levi Guerra, Rui Amaral e Amândio de Azevedo. A finalizar, José Carlos de Azevedo declamou um poema de Sophia, que, tal como Amélia de Azevedo, foi Deputada Constituinte pelo Círculo do Porto. 5º Colóquio, 16 de março, 16.00.17.00 Numa comunicação com o título "Maria Archer e Maria Lamas, o percurso de duas mulheres lutadoras" ,Ilda Figueiredo, Presidente da Direção do Conselho Português para a Paz, recordou as duas ilustres contemporâneas, na constante defesa da liberdade e da igualdade, que as levou ao exílio, destacando Maria Lamas como a primeira jornalista profissional no seu país. 6º Colóquio, 16 de março, 17.15.18.30 "Tributo a Ruth Escobar, a portuense que ajudou a mudar o Brasil" Sobre Ruth Escobar, atriz, produtora, diretora artística, grande renovadora do teatro no Brasil, e primeira mulher eleita deputada a uma Assembleia Legislativa Estadual (no Estado de São Paulo), falaram um homem do teatro, José Caldas, um crítico de cinema, Danyel Guerra e a primeira mulher Vice-Presidente da Assembleia da República, Maria Manuela Aguiar.. Sessão de Encerramento, 31 de março, 17.00 - 18.30 No último colóquio, foram oradoras Isabel Henriques de Jesus (CICS. Nova /Faces de Eva) "De olhos bem abertos - Nótulas sobre Maria Archer, Eu e Elas", e Olga Archer (sobrinha neta de Maria Archer) "Recordar Maria Archer". Uma mensagem de Blanche de Bonneval (antiga perita das Nações Unidas, PNUD), de quem a homenageada foi precetora e amiga, terminou os trabalhos, numa nota muito afetiva. Seguiu-se um último convívio com artistas participantes na Exposição, no luminoso espaço arquitetónico, que foi casa de infância de Sophia de Mello Breyner e é hoje o Museu de Ciências Naturais, onde a Universidade do Porto acolheu as comemorações em memória de Maria Archer. 2021 1 - Ciclo de colóquios "Do Vaivém de gente ficam as histórias" CICLO DE COLÓQUIOS MIGRAÇÕES - DO VAIVÉM DE VIDAS FICARAM HISTÓRIAS" O "Círculo Maria Archer", em parceria com a "Mulher Migrante - Associação de Estudo, Cooperação e Solidariedade" (AMM), promove um ciclo de três colóquios sobre a temática das migrações portuguesas, vistas através da Literatura. É um convite à leitura coletiva da obra ímpar de Júlia Nery e à reflexão sobre questões que foram, igualmente, centrais no percurso e na escrita de Maria Archer, na sua visão do mundo lusófono e do espaço que as mulheres nele ocupam, ou devem e podem ocupar. No ciclo de colóquios, por zoom, sobre os livros “Ei-los que partem”, “Pouca terra… pouca terra” e “Da Índia, com Amor”, se começa por abordar a problemática da chamada "nova emigração" - a partida de jovens profissionais altamente qualificados, a perda de "talentos" - , para lançar, seguidamente, um olhar retrospetivo sobre a emigração tradicional - que, ao longo de séculos, despovoou o mundo rural, no continente e nas ilhas do Atlântico - e sobre o fenómeno da Expansão, determinante do êxodo sem fim, que deu origem às comunidades de cultura portuguesa e à “Diáspora". Todas as sessões contam com a participação da Autora JÚLIA NÉRY e constituem, assim, momentos privilegiados de diálogo com ela. Programa dos Colóquios Sábado, 24 de abril, 17.00 -18.00 “EI-LOS QUE PARTEM” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Maria Manuela Aguiar Sábado, 22 de maio, às 17.00-18.00 “POUCA TERRA...POUCA TERRA” Apresentação de José Manuel da Costa Esteves, seguida de debate moderado por Graça Guedes Moderadora: Graça Sousa Guedes Sábado, 12 de junho, às 17.00 - 18.00 “DA ÍNDIA COM AMOR” Apresentação de Aida Baptista, seguida de debate moderado por Ivone Ferreira Com esta iniciativa, o "Círculo Maria Archer", coordenado por Maria Manuela Aguiar, se associa às comemorações do 25º aniversário de vida ativa da AMM, presidida por Graça Guedes, e presta homenagem à sua fundadora, Rita Gomes 2 -CICLO DE COLÓQUIOS !"ERA UMA VEZ..." O Círculo de Culturas Lusófonas Maria Archer organizou online um ciclo de colóquios sobre o conto infantil, enquadrado na temática "Literatura e Migrações", em que procurou divulgar obras de autores da Lusofonia, de dentro e de fora de Portugal. Assim homenageou Maria Archer, na sua faceta de grande contadora de histórias (como sabemos pelo testemunha de sobrinhos e primos), e através de uma ou outra incursão no campo da literatura infantil e juvenil - como tantos outros escritores e jornalistas, em que se incluem Ana de Castro Osório, Natália Correia, Sophia de Mello Breyner, Érico Veríssimo, Luís Sepúlveda, Rosa Montero ou Vargas Llosa. Programa dos Colóquios sábado, 17 de julho, 17.00-18.00 O REI DA FLORESTA de Adela Figueiroa Panisse Moderadora Ester de Sousa e Sá Adela Panisse, nascida no Lugo, professora universitária, escritora e poetisa, apresentou uma das suas muitas publicações dedicadas aos netos. Uma história contada - e cantada - com talento e espontaneidade, que animou os participantes a fazerem perguntas e comentários, num animado debate 2ª-feira, 25 de julho, 17.00-18.00 A PRIMEIRA VEZ QUE VI NEVE de Manuela Marujo Moderadora Aida Baptista No Dia Internacional dos Avós, a autora falou do seu livro, como sendo um retorno ao mundo das crianças inspirado na sua infância. Manuela Marujo é professora emérita da Universidade de Toronto, onde dirigiu o Departamento de Espanhol e Português, e uma figura marcante na comunidade portuguesa de Toronto e no universo da nossa Diáspora, co- fundadora dos movimentos internacionais designados por "A vez e a voz das Mulheres" e "A voz dos Avós". Com ela pudemos abordar o significado da sua narrativa, a motivação que a levou a escrevê-la, e, também, a sua visão e experiência de diálogo intergeracional num contexto migratório. 6ª feira, 24 de setembro VIAGEM À RODA DE ÁFRICA de Maria Archer Apresentação Maria Manuela Aguiar Maria Archer esteve no centro do debate, com uma obra do seu início de percurso literário, na meia década de trinta. O que levou uma escritora e jornalista já famosa pela qualidade da sua prosa, realismo das suas personagens, pendor para o observação etnográfica e ousadia na defesa de causas fracturantes, a empreender uma digressão no universo encantatório das Letras para crianças? Partindo da leitura do que chamou um "romance de aventuras infantis" e dos motivos que a levaram a concebê-lo, escritores dos nossos dias relataram as suas próprias experiências nesse campo. 3º-feira, 16 de novembro, 17.00 -18.00 BELMIRO, O RATO DA BIBLIOTECA, de José Vaz Moderadora Ester de Sousa e Sá Neste e no colóquio seguinte, dois dos autores de publicações para os mais pequenos, que têm sido participantes assíduos nas iniciativas do CMA , aceitaram o desafio de fazerem a apresentação recíproca das suas obras. José Vaz, historiador, contista e autor de numerosos livros infantis incluídos no Plano Nacional de Leitura, deu-nos a conhecer o seu inteligente, curioso e muito humano rato Belmiro. com comentários de Ester de Sá e de muitos animadores de um longo debate. 6ª-feira, 3 de dezembro, 17.00-18.00 O GANSO PATOLA DO CABO AFRICANO de Ester de Sousa e Sá Apresentação de José Vaz Ester de Sousa e Sá, trouxe a debate a sua trilogia bilíngue juvenil (português/inglês) sobre um ganso patola africano em demanda de outras paragens. Esta fábula, saída da pena de uma emigrante em três países do sul de África, que foi apreciada pelo seu interesse literário, e, também didático, deu azo a um vivo debate sobre situações reais das nossas migrações 3 - Ciclo de colóquios "AS LETRAS NA DIÁSPORA" Portugal é uma nação extra-territorial, que se expandiu, com a partida de milhões de homens e mulheres, em novos espaços culturais lusófonos. Vamos ao encontro dos escritores da Diáspora, ou da sua memória viva.
MULHERES ENTRE MUNDOS 1 – Mulheres entre mundos é o título de uma coleção de narrativas de vida e fotobiografias que será lançada na Biblioteca Municipal José Marmelo e Silva na tarde do próximo dia 1 de fevereiro. Uma iniciativa da Associação Mulher Migrante (AMM), que, desde 2023, tem a sua sede em Espinho, e já antes, aqui fizera parte importante do seu trajeto, a começar por um primeiro encontro mundial de emigrantes portuguesas, em 1995. Por sinal, o maior que até hoje se realizou no país – e já lá vão, exatamente, trinta anos. Há alguns meses, eu própria levei esse projeto editorial a debate na Assembleia-Geral da AMM, onde foi, sem surpresa, aprovado por consenso. Na verdade, a ideia nem era particularmente original na agenda da associação, que há anos se ocupa na compilação de histórias de vidas no feminino, e tem, nesse campo, um considerável registo bibliográfico. Contudo, na maioria dos casos, não foi muito além da recolha e divulgação de pequenas sínteses biográficas, e por isso, reconfigurar o programa, através de uma coleção, representa um salto qualitativo, com a publicação de livros individuais, testemunhos muito mais completos de feitos e vivências de mulheres na sociedade portuguesa, na sua transição do espaço privado para o público, dentro e fora de fronteiras, . Como sabemos, ao longo do século XX, muitas mulheres foram, gradualmente, saindo do estreito círculo familiar, onde a ideologia da ditadura e o atraso de mentalidades e costumes tradicionalmente as confinavam, para competir, de igual para igual (embora geralmente ainda sem armas iguais…), no plano cultural, profissional, cívico e político... Todas elas têm coisas importantes e mobilizadoras para contar (todas, sem exceção), e é preciso que o façam. Todavia, à partida, falar de si, destacando percursos, decisões, obstáculos vencidos para a realização pessoal, no círculo da família e no exterior, não é coisa fácil, em especial para as mulheres que se sentem herdeiras de uma tradição de silenciamento e recato (como diz o tão misógino ditado popular “onde canta galo não canta galinha” …). Além disso, publicar um livro pode a muitas parecer uma meta inatingível.... Com a Coleção, o que se pretende é facilitar, muito pragmaticamente, essa tarefa. Antes de mais, sugerindo o recurso a imagens (que, segundo a sabedoria popular, valem por mil palavras…). Ou seja, optar por uma fotobiografia, em vez de uma mais custosa narração escrita. Podem, assim, começar como quem organiza um álbum de retratos, legendando as imagens, desfiando memórias, ligando ocorrências, em comentários mais ou menos extensos. Depois, a AMM oferece-lhes a inclusão numa linha editorial, com uma bela e expressiva capa concebida pelo Dr. Tiago Castro. Às autoras cabe a livre escolha da gráfica que executará o trabalho – a associação não se dedica a esse tipo de mediação, não procura oportunidades negócio ou de lucro, não cobra qualquer comissão. Assegura, sim, informações, e, através do seu Conselho Editorial, o acompanhamento do processo de elaboração do livro, e da sua divulgação, com o objetivo de revelar vidas significantes de mulheres, com especial enfoque nas que cruzaram fronteiras, tanto geográficas como culturais. Neste campo, nunca serão demais as iniciativas, que, hoje em dia, se estão, felizmente, a multiplicar, em estudos académicos e em projetos editoriais, sinal do crescente interesse por uma literatura de natureza intimista, biográfica ou autobiográfica. 2 –A meu ver, esta é, certamente, uma as formas de combater a mais persistente das discriminações de género, a que podemos chamar "discriminação por invisibilidade", (em alguns casos, não só pela espontânea secundarização de um dos sexos, mas por deliberado apagamento da história individual). O estatuto das mulheres, ao menos nas ditas "democracias ocidentais", tem inegavelmente progredido, ao abrigo de Constituições e de leis baseadas no princípio da igualdade - na família, no trabalho, na política, na sociedade - com uma maior autonomia e influência, sem que, contudo, o peso do seu efetivo contributo seja plenamente reconhecido, em todo e qualquer domínio.. Foi sempre assim, e hoje é apenas um pouco menos assim... Lembramos as romancistas ou as compositoras musicais, cujas obras foram assinadas por maridos ou irmãos, ou posteriormente “esquecidas” (o caso de Maria Archer, escritora “deliberadamente apagada da história”, segundo Maria Teresa Horta, não é caso único…), as cientistas, cujas descobertas foram atribuídas a colegas (alguns dos quais, na vez delas, até arrecadaram prémios Nobel...), as pioneiras do cinema (como realizadoras, produtoras, guionistas, técnicas, inventoras)…Um rol infinito de mulheres que se viram despojadas da autoria da sua obra, em praticamente todos os tempos e lugares… uma propositada e sistemática intenção de ocultação do feminino? Um dos exemplos mais escandalosos é o da cineasta Alice Guy Laché, que "inventou" a ficção no cinema (antes, meramente "documental"), o "cronofone", para a sincronização do som (na Gaumont), efeitos especiais e colorização, para além de dirigir e produzir mais de um milhar de filmes. Algumas décadas depois, ainda no seu tempo de vida, no século passado, viu-se riscada dos registos da Gaumont e, em larga medida, da história do cinema. É particularmente oportuno destacar a sua reação, porque foi precisamente através de uma autobiografia, que Alice Guy procurou recuperar o seu fantástico património de realizações, a autoria de muitos dos seus filmes, que andava imputada a nomes masculinos. Mulheres mais ou menos famosas, partilham, afinal, as agruras da misoginia: não só desigualdade de oportunidades (o aspeto que é mais referido) mas, também, a desigualdade de reconhecimento no presente (por exemplo, mediante a subvalorização das profissões e tarefas predominantemente femininas...), e o risco do esquecimento no futuro, na história que se vai reescrevendo…. O projeto editorial "Mulheres entre Mundos" tem o propósito de combater semelhantes assimetrias, ao dar a palavra e ao pôr o foco o género sub-representado no espaço público e na memória coletiva. Existe para servir a causa da igualdade, está aberto a todas as mulheres - qualquer que seja a sua formação, curriculum, ou atividade e sejam ou não associadas da AMM – para nos dizerem, conjugando livremente a escrita e a imagem, como chegaram aonde chegaram. É uma aposta não tanto no valor literário do relato, como no inerente interesse humano de todas as aventuras de vida, e na esperança de que cada nova edição possa motivar mais e mais mulheres a saírem do anonimato, a revelarem a diversidade a valia do seu aporte à sociedade. 3 - A coleção é inaugurada com a fotobiografia de Graça Guedes (“Histórias da minha vida”), e, a meu ver, como já em várias ocasiões salientei, não poderia começar melhor. Por múltiplas razões, uma das quais é a de nos levar à intimidade de alguém que se notabilizou, primeiramente, no desporto – área em que, não só entre nós, como um pouco por todo o lado, se tem mostrado mais difícil alcançar a igualdade dos sexos, quer no dirigismo, quer no que respeita ao estatuto das desportistas. A autora possui, neste domínio, um currículo de impressionante pioneirismo no plano académico - foi a primeira mulher doutorada em ciências do desporto e professora catedrática em Portugal, depois de ter sido, como atleta e como treinadora, campeã nacional de voleibol. E, ainda por cima, é uma mulher de Espinho. Espinho, em matéria de recente participação cívica e política das mulheres, não deixa de nos surpreender. Na política está, como é sabido, muito acima da média nacional, (com paridade no Executivo, e a presidência feminina da Câmara e da Assembleia). O que talvez não seja tão notório é a importância da presença feminina a nível institucional, no voluntariado, no associativismo, no que se costuma designar por “forças vivas” da comunidade. Há atualmente, no concelho, 22 mulheres a presidir à direção de associações de todo o tipo, sobretudo nas áreas da solidariedade e da cultura, e, também, da proteção dos animais (uma das minhas causas afetivas...). Confesso que, ao partir para um primeiro levantamento, por pura curiosidade, não esperava tanto. Mais uma alínea para a longa lista das percepções desfasadas da realidade, a reforçar a evidência da menor notoriedade das mulheres nos cargos que exercem! Essas verdadeiras “mulheres entre mundos” são ainda pouco visíveis no mundo novo onde já singram...

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

PERCEPÇÕES

PERCEPÇÕES 1 - Nestes últimos dias do ano fala-se muito de guerras (a da Ucrânia, a de Gaza, que alastrou ao Líbano e, agora, a da Síria, todas de desfecho incerto - e que pena não podermos falar de paz neste Natal...), do novo aeroporto de Lisboa (que absurdo, fazer em Lisboa o maior investimento de sempre, como se, para o Estado, não houvesse o resto do país), das eleições presidenciais (um civil ou um militar?), das eleições na Madeira (que parecem ter entrado no calendário vulgar do Prof. Marcelo, cuja tarefa preferida é dissolver, dissolver – juntamente com as “selfies”, provavelmente, o que ficará para a história dos seus dois mandatos), de futebol (SCP E SLB dominando todos os programas semanais de rádio e TV– do FCP só ”faits divers” como a notícia da descida aos túneis do presidente AVB e da sua linguagem vicentina…) e de “perceções” (sobretudo, a propósito dos “sentimentos nacionais” de insegurança, ligando-os à realidade mal conhecida, ou propositadamente deturpada, da imigração. Estava eu hesitante em escolher, entre tantos temas da semana, um para tratar em mais detalhe, quando vi, nos noticiários do dia, em todas as estações, as reportagens sobre “a rusga de Martim Moniz” e "senti" que tinha de escrever sobre a sensação de horror (e de insegurança!) em mim provocada por aquelas imagens - uma fila infindável de pacatos indivíduos, com as mãos encostadas às paredes, a serem revistados por forças policiais. Há meio século, quando fervilhavam as pequenas querelas partidárias, em tempo de construção de um país livre, o muito jovem jornalista Marcelo entretinha-se a criar “factos políticos”, saídos da sua cabeça para as páginas do “Expresso” (e nós, às vezes, até achávamos graça). Agora é um Governo da República, que parece agir ao serviço de preconceitos e de “factos imaginados”, o que não tem graça nenhuma e pode desencadear sérias consequências para a perceção interna e externa da qualidade da nossa democracia, para além do susto e do vexame infligido a tantos cidadãos inocentes. Sim, inocentes! Na verdade, a gigantesca operação de 19 de dezembro de 2024, ao que vi e ouvi, saldou-se em dois detidos (um já a contas com a Justiça e outro por posse de droga - ambos portugueses) e pela apreensão de uma pequena quantidade de material de contrafação. A montanha pariu um rato… podemos até concluir que, de uma forma ínvia e cruel, a operação acabou por provar ser Lisboa, até nas zonas de duvidosa reputação, uma cidade mais segura do que aparenta. Já tenho assistido a rusgas policiais na feira semanal de Espinho, no ocasional combate à contrafação – talvez com mais apreensões de artigos à venda - felizmente, até ver, sem semelhante espalhafato. Dizer que esse alarde de prepotência nos transmite uma “sensação de tranquilidade”, é, simplesmente, incrível…a fazer recordar tempos de pandemia, quando nos vedaram o acesso à praia e aos bancos de jardim e erguerem barreiras policiais para impedir a circulação de carros entre concelhos vizinhos. Eu, na altura, desempenhava um cargo que me dava liberdade de trânsito até ao Porto, ao estádio do Dragão, e via-me fiscalizada, pelo menos, três vezes, antes de chegar ao destino, para assistir a jogos sem público. Nunca tais medidas obviamente excessivas me deram uma sensação de “tranquilidade” - só de insensatez, de desnorte, de incompetência. 2 – Confesso que me preocupa muito a “deriva securitária” (pomposa, embora realista formulação!), deste Governo, que, nos seus primeiros meses, mostrou uma face bem mais benigna e promissora, cultivando cuidadosamente o distanciamento face ao partido de Ventura. Mas eis que, num ápice, se aproxima do "inimigo" não só neste campo de fiscalização intrusiva das populações, como na denegação de acesso ao SNS de todos os imigrantes ainda não legalizados, nos termos de uma iniciativa do "Chega" (que estranho presente natalício...). A campanha começou, como sabemos, na denúncia do aproveitamento da abertura dos nossos serviços de saúde por turistas, que ao país se deslocavam apenas para beneficiarem de tratamentos dispendiosos ou para aqui terem os filhos nas nossas atrativas maternidades. Até aqui, tudo bem, ninguém discordará da urgência de pôr fim a tais abusos. Porém, estender o mesmo regime limitativo aos estrangeiros que vivem e trabalham no país entra no domínio da injustiça e da desumanidade e pode, em certos casos, constituir uma ameaça à saúde pública de estrangeiros legalizados e de portugueses, por igual (como é óbvio, pela via da propagação de doenças, não atempadamente diagnosticads e tratadas). . Não se julgue que estas posições estão na tradição do PSD e dos seus governos. Não estão! E já nem penso nos tempos de Sá Carneiro ou de Mota Pinto, verdadeiros sociais-democratas, mas, por exemplo, na década de Cavaco Silva, que também ainda mostrava preocupações sociais com os desfavorecidos. Disso posso dar testemunho, justamente no que respeita á imigração indocumentada. Embora o meu espaço de intervenção cívica e política tenha sido, fundamentalmente, o da emigração portuguesa, também me envolvi em ações de solidariedade com imigrantes, em movimentos para a sua legalização (brasileiros, guineenses, nos anos noventa, ucranianos no começo do século...). Quando do processo de realojamento de populações das barracas de Lisboa - um dos que marcaram aquela década positivamente - falei com o Primeiro Ministro Cavaco Silva, perguntando-lhe se os imigrantes clandestinos eram abrangidos na solução e ele respondeu que sim, e acrescentou que isso se devia à sua própria decisão! Nessa altura, note-se, a regulamentação interditava a atribuição de habitações sociais a estrangeiros e ele abriu uma exceção inteligente (que sucesso teria o programa de erradicação de barracas, se deixasse tanta gente de fora?). O mesmo, "in illo tempore", aconteceu, e por maioria de razão, em matéria de abrangência nos cuidados de saúde. Ouvir agora um deputado do PSD, prestigiado médico portuense, a defender, do alto da tribuna, na Assembleia da República, a exclusão de trabalhadores estrangeiros, em situação irregular (não meros turistas), do acesso a serviços gratuitos de saúde, é coisa de estarrecer! 3 - Tudo é sacrificado ao altar das perceções, do imaginário popular... Ora os Governos não podem ficar cativos de erróneas perceções. Têm, sim, a obrigação de as desconstruir pela revelação de factos e números autênticos e de adequar à realidade as políticas públicas. Não se pode confundir a situação de "turistas da saúde" com a de imigrantes (ditos) clandestinos ou ilegais, que, em tantos casos, são não só usados como explorados no nosso país. Não se pode alegar que abusam do SNS estrangeiros que são contribuintes líquidos do sistema, porque efetivamente pagam muito mais do que recebem, como os relatórios comprovam. Não se pode, num dos países mais seguros do mundo, lançar campanhas contraproducentes contra a insegurança. E, sobretudo, não se pode apontar o dedo acusatório aos imigrantes, no capítulo penal, quando, de facto, as suas taxas de criminalidade são inferiores às dos nacionais. Isso é a regra por todo o lado e quaisquer que sejam as nacionalidades. Os imigrantes de primeira geração vêm para trabalhar, honesta e duramente. Falo por experiência de vida. Quando comecei as visitas às nossas comunidades recentes, por exemplo, em França, havia cerca de um milhão de portugueses e praticamente nenhum na cadeia. Na geração seguinte, a percentagem de detidos já era próxima da média nacional francesa... Os problemas não surgem com os pais, mas com os filhos, quando lhes não dão condições de integração, de igualdade, de pertença. Os bairros de maioria imigrante precisam muito mais de boas escolas, de bons professores, de associativismo solidário do que de polícia. Depois de ter andado no terreno, no meio das pessoas, esta é a minha perceção. Vamos ser realistas e justos. Chega de "Chega"... Para todos, estrangeiros e nacionais, um Bom Natal! in Defesa de Espinho. dezembro 2024

quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

MÁRIO SOARES, SEMPRE! Conheci a Dr.ª Maria Barroso e o Dr. Soares em receções de Embaixadas, quando pertencia ao Governo Mota Pinto, em 1978. Com a Dr.ª Maria de Jesus entendimento perfeito, desde a primeira hora! Já com o Dr. Soares não foi bem assim. Os tempos eram de proselitismo partidário e eu, PPD não filiada, estava em campo oposto, mas a atração por uma personalidade tão calorosa e interessante, contribuiu, decisivamente, para o princípio do fim do meu faciosismo político. Em todo o caso, distinguia entre “gostar de Mário Soares” (sim, imenso), e “gostar politicamente de Mário Soares” (não tanto). As minhas memórias de diálogos com ele são inúmeras e, na sua maioria, muito divertidas! Viajar com ele era uma festa, desde o momento em que se entrava no avião. A conversa fluía, animadamente, resvalava para uma vozearia excessiva. Uma vez, até mandei calar toda a gente, ao ver, na primeira fila, o Presidente já a descansar, depois de ter dado a volta completa à aeronave, cumprimentando toda a comitiva. Calámo-nos, por precaução, mas ele, imune ao ruído, dormia bem em qualquer ambiente. Só a viagem à URSS (Rússia, Arménia e Azerbaijão), em tempo de “perestroika”, dava um livro inteiro, com personagens como a família Sahkarov, Gorbatchev, o chique russo da vedeta Raisa e as tentativas do Dr. Soares de sair dos rígidos roteiros soviéticos, a fim de ver as pessoas, no seu quotidiano normal. Vou cingir-me a episódios que envolveram os Deputados da comitiva – um de cada partido, contrariando o critério proporcional, por uma boa razão: o Presidente queria dar lições de convivência e pluralismo partidário, e manifestar o seu apreço pela instituição parlamentar. Apreço sem paralelo no mundo soviético, e, por isso, o protocolo atribuía vistosos carros pretos a toda a gente, diplomatas, empresários, jornalistas, e desterrava para o fim do longo cortejo, o numeroso coletivo de parlamentares, compactados numa velha furgoneta. Nos atos cerimoniais, deposição de coroas de flores em monumentos, receções, discursatas, o Presidente exigia que os parlamentares estivessem à sua volta. E nós éramos os últimos a chegar, depois de uma correria, já com o Dr. Soares a acenar-nos, de longe, impacientemente... sem a nossa presença o evento não começava! E nós não explicávamos o porquê do atraso, para lhe poupar irritações. Aconteceu o mesmo nas três Repúblicas: só ao segundo dia, depois de veementes protestos, conseguimos carros pretos e a nossa precedência protocolar no cortejo. O último incidente protocolar aconteceu em Kiev, onde o avião oficial fez escala, para um encontro de Presidentes, o nosso e o da Ucrânia, seguido de um grande banquete. Tudo no aeroporto. A comitiva teve de ser dividida em dois salões VIP, um para as altas individualidade, outro para as de segunda linha. Ora, nesta categoria decaíram dois Deputados... Sempre atento às pessoas, o Dr. Soares apercebeu-se da sua ausência e quando a tentaram justificar, exasperado, exigiu que os chamassem, de imediato, para a sua mesa. Levantaram-se, prontamente, vários funcionários. Foi tremenda a confusão, as movimentações nervosas, até se acertar a troca, com os Representantes da Nação a ocuparem os devidos assentos. Uma última aula de democracia dada pelo nosso Presidente! Por mais incrível que pareça, cena idêntica sucederia no próprio Palácio de Belém, durante a audiência presidencial a uma Delegação da China. Eu estava, como Vice-presidente da Assembleia, incumbida de acompanhar as suas visitas ao PR e ao PM (Cavaco Silva). À entrada, do Palácio, o Protocolo veio dizer-nos que a sala de receção não comportava as duas largas comitivas, chinesa e portuguesa, sugerindo que alguns dos nossos esperassem lá fora. Os colegas concordaram que só eu estivesse na audiência, como já acontecera, em São Bento, sem objeção do Prof. Cavaco, mais preocupado em falar de uma sua recente visita à China, elogiosamente, em tom formal, como é seu timbre. Não foi assim em Belém. Mal nos tínhamos sentado, e já Presidente me perguntava: “Está sozinha com esta Delegação? Porque é que não vieram mais Deputados?" Ao ouvir as minhas explicações, bradou: "Os Deputados lá fora? Nem pensar! Eu sou um parlamentarista! Quero-os todos aqui connosco”. Foi um reboliço maior do que o de Kiev... Funcionários trazendo poltronas, o próprio Presidente dando instruções, arrastando cadeiras…. Eu só pensava: “Os chineses nunca viram coisa igual. O que acharão de tudo isto?" Na sala cheia, a conversa decorreu, descontraidamente, em modo de tertúlia. Á saída, esperava-nos uma multidão de jornalista, câmaras de televisão, microfones. Para meu espanto, o líder chinês falou, falou, empolgado, a felicitar o povo português por ter como presidente uma tão extraordinária personalidade, numa girândola de elogios, que terminou assim: "é um grande humanista"! Depois, os jornalistas quiseram saber impressões sobre o encontro com o Primeiro-ministro. A resposta foi pronta e lacónica. "Também correu bem". É pouco, lembrar o Presidente Soares nestas poucas nótulas de viagens e encontros. Porém, penso que, só por si, falam do Homem que amava liberdade, a democracia, a vida, as pessoas! A 7 de dezembro de 2024 celebramos o seu centenário, ou seja, seu lugar num século da História de Portugal, na resistência à ditadura de cinquenta anos, e na construção da democracia, nos outros cinquenta. É o tempo de reconhecer quanto “gostamos politicamente do Dr. Soares”. Afinal, o mesmo é dizer “25 de Abril, sempre!” ou “Mário Soares, sempre! “. Maria Manuela Aguiar in "AS ARTES ENTRE AS LETRAS"

sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O HOMEM DO SÉCULO

O Centenário do Homem do Século A 7 de dezembro próximo têm início as comemorações do centenário de Mário Soares. Será a hora de olharmos um século da nossa História, através da História do "Homem do século" - o Político que teve papel principal durante uma Ditadura de quase meio século e, depois, na Democracia, nascida da Revolução cujo cinquentenário celebramos, ao longo de 2024. Uma feliz confluência de efemérides! Tempo de falarmos de Mário Soares, o Homem e o Político – assim, com letra grande. Grandeza de obra e mundividência, com que contribuiu, de uma forma tão decisiva, para a construção da democracia portuguesa. De facto, nenhum dos seus contemporâneos teve, igual longevidade e influência na política portuguesa ou igual prestígio, a nível internacional - Sá Carneiro, porque tão cedo o perdemos, Ramalho Eanes e outros co fundadores da Democracia atual, porque não puderam deixar marca semelhante naqueles dois regimes (1926/1974 e 1974/2024). Grandeza é, assim, uma qualidade que ninguém lhe poderá negar, nem sequer os menos simpatizantes. Nesta questão de afetos, ainda temos de distinguir entre “gostar de Mário Soares" e "gostar politicamente de Mário Soares”, mas, à medida que o tempo passa, a distinção vai-se esbatendo, com o depurar de pequenas querelas partidárias e a valorização do essencial. Atravessei as três fases, por mim falo! Nos primórdios da Revolução, “não gostava de Soares”, muito embora, durante o PREC, tivesse feito quilómetros, através das ruas de Lisboa, em marchas pela Liberdade, que ele corajosamente encabeçava. A partir do momento em que o conheci pessoalmente, em 1978 (era membro do Governo de Mota Pinto e já lá vão 46 anos!), passei a “gostar de Soares”, mantendo o distanciamento político, que entre sociais democratas nunca é abissal, (e eu sou social-democrata “à sueca”, como Sá Carneiro sempre se afirmou). Depois, na era dos seus mandatos presidenciais, comecei a “gostar politicamente de Soares", e cada vez mais. 2 – Não é, porém, sobre o seu legado político que vou escrever, mas sobre a individualidade, com quem tive, como referi, a sorte de conviver. Privilégio que não está ao alcance dos mais novos, a quem posso dizer que era sempre fantástico dialogar com o Dr. Soares, incomparável contador de histórias, versátil, culto, espirituoso! Tínhamos a consciência de estar face a face com uma personalidade que já entrara na História e, contudo, ao sentimento de reverência sobrepunha-se, invariavelmente, a pessoa, com a sua facilidade de trato, a atenção dada a cada interlocutor, a espontaneidade e a graça. Uma entrada (acidental e relutante) na política, deu-me a ocasião de trabalhar, diretamente, com os líderes dos maiores partidos democráticos, em diversos Governos. Sou testemunha de que eram bem mais amáveis e divertidos do que a sua imagem pública deixava imaginar. De todos, só o Dr. Soares, sobretudo a partir das “presidências abertas” , se foi mostrando em público tal como era em privado. As minhas memórias de conversas e episódios passados com ele são inúmeras e, na sua maioria, definitivamente lúdicas! Escolher é difícil, mas necessário…por isso, vou centrar-me em viagens e receções internacionais da sua Presidência. Viajar com o Dr. Soares era uma festa, desde que se transpunha a porta do avião. Lá dentro, as charlas fluíam, resvalaram para a vozearia ruidosa. Uma vez até tomei a iniciativa de mandar calar os companheiros de ruído, ao ver, na primeira fila, o Presidente já a descansar, depois de ter percorrido os corredores da aeronave, a cumprimentar toda a comitiva. Calamo-nos, por precaução, mas ele era imune ao barulho de algazarras, dormia em qualquer ambiente! A viagem à URSS – Rússia, Arménia, Arménia e Azerbaijão – dava um livro inteiro, com as múltiplas tentativas do Dr. Soares para sair dos rígidos roteiros soviéticos e ver gente no seu normal quotidiano, e com interlocutores como Sahkarov, Gorbatchev e Raisa, paradigma feminino da nova elegância soviética. Limitar-me-ei a destacar alguns casos que envolveram os Deputados, um de cada partido. Contrariando o princípio da proporcionalidade das Delegações, o Presidente quis dar aos soviéticos uma lição prática de convivência na alteridade, patenteado o nosso pluralismo democrático em perfeita confraternização. Assim destacava a importância da instituição parlamentar pluripartidária. Importância sem paralelo no sistema soviético e, por isso, o protocolo local atribuia vistosos carros pretos a toda a gente, diplomatas juniores, empresários ou imprensa, e desterrava para o fim do cortejo de viaturas oficiais, numa velha furgoneta, a Delegação Parlamentar! Sucediam-se os atos cerimoniais – visitas, receções, deposição de coroas de flores em monumentos - e o Presidente exigia a nossa presença, a seu lado. Ora, nós, vindos lá de trás, éramos sempre os últimos a chegar, e em esforçada correria, com a Dr. Soares a acenar-nos, de longe, muito impaciente. Sem os Deputados, não deixava começar o evento, e nós, para lhe poupar irritações, nunca explicamos a razão do atraso. Só ao 2º dia, depois de veementes protestos, vimos respeitada a nossa precedência protocolar, e fomos distribuídos em limousines iguais às outras … Sucedeu o mesmo nas três Repúblicas! O último incidente protocolar foi em Kiev, onde o avião fez escala para um encontro de Presidentes, o nosso e o da Ucrânia, seguido de um faustoso banquete. Tudo se passou no aeroporto, pelo que a comitiva teve de ser dividida por duas salas VIP, uma para as altas individualidades, outra para as de segunda linha. Nesta categoria decaíram dois Deputados…Só o Dr. Soares, sempre atento, se apercebeu da ausência e logo exigiu que os chamassem para a sua mesa. Levantaram-se, em simultâneo, vários funcionários, gerando uma tremenda confusão, em nervosas movimentações, até acertarem as trocas com os Representantes da Nação, por fim sentados nas suas cadeiras protocolares. Uma última lição de democracia magistralmente ensaiada pelo nosso Presidente! Por mais incrível que pareça, cena quase idêntica ocorreria no próprio Palácio de Belém, aquando da audiência a uma Delegação da República Popular da China. Na qualidade de Vice-Presidente da Assembleia, chefiei a comitiva que acompanhou os nossos convidados nas suas visitas de cortesia ao Primeiro Ministro Cavaco Silva e ao Presidente Soares. Em ambas as residências, o Protocolo informou que a sala de receção não estava preparada para tanta gente, e os Deputados portugueses concordaram que só eu estivesse presente nas reuniões. O Prof. Cavaco não levantou objeção, preocupado em pôr o foco no sucesso da sua recente visita à China, em tom formal, como é seu timbre. No Palácio de Belém, não foi, de todo, assim. Mal nos sentámos, o Presidente perguntou-me: “Está sozinha? Não vieram mais Deputados?” Ao ouvir as minhas explicações, bradou: “Os Deputados lá fora? Nem pensar! Eu sou um parlamentarista! “. Seguiu-se um rebuliço semelhante ao de Kiev! Os Deputados foram todos chamados à sala, enquanto entravam funcionários com as cadeiras na mão, e o Presidente dava instruções e ele próprio arrastava poltronas. E eu só pensava :”O que acharão os nossos visitantes orientais de tudo isto?” Nunca tinham visto nada igual, de certeza... Na sala cheia, a conversa decorria descontraidamente, em ambiente muito caloroso. À saída, esperava-nos a avalanche de jornalistas, microfones e câmaras. Para meu espanto, o líder chinês, empolgadíssimo, falou, falou…a felicitar o povo português por ter um Presidente tão extraordinário, numa girândola de elogios que terminou na síntese: ´É um grande Humanista!” Questionado, depois, sobre a audiência do Primeiro- Ministro, a resposta foi lacónica: “Também correu bem”. Lembrar o Dr. Soares, nestas breves nótulas de viagens e encontros, é, evidentemente, pouco, mas penso que nelas se vislumbra o Homem que amava a liberdade, a democracia, a vida e as pessoas. E as fascinava. Soares era fixe! in DEFESA DE ESPINHO
Parlamento saúda dedicação de décadas de Manuela Aguiar às comunidades portuguesas Lisboa, 11 out 2024 (Lusa) -- O parlamento aprovou hoje, por unanimidade, um voto apresentado pelo presidente da Assembleia da República de saudação à antiga secretária de Estado e deputada do PSD Manuela Aguiar pela sua dedicação às comunidades portuguesas. Natural de Gondomar, distrito do Porto, licenciada em Direito e que foi professora na Universidade Católica Portuguesa e na Universidade de Coimbra, Manuela Aguiar, no plano político, começou por exercer funções como Secretária de Estado do Trabalho no IV Governo Constitucional. "Porém, foi ao serviço das comunidades portuguesas que o seu trabalho mais se destacou. Tornou-se, entre 1980 e 1987, a primeira mulher a tutelar a diáspora como secretária de Estado. No desempenho dessas funções, bateu-se decisivamente pela criação do Conselho das Comunidades Portuguesas, órgão consultivo do Governo que ajuda a assegurar a representação e a provedoria dos interesses dos emigrantes", refere-se no voto proposto por José Pedro Aguiar-Branco. No voto, lembra-se também que Manuela Aguiar, no âmbito do Conselho da Europa, se envolveu "nas negociações que consolidaram dentro do espaço europeu o reconhecimento da dupla cidadania e a proteção jurídica dos emigrantes". "Manuela Aguiar foi eleita deputada em oito legislaturas, quase sempre pelo círculo eleitoral de Fora da Europa. No parlamento, foi uma voz livre e inconformada, comprometida com a defesa dos emigrantes e da sua plena participação política em Portugal", acrescenta-se.