quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Convite do Centro Republicano Democrático de Fânzeres

O Centro Republicano de Fânzeres foi um parceiro maior e assíduo das comemorações do Centenário da República em Espinho, nos meses em que fui Vereadora da Cultura da Autarquia e, por isso - e não só por isso! - foi com imenso prazer que recebi o convite para ser oradora na sessão solene que marca o 103º aniversário desta grande instituição gondomarensa, agora a viver nas suas novas e grandiosas instalações.
Outras razões determinantes de uma aceitação entusiástica: uma de ordem geral, que é a admiração pelo voluntariado e pelo associativismo; outro muito especial, pelo facto de ser gondomarense e de ter, nessa terra das minhas origens em longa fila de gerações, o lado mais republicano da família.
Embora nas sessões solenes não seja habitual introduzir o debate, pedi que isso fosse permitido, para melhor nos integrarmos no "espírito da época", essencialmente marcada, tal como a vejo, pela vontade de dialogar, de comunicar ideias e projectos e de incentivar o exercício da cidadania, antes de mais, pela palavra (a crença no poder da palavra a anunciar e a anteceder a acção para transformar a sociedade, através de um "novo homem"- e uma nova mulher!).
Mudar as mentalidades, mudar as estruturas para aceder à liberdade, igualdade e fraternidade, com o acento na vertente da educação - de massas - e da cultura, eis um aspecto fundamental da utopia republicana de inícios do século passado.
Num tempo em que, a meu ver, a "questão de regime" perdeu toda a sua modernidade, o desafio do desenvolvimento cultural (e da participação cívica) é ainda absolutamente actual.
Debate houve e que debate!
Com a intervenção da Drª Fina da Armada e com o meu conhecido pendor feminista - à maneira de Ana De Castro Osório e suas companheiras - largamente partilhado naquele salão do Centro Republicano, onde a Câmara de Gondomar e a Junta de Freguesia tinham, ambas, rostos femininos, não admira que o movimento das mulheres portuguesas do princípio de novecentos, acabasse por estar no centro das atenções.
Um feliz serão, a 4 de Outubro, em que constantemente pensava nesse tios de Gondomar. Tios bisavós - como Manuel Guedes Ferreira Ramos- ou tios avós, como António, Alexandre, Alberto Mendes Barbosa ou José Barbosa Ramos, que foram exemplo de cidadadania e intervenção política, pois não exitaram em arriscar a sua situação profissional e a sua vida, para lutar por ideais.
"O António no Aljube", "o Alberto no Aljube" são inscrições no verso de fotos antigas, escritas pela letra pequena e inclinada da Avó Maria (ela própria monárquica e conservadora), de que me recordo desde criança...
O Tio Manuel Guedes não viu o dia da revolução, mas os seus companheiros de luta, depois do 5 de Outubro, não o esqueceram e deram o seu nome à Praça do Município, em Gondomar. O Tio António, percorreu, no tempo de Sidónio, os caminhos do degredo em África. O Tio José, que era o mais jovem Conselheiro do STJ, juiz com uma carreira brilhante pela frente, foi aposentado compulsivamente, na era salazarista.
O Pai era monárquico, Regenerador, tal como as irmãs, incluindo a Avó Maria, e como o cunhado António Carlos, o meu Avô Aguiar.
Divididos apenas pela "questão de regime", esses antepassados, de que me orgulho por igual, souberam sempre debater ideias opostas e viver em plena harmonia social e afectiva.
Assim deve viver uma família, uma comunidade ou m País, não é verdade?

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