domingo, 28 de dezembro de 2014

CARLOS CORREIA

A memória é um mundo em que vivem connosco os amigos que já não estão entre nós… Ninguém o disse melhor do que Pascoais: “Existir não é pensar, é ser lembrado”.
Lembro uma última e muito longa conversa que tive com o Dr Carlos Correia, sobre o Pai, que tinha falecido pouco antes. Falámos, quase exclusivamente sobre os nossos Pais, o que significavam para nós. Sobre a forma de superar a sua perda, de os trazer connosco na caminhada pela vida fora, tentando adivinhar o conselho que nos dariam em situações difíceis, sentindo a sua presença nos momentos de festa e de alegria.
Encontrei-o, logo depois, a 26 de Março, nos salões do protocolo do Palácio das Necessidades, durante o colóquio com que a AEMM abria as comemorações da Revolução de Abril no domínio das migrações. Como muitas vezes acontece nestes eventos, saudamo-nos cordialmente, sem tempo para mais nada. Coincidimos em fotos de grupo, que seriam as suas últimas fotografias. .Estou a vê-lo, na primeira fila, na cadeira mais distante, de onde, discretamente, se levantou duas ou três vezes, com toda a certeza para atender questões de serviço. Era o chefe de gabinete do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, e assumia essas funções, como as outras que desempenhou, nesta área das migraçõe (Técnico, Assessor, Vice presidente do Instituto de Apoio à Emigração e Comunidades Portuguesas, Conselheiro Social nas Embaixada de França e do Luxemburgo), com uma dedicação total, com muita inteligência com um conhecimento completo dos “dossiers”. E sempre, também, com um grande sentido das responsabilidades, com preocupação de ser.perfeito.E era! Eu sei, porque na meia década de oitenta, o Dr. Carlos Correia foi meu Chefe de Gabinete no mesmo pelouro. Trinta anos mais jovem, mas igual… Não falhou no mais pequeno pormenor… Tê-lo à frente daquela máquina complexa, daquela torrente de papéis quotidiana, dando solução a tantos problemas, que, de outro modo, recairiam sobre mim, foi, sem dúvida, uma absoluta segurança, um sossego. Tinha, porém, a consciência de que me podia despreocupar, na exacta medida em que ele se preocupava. Até demais, na minha opinião! De todos os colaboradores próximos (e tantos foram...), o Dr. Carlos Correia foi o único de quem só discordei, por julgar que trabalhava em excesso e que se preocupava demasiado! “Despache alguns desses processos para os outros, por favor!” – dizia-lhe quase todos os dias, sem sucesso. Mas, em tudo o resto (e até naquela atitude também!) o considerava admirável. Era de uma gentileza e bondade infinitas…Impossível não gostar muito dele!
Mas, curiosamente, as minhas primeiras recordações do Dr Carlos Correio são de um colectivo em que o integrava, o grupo dos “jovens”do chamado “Centro de estudos” – oficialmente esse título não existia em nenhum organograma da Secretaria de Estado da Emigração, mas correspondia ao que faziam, excepcionalmente bem, sob a direcção da Dr.ª Rita Gomes. Eram a "nova vaga",mas já com larga experiência e especialização na matéria – intelectualmente brilhantes, muito unidos, e muito simpáticos: Carlos Correia, Victor Gil, Bento Coelho e, entre homens, uma mulher invulgar, que tratavam como igual – a Maria do Céu Cunha Rego. Havia outros, mas eles foram sempre os que considerei mais próximos. O que não quer dizer que se apercebessem disso, isto é, que eu evidenciasse sentimentos de tanto apreço. As vezes, com a minha pressa e impaciência, bem pelo contrário… Algumas histórias que, muitos anos depois, me contaram desse nosso relacionamento laboral foram, para mim, surpreendentemente hilariantes.
Há muito que estava combinado um jantar convívio para recordar esses tempos felizes. Acho que não devemos esperar mais, para levar por diante o planeado, agora para falar, sobretudo, do nosso amigo Carlos Correia

Maria Manuela Aguiar

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