quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

TURISMO SENIOR, TURISMO NOVO 1 - Sou a terceira geração da família, que tendo nascido a curta distância de Espinho, passava o verão, desde o ano em que ensaiou os primeiros passos, nesta alegre estância balnear, e que, chegada à idade da reforma, a ela se acolheu para viver numa casa de férias convertida, com pequenas obras e redecoração, em residência permanente - na Rua 7, Rua Nova d' El-Rei no tempo dos bisavós. Escolha natural, pois era - e é - a cidade ideal para viver essa idade (sem excluir as outras), com o seu traçado plano e retilínio, a dimensão que facilita o convívio, a sociabilidade num quotidiano em simultâneo tranquilo e animado, a proximidade não só dos amigos, que encontramos a deambular pelas ruas, nas mesas de café, nas esplanadas ou no passadiço da beira mar, mas também de tudo o que fica longe em qualquer outra cidade: mil e uma pequenas lojas, serviços públicos, salas de espetáculos municipais e privadas, biblioteca, casino, "courts" de ténis, campo de golfe, ginásios, clínicas e consultórios médicos (com os melhores nomes em quaisquer especialidades, entre os residentes e os que aqui vêm dar consulta, regularmente), piscinas e as esplanadas do "nosso mar". O mar, que aqui é mais belo e multifacetado, ora no ímpeto de grandes vagas, fascinantes para deleitarmos a vista sobre o mar sem fim de uma história mítica e esplêndidas, como para as escolas de "surf", (e para a pesca do peixe mais fresco e saboroso, vendido nas peixarias quando não, com pregões tradicionais, na esquina de uma rua, ou servido num sem número de restaurantes para uma multiplicidades de gostos e de bolsas), ora na relativa quietude das águas (quase sempre) tranquilas da "baía", nascida por mão humana, como que amansadas no abraço dos esporões de defesa da costa, Os "paredões" que nos convidam a gravar na memória ou a guardar numa fotografia o mais abrangente dos postais do centro de Espinho, para além de nos darem sensação de estarmos, em comunhão com o oceano, no convés de um navio, ali aportado para sempre - ou, se nos deixarmos levar nas asas da imaginação, numa jangada de pedra, prestes a lançar-se contra ondas do Atlântico.... 2 - A singularidade de Espinho está neste jogo de contrastes em domínios muito diversos, que a tornaram da génese à atualidade, uma "terra de todos", dos mais ou menos ricos, dos mais ou menos intelectuais. dos mais ou menos jovens. Cidade de cultura, de lazer e de variadíssimo comércio (verdadeiro "shopping center" ao ar livre, como tem sido chamada, onde não falta nada, onde joalharias e "boutiques" elegantes estão, lado a lado, com "outlets" e lojas de roupa barata, cafés, bancos, padarias, mercados, quiosques...). Buliçosa (embora menos do que já foi e pode voltar a ser) e acolhedora, num sentido afetivo e cívico, porque nos permite sermos mais livres, no à vontade e na segurança, com que, sós ou em grupo, ocupamos os seus espaços públicos, de dia e de noite. Cidade com infinitas possibilidades de crescimento, a partir de um passado grandioso, que, embora pareça distante e inatingível no presente, pode, a meu ver, inspirar o seu futuro, mesmo no setor que lhe deu projeção e renome nacional e internacional: o turismo. É certo que a cidade se deixou ultrapassar como cartaz turístico de vanguarda - se o quisesse ser. ainda hoje, não poderia permitir-se o triste espetáculo que inflinge aos visitantes, há anos (desde o enterramento da linha férrea), no preciso lugar que foi o seu "ex libris" - a Avenida 8, a sul da velha estação de comboio - convertido num deserto de cimento sobre os subterrâneos, onde os comboios desapareceram da nossa vista e como que mandam sinais de presença em vários respiradouros em forma de chaminés gigantes, grotescamente pousadas no solo. Um autêntico pesadelo urbano a pedir, enquanto não arrancam as prometidas obras de requalificação, ao menos, uma intervenção de "artistas de rua" sobre aquelas medonhas protuberâncias! 3 - Pode Espinho volver-se, de novo, em cartaz turístico, sabendo-se que os banhistas preferem, agora, águas mornas e sol tórrido, e a "classe política" também? O que aponta, internamente, ao Algarve e à Madeira, ou, em alternativa, a praias "exclusivas", como é, por exemplo, a norte, Moledo do Minho.. Espinho não pode competir os primeiros, em termos de clima, nem tem a vocação elitista da Granja de outrora ou dos Moledos hoje Mas há, no nosso tempo, inúmeras outras formas de turismo que despontam, em Portugal, e nos recolocam no cimo da Europa - o turismo de festivais, de congressos, o turismo cultural, o religioso, o etnográfico, o paisagístico... E há, ainda o dos "vistos gold" para milionários e o dos reformados estrangeiros, medianamente prósperos, atraídos pela isenção de impostos (turismo altamente rentável e de longa duração.). E, dentro de portas, há uma população envelhecida, que em muito ultrapassa a problemática da "peste grisalha", na expressão imortalizada por um jovem (pouco) social-democrata para designar os pobres, dependentes e alquebrados . Na verdade, sem negar que aumenta o número de idosos carenciados, convém lembrar que aumenta igualmente o contingente dos que têm cada vez mais anos de vida saudável para gozar e mais poupanças e rendimentos do que filhos e netos para gastar, como consumidores, quando não como investidores. E, ainda, o que é de decisiva importância, uma mentalidade moderna, que os leva a procurar a independência em lares e apartamentos residenciais de luxo, ou de bom nível, em locais aprazíveis. Espinho poderia bem candidatar-se a este "nicho de mercado", enquanto terra singularmente aprazível! O que a tornaria, note-se, mais "intergeracional", pois o influxo dos mais velhos criaria, bem vistas as coisas, muitos empregos para jovens. Assim, com um saber de experiência feito, com o exemplo da minha própria família, lanço a ideia. Utopia, ou talvez não..

1 comentário:

  1. Olá Doutora, posso publicar no meu jornal?
    Desde já os meus agradecimentos.

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