segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

CONDECORAÇÕES NO MASCULINO

Dizer "condecorações no masculino" é quase um pleonasma, de tão raras que são as femininas.
Portugal condecora muito, mesmo muito, em termos comparativos, mas, em regra, apenas homens. Assim aconteceu, recentemente, no Porto, pela mão do Presidente Marcelo. De uma assentada foram sete. Sete magníficos! Segundo a lista publicada pelo JN: Germano Silva, Valente de Oliveira, Amândio Seca, José de Oliveira, João Casal, Avelino do Carmo, Eduardo de Sousa. Oriundos do meio académico, cultural, empresarial. Nada contra - alguns conheço, são amigos que admiro, e os outros serão, decerto, igualmente merecedores. Em todo o caso, fica a pergunta: não há no Porto uma, ao menos uma, ilustre senhora a distinguir, do mesmo modo?
Parece que não.
De todos os presidentes da Republica do pós 25 de abril, só Jorge Sampaio se preocupou em olhar em volta e descobrir valores na metade esquecida da sociedade portuguesa. Começou por o fazer numa data simbólica do combate das mulheres pela igualdade - o 8 de março. Algumas teriam preferido o 10 de junho...  Eu não -  gostei que tivesse sido assim, como uma chamada de atenção não só para as individualidades, como para a discriminação que ainda as atinge enquanto sexo, ou género. Ou seja, para a regra e não só para as exceções.
Recebi, em Braga, a par de outras colegas que, por largos anos, haviam servido no Governo da República, ou. em outros cargos e domínios, a minha condecoração (a  Grã-Cruz da Ordem do Infante Dom Henrique, pelo trabalho feito nas comunidades do estrangeiro).
Ter acontecido num 8 de março e por decisão do Presidente Jorge Sampaio, aquele com quem mais me identifico com feminista, acrescentou imenso ao significado do gesto em si.
Agora, cerca de 20 anos depois, pensando nas cidadãs Portuguesas, que, dentro e fora do País, sem qualquer reconhecimento oficial, se envolvem em atividades cívicas ou profissionais, no voluntariado e na luta contra todas as formas de discriminação, tinha de fazer este reparo...



2 comentários:

  1. É verdade amiga Manuela, que as condecoraçoes nem sempre atingem aqueles que realmente as merecem. Nao é fácil ser honrado pelos seus meritos quando nao existe alguém que os promova ante aqueles que têm nas suas maos as ferramentas para o fazer! E os que trabalhamos práticamente no anonimato nao procuramos reconhecimentos porque o fazemos por convicçao e nao para ganhar medalhas. Mas como é Óbvio a todos nos gratifica receber qualquer reconhecimento, porque é uma prova de que valeu a pena o seu contributo.

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  2. É bem verdade! O reconhecimento sempre gratificante e não digo que, em regra, não distingue quem tem mérito. Mas a lista dos injustamente esquecidos é muitíssimo maior... E há, sem dúvida, setores que coletivamente são beneficiados face a outros. Basta comparar os funcionários militares e os civis. Nada contra os militares, que arriscam as vidas por todos nós - como os polícias e os bombeiros, por exemplo. Mas que os funcionários civis são desvalorizados (também quando se compara com os políticos...), são! E outros grupos...

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