sábado, 23 de abril de 2011

Abril e depois de Abril

dia 25 de Abril de 74 foi, para a jovem que ainda era, um dia de grandes expectativas. Vivi a primeira revolução da minha vida em casa, com rádio e televisão ligadas, ansiosa por notícias, encantada com as músicas que, melodicamente, profetizavam radicais transformações.
Portugal vivia, então, parado no tempo, décadas atrás do tempo real...
Um anacronismo. Uma ditadura patriarcal, ultramontana, misógina, enredada numa guerra colonial, só na Europa e no mundo. Nada acontecia, nada mudava. E, nesse dia, assim de súbito, todas as mutações pareciam ao nosso alcance...

De seguida,O o processo dinâmico do 25 de Abril foi uma época fantástica de refundação do Estado, de reconstrução da democracia. Vieram para a política os melhores - com eles e com um povo corajoso e de espírito aberto, se atingiram tantas metas, uma a uma.
Para mim, Sá Carneiro foi a expressão máxima de uma nova visão de Portugal e dos meios ideais de lutar por ela. Era, mais do que os outros, o anti-Salazar, o oposto mais oposto. Salazar desconfiava dos portugueses, da sua capacidade de viver em democracia, sem o paternalismo de uma tutela. Sá Carneiro confiava nos portugueses e, por isso, exigia democracia no imediato e sem tutelas, fossem elas civis ou militares.
Onde muitos, até mesmo dentro do partido que criara, preconizavam, por temor e calculismo, a cedência a uma transição gradual, ele queria o povo a decidir, na hora, e a fazer futuro, como os povos seus iguais na Europa ocidental.
A História das primeiras décadas de regime democrático deu-lhe inteira razão, porque a democracia floresceu entre nós, convivial e fraterna.
E agora? Até que ponto o descalabro económico pode minar a soberania do Estado e o estado da democracia? Poder, pode, mas eu continuo a acreditar nos Portugueses, na sua capacidade de tomar em mãos o destino traçado a partir daquele Abril.

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