sábado, 25 de junho de 2011

Revolução protocolar

É o que eu chamo à decisão do Primeiro Ministro de viajar nos aviões em classe económica.
Como fiz, por dever de ofício, incontáveis viagens aéreas, para mim, esse meio de transporte é tão banal como outro qualquer, comboio, carro... E, por isso, poderia pensar que a revolução protocolar ficaria incompleta se não viesse a estender-se à 2ª classe do Alfa e do Intercidades ou à opção por viaturas oficiais pequenas, de baixo consumo.

Mas a questão é simbólica, não é financeira. (Alguém consegue imaginar Sócrates a assentar os seus fatos Armani na económica de uma aeronave?).

Quando era membro do Governo, em modestos lugares de Secretária de Estado, tinha uma espécie de livre trânsito da CP e sabia perfeitamente que a TAP não cobrava o custo da viagem aos governantes (pelo menos aos do Ministério dos Negócios Estrangeiros). Mas parecia-me bem, e utilizava a Executiva, que raras vezes ia cheia. Nessas condições, sentia-me apenas a ocupar um assento que, de outro modo, ficaria simplesmente vazio.
Mais tarde, na Assembleia, já não era esse o caso - apesar do enorme volume de deslocações, não havia qualquer acordo que visasse privilegiar a TAP (companhias estrangeiras eram correntemente escolhidas), não se negociava com esta companhia de bandeira sem intermediários, não se beneficiava, consequentemente, de um estatuto mais favorável do que o do passageiro ocasional (as milhas são outra história, mas o certo é que premeiam os passageiros frequentes, pessoas ou empresas).

Porque sempre procurei poupar dinheiros públicos, sempre examinei as tarifas em que estava emitido o bilhete (se calhar, um tique feminino...). Por isso, sei um pormenor que não vi ainda referido por ninguém: qualquer das classes, 1ª, executiva ou económica, comporta uma multiplicidade de tarifas. E há tarifas de económica mais onerosas do que as de executiva...

Não vejo nada de mal em recorrer a transportes colectivos. Sou uma adepta de metros e comboios, em qualquer país do mundo, incluindo Portugal, Espinho, Porto, Lisboa...
A história regista um Presidente da República que se deslocava para o Palácio presidencial de carro electrico (Manuel de Arriaga?).

Não pertecendo a esta linha da frente da política nacional, não qualifico para simbolizar coisissima nenhuma com os meios em que me faço transportar, mas recordo-me que, uma vez, não sei já bem porquê (avaria mecãnica no veículo oficial? irritação com o atraso do motorista?)tomei um autocarro de Benfica para Alcântara, a caminho do Palácio das Necessidades - em frente à Pastelaria Evian. Por acaso, na paragem seguinte da Av. do Uruguai, ali perto da Livraria Ulmeiro, entrou pela porta dentro o Pedro Cid. Ficou atónito. Disse-me que nunca tinha visto um Secretário de Estado viajando, tranquilamente, de autocarro para o local de trabalho. Tudo pode acontecer...

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