quinta-feira, 7 de abril de 2016

UM CONGRESSO EM ESPINHO - memórias de outros congressos do PSD

1- Há, pelo menos, doze anos que não ia a um congresso do PSD, mas, desta vez, com a sua realização à porta de casa e sucessivamente desafiada pela Leonor Fonseca e pela Virgínia Estorninho, não hesitei em as acompanhar. Foram três dias esplêndidos, cheios de reencontros com amigos da emigração e do país, que não via há muito tempo, e de ocasiões de rememorar com eles outros congressos, alguns bastante mais aguerridos. O primeiro a que assisti, como convidada, foi o do cinema Roma, em Lisboa. Estávamos em 1979 e ainda não era filiada no PPD/PSD, embora fosse "Sá Carneirista" declarada há muito ( desde que ele se afirmara contra a ditadura, no hemiciclo de São Bento, e como "social-democrata à sueca" numa entrevista dada a Jaime Gama). Depois, perdi a conta àqueles em que participei. Por exemplo, em 1981, o do Porto, com Balsemão (no meu caso, com os chamados críticos" contra Balsemão), uma reunião agitada por insuperáveis divisões e inflamados discursos, no interior do Rivoli, mais uma falsa ameaça de bomba, que nos obrigou a um pacífico interregno no exterior. Recordo, em especial, os históricos congressos de mudança de lideranças: em 1983, o de Albufeira, que vivi euforicamente, com a vitória de Mota Pinto; em 1985, o da Figueira da Foz, que parecia destinado à volta do "Balsemismo sem Balsemão" (com João Salgueiro) e acabou na consagração de Cavaco Silva (reviravolta ocorrida a altas horas da noite, enquanto eu dormia, pelo que fiquei fora de todas as listas, então elaboradas); o de 1995, no termo da "pax" Cavaquista, com a sucessão a ser disputada por Nogueira, Durão Barroso e Santana Lopes - um elenco de luxo, no mais mediático de todos os eventos do género e, se me não engano, pioneiro na total abertura aos "media". Coisa nova, também no que me respeita, porque tinha não só um, mas dois candidatos para escolher, Fernando e José Manuel. A amizade e solidariedade coimbrã falaram mais alto, decidi apoiar Nogueira, mas, antes de o fazer, escrevi a Durão Barroso, dizendo-lhe que, mais tarde, ainda haveria de votar nele, o que, realmente, veio a acontecer. 2 - Espinho 2016 foi, assim, tempo de olhar, nostalgicamente, o passado, num ambiente que tem ainda muito de semelhante, na mescla alegre e convivial em que os debates, lá dentro, alternam com os abraços e animadas conversas, cá fora. Menos despreocupadas, menos afetivas, são, provavelmente, as negociações de bastidores para a composição de listas de dirigentes, a marcação e ordenamento das intervenções em palco, que costumavam ser mais complicadas para os delegados comuns do que para os" notáveis" do partido. Sei-o por experiência própria, e um dos velhos amigos que revi nos corredores, recordou-me o caso passado no Pavilhão Rosa Mota... Eram 4.00 da manhã e ele saíamos de uma sala vazia, onde quase só Cavaco e Silva se mantinha, atento, como era seu dever. E eis que ouvimos chamar, pelos microfone, o meu nome... no fim da tal grande lista de intervenientes. Voltei à pressa ao recinto, para tomar a palavra sobre questões internacionais - sobre a Europa das Nações, a Europa da "iguais", que já não existe hoje. Fui muito aplaudida pelo Prof. Cavaco, pelo meu amigo e por meia dúzia de resistentes ao cansaço da madrugada. Em 2016, isso não aconteceu a Virgínia Estorninho, a primeira na lista dos oradores! Por sinal, abordou muito bem um tema da maior importância - o do relacionamento inter-geracional. A Virgínia, que diz sempre, sem rodeios, o que tem para dizer, apelou a uma política de valorização, de aproveitamento, de inclusão dos recursos humanos deste grupo etário que tanto cresce, proporcionalmente, na sociedade portuguesa. Cito: "Os da minha geração - a peste grisalha, como alguns lhe chamam - deram-lhes(aos jovens) aquilo que nunca tiveram [...] Cometemos, admito, o grande crime, que foi o de trabalharmos muito, nalguns casos até demais, para que nada lhes faltasse". E, a terminar, aconselhou os nossos políticos a atentarem nas diretrizes europeias neste domínio, nas recomendações do CESE, que, entre várias prioridades. exorta os governos a colocarem " a tónica na capacidade e nos contributos dos idosos e não na sua idade cronológica", realçando-os "através de declarações positivas", promovendo a sua participação ativa no processo de decisão na comunidade, na política, nos conselhos de administração de empresas, em organismos públicos, no voluntariado"... Bem vistas as coisas, a proposta da Virgínia vale tanto, ou mais, do que a muito badalada "mobilidade social" de Paulo Rangel, que, obviamente, também é precisa... 3 - Pode a voz das mulheres, por muito forte que se erga, ser ainda pouco ouvida nestes areópagos partidários, mas é justo reconhecer que, de um ponto de vista feminista, o Congresso de Espinho deu um passo em frente: a Comissão Política é quase paritária e na Comissão Permanente (o poderoso "inner circle" dos Vice-presidentes) as mulheres estão em maioria! O Conselho Nacional, esse, continua longe da paridade, prejudicada pela grande multiplicidade de listas concorrente, encabeçadas, regra geral, por homens. Por outras razões, o panorama é ainda pior no Conselho de Jurisdição (uma mulher) e no das auditorias (100% masculino...). Outra nota a merecer realce é a aprovação de moções (a "K" de Maria Trindade do Vale e a "N" de Lina Lopes) voltadas para as questões da igualdade de género, da paridade. À beira mar, em Espinho, soprou, enfim, neste campo especial , uma brisa social-democrata "à sueca". Maria Manuela Aguiar Defesa de Espinho, 7 de abril 2016

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