quarta-feira, 4 de maio de 2016

O meu amigo Edmundo Macedo

Um dos últimos textos que me enviou foi sobre Deco, a propósito de um texto meu sobre o mesmo fantástico nº 10. Que bem sabia escrever...incluindo sobre futebol! Anderson Luís de Sousa, natural de São Bernardo do Campo, nesse fabuloso Brasil, tinha pés de seda! A seu favor, uma espécie de alavanca invisível combinando perfeitamente com força mecânica e -- senhores! -- eis seu Deco! Do Corinthians para o Benfica, o técnico do Benfica de então, Graeme Souness, "a errar a pontaria", pelo que empréstimo de Deco ao Alverca e depois um pulo até ao venerando Salgueiros. Mais uma vez Pinto da Costa deve ter visto qualquer coisa que mais ninguém na altura viu e vai daí, Deco pr'ó Porto! O mesmo Porto que parece andar há anos virado a sotavento deixando aos outros o barlavento! O mesmo Porto que já tivera o Hernani e o Pavão a cintilar como estrelas! O mesmo Porto da figura mítica chamada Barrigana! E que fez então o Deco? Fez futebol de sonho! Médio de ataque -- os puristas de Manchester, Londres e Chelsea chamar-lhe-iam "attacking midfielder" --, pôs o Porto a jogar um futebol de compêndio, de cátedra, categórico, categórico no sentido de explícito e positivo. Seu Deco -- já se disse e nunca é demais repetir -- tinha pés de seda. Tão de seda que garantiam poupança da relva. Tão de seda que pareciam deslizar em superfície oleosa. Tão de seda que era um encanto vê-lo jogar. E o futebol de seu Deco exibia traços de peça dramática teatral, exsudava coreografia, vertia elegância de cisne. É tudo -- e não é pouco -- sobre o futebol divinalmente rico de Deco! Acima de Deco, quer dizer, melhores do que Deco, só Figo, Ronaldo e Eusébio? Não parece dedução razoável. Que tem o futebol-arquitecto-desenhador-pensador-de Deco -- "attacking midfielder" -- a ver com o futebol-decididamente-e-quase-exclusivamente-golo de avançados, de homens-golo como Figo, Ronaldo e Eusébio? Edmundo Macedo Los Angeles, Setembro 2013

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