segunda-feira, 2 de julho de 2018

A CIDADÃ MARIA BARROSO (JORNAL AS ARTES ENTRE AS LETRAS , dedicado ao PATRIMÓNIO HUMANO)

O NOSSO PATRIMÓNIO HUMANO - A CIDADÃ MARIA BARROSO

 Entre os nomes que constituem o nosso imperecível património humano, há os que revelam a dimensão da cultura portuguesa, na sua essência universalista e fraternal. Um desses nomes é o de Maria Barroso, a maior figura feminina do século XX, a mais intemporal, a mais inspiradora. Cidadã, por excelência, em décadas de participação cívica, cultural e política, que lhe dão lugar na história da democracia, do feminismo, do teatro, do ensino, da lusofonia... Mulher símbolo de dedicação à "res publica", com um percurso de intervenção anterior ao encontro de destinos com Mário Soares, depois com ele continuado, tanto na resistência à ditadura, como na construção de um país democrático e reaberto ao mundo. Corajosa e solidária, ícone de elegância e perfeita diplomata, soube apoiá-lo com uma amável cumplicidade, sem nunca se apagar na sua sombra, ou esconder a independência de espírito, e uma forma própria de estar na sociedade e na política. A jovem revolucionária, que usava a força da palavra, como arma de combate pela liberdade, nos palcos do teatro, nas arenas políticas, ao qual não hesitou em sacrificar a vocação artística e a carreira docente, viria a ser a primeira senadora da democracia portuguesa, sem nunca perder a faceta vanguardista, a lucidez e capacidade de dizer "não" a novas formas de exclusão e violência, a violência nos "media", o tráfico de armas... Com um sentido de missão, que uma repentina e emotiva conversão ao catolicismo, levaria a outros espaços e projetos, afirmou-se no plano internacional, no universo da lusofonia e da Diáspora, que, já octogenária, percorreu, incansavelmente, para presidir aos" Encontros" para a Cidadania e Igualdade. Através da Fundação PRO DIGNITATE, de fora da política partidária, levou a cabo obra notabilíssima e ainda insuficientemente conhecida - caso do seu papel no início do processo de paz em Moçambique. Com a ideia fulcral de dignidade humana respondia a um inadiável desafio civilizacional do nosso tempo: a criação de uma cultura de paz, justiça e liberdade para todos os povos, todos os indivíduos. Nas suas preocupações e na sua ação não havia favoritos - eram iguais portugueses, timorenses, africanos, imigrantes, refugiados, mulheres e homens de boa vontade... Deu cumprimento a essa causa maior, numa relação de proximidade com as pessoas, em gestos concretos de apoio e companheirismo, com rigor e trabalho árduo, quando não excessivo, no dia a dia, até ao seu dia derradeiro! Na hora em que se despedia de Maria Barroso, o Povo Português, espontaneamente, transformou uma simples cerimónia privada em impressionante testemunho público e consensual de admiração e de saudade. Foi o primeiro sinal de que ficaria na memória do País, pelo afeto e pelo exemplo de grandeza de alma, superior inteligência e infinita energia . Maria Barroso, humanista "muito praticante", ao longo de uma longa vida. Maria Manuela Aguiar

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