quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Doutora Beatriz - coragem para viver

A Drª Beatriz Matos Fernandes estava à frente do Arquivo Municipal de Espinho. Conheci-a apenas em Novembro do ano passado, mas muito rapidamenta se iria tornar uma grande colaboradora e uma amiga também.
Ainda não posso acreditar que não a veremos mais nas reuniões de dirigentes do pelouro da cultura, cheia de vida, de ideias, de entusiamo pelo trabalho. Gostava tanto do que fazia! E fazia-o tão bem!
Transmitir esse gosto, sobretudo aos jovens era para ela uma espécie de "missão". O serviço educativo do Arquivo tem a marca da sua vontade de transformar um ambiente de pastas e pepeis em estantes cinzentas numa aventura de pesquisa apaixonante de factos e histórias, de vislumbres do passado que aí se conserva à espera da nossa curiosidade.
Era, evidentemente, um caso sério de competência. E de simpatia! Sempre pronta a partilhar projectos, a ajudar,sempre voluntária de infindos gestos de boa vontade.
A preparação do centenário da República em Espinho foi uma primeira ocasião para me aperceber dessa sua faceta empreendedora e solidária.
A última apresentação pública das pesquisas que tinha entre mãos aconteceu em Junho, na Biblioteca Municipal: a divulgação de dados sobre a emigração portuguesa, a partir de Espinho, no começo da 1ª República, entre 1910-1913. Encantou a audiência! (esperamos, como estava previsto, editá-los em DVD, no início de 2011).
A última exposição que organizou, com imenso carinho, integrava-se igualmente no ciclo do "centenário": a reconstituição de uma sala de aula de 1910, que foi inaugurada a 5 de Outubro deste ano, no Forum de Arte e Cultura de Espinho.
De sua casa trouxe um esplendoroso busto da República - o mais belo que vi até hoje -um dicionário de português, editado precisamente em 1910 e vários outros objectos, que ajudavam a compor a atmosfera de época.
A "sala de aula" vai continuar aberta ao público enquanto o espaço estiver disponível, à disposição das escolas, em particular. Foram apenas retirados os seus pertences, por razões evidentes (porque ninguém quer arriscar a sua perda eventual) e substituidos. O busto da República será menos invulgar, o dicionário menos precioso, mas a concepção que foi a da Drª Beatriz e o propósito que partilhamos mantêm-se!
A imagem da Drª Beatriz, essa, permanece na nossa memória. O seu sorriso. A sua coragem de tentar o impossível - viver contra a doença. Viver com a alegria que transmitia aos outros. Viver intensamente, com projectos de futuro, de que se recusou a desistir. Sempre!
Por isso se compreenderá o choque que sentimos todos quando depois algumas semanas de "baixa", para tratamento - pouco mais de um mês - recebemos a notícia tão inesperada da seu passamento.
Sempre a vi como um exemplo de vitalidade e esperança. Uma lutadora. Uma resistente.
Merecia ganhar totalmente o combate por uma vida longa. A perda é uma perda enorme para a Cidade, para a Cultura espinhense.
De qualquer modo, o seu exemplo fica connosco. E também o seu trabalho, a renovação de métodos e de relacionamentos que introduziu no funcionamento do Arquivo, os projectos que delineou e vão ser prosseguidos. É tudo quanto podemos fazer, para que continue, de algum modo, bem presente no nosso quotidiano.

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