quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

THE GREAT AMERICAN DISASTER

Do 9-11 ao 11-9 1 - Cheguei a NY na segunda daquelas datas fatídicas: o "day after " da eleição presidencial americana. A viagem pareceu interminável, porque ao tempo real se somou o tempo psicológico, de quem ia chegar à América, já não para partilhar a festa da vitória, mas como quem vai a um funeral... de tudo o que admira na terra da liberdade, de todos os valores e de todas as causas em que acredita. Nessa noite, nas maiores cidades do país, o povo, que com o seu voto elegeu Presidente Hillary Clinton, saiu à rua, em pacíficas marchas de protesto. Foram as primeiras e não serão as últimas! Hopefully...Temos de esperar que o povo americano saiba defender-se da tirania , da intolerância racista, xenófoba e misógina que Trump encarna, e, com uma pacífica resistência, defender o mundo de uma eminente regressão civilizacional. O "nine-eleven" foi uma data trágica que mudou, para sempre o tempo e o espaço de paz em que viviam as democracias, desde a derrota das potências do "Eixo", do nazismo e do fascismo, na segunda metade do século XX . Um outro presidente republicano, JW Bush, lançou a guerra (do Iraque), destruiu equilíbrio de forças no Médio Oriente e criou o "habitat" ao desenvolvimento da Al_Qaeda e de todos os terrorismos aparentados. O erro de Bush não tem fim à vista. Contudo, ao comparar Trump a Bush, a conclusão é assustadora, porque, apesar de toda a sua incompetência e estupidez , este ainda se situa no campo da democracia, na sua faixa mais conservadora e belicista, contudo ainda dentro dos princípios elementares e das normas mínimas de relacionamento entre pessoas, raças, sexos e religião, entre nações e povos - um homem de trato normal. Trump pelo contr´rio, quer na enunciação das suas políticas, quer como personagem é um acabado fascista do século XXI Tal como Trump face a Hillary, ele perdera no voto popular para o democrata Al Gore, e fora entronizado por um sistema anacrónico de voto colegial - tão anacrónico quanto o direito individual de porte de armas, que, há 200 anos, correspondia a uma necessidade de auto-preservação nas pradarias ou nos "saloons" do Far -west" e hoje serve, sobretudo, a violência dos fanáticos e o instinto assassino dos loucos. Na verdade, o sistema eleitoral vigente na América favorece Estados menos populosos ( por fatal coincidência, mais caucasianos, mais envelhecidos e mais conservadores), que estão sobre -representados, e cada vez mais, com o crescimento do universo cosmopolita face ao rural. Acresce um outro fator de distorção da vontade popular, que é o facto do vencedor de um Estado, mesmo tangencialmente, conquistar todos os delegados que o representam, sejam eles muito ou poucos, assim inutilizando o voto de todos quantos, nessa circunscrição, sufragaram o outro candidato De há muito se multiplicam as críticas a tais aberrações eleitorais, assim como ao uso generalizado de armas de fogo, sem que tenha sido possível a sua erradicação. 2 - Hillary Rodham Clinton, a brilhante Senadora de NY, a competentíssima e prestigiada antiga Ministra dos Negócios Estrangeiros, ganhou a eleição por sufrágio direto e universal, como acontecera com o antigo Vice-presidente de Bill Clinton Al Gore, Seria , em qualquer Estado, que respeite o voto expresso do Povo - de Portugal à África do Sul, do Brasil à França... - a Presidente do seu país. Fica com ela, como não deixem de clamar muitos democratas, essa inegável legitimidade! Resta ao oponente a "legitimidade de sistema", ironia do destino para quem se apresentava como a candidato anti-sistema.... Num e noutro caso, há 16 anos como agora, os EUA perderam, assim, estadistas de grande estatura e de grande visão. política, realmente ELEITOS pelo POVO, e viram , em seu lugar, homens sem qualidade , que, à frente da única super-potência mundial são tremendamente perigosos para a humanidade inteira! 3 - Pessimista, mas inconformada quanto ao futuro que nos espera, regressei a Portugal no domingo, com o Globe and Mail e o NY Times como companheiros de viagem, que a direção dos ventos torna sempre bem mais curta do que a de ida. Nos seus textos, encontrei, invariavelmente, uma leitura do acontecido na madrugada do "elevan nine" próxima da minha. "Horrorizada", como Paul Krugman ( "Thoughts for the horrified", 1ª página do NY Times), dececionada como John Irving, nas colunas de "The Globe and Mail" (The "great beast" has spoken), resistente como Timothy Egan, do NY Times ("Resistance is not Futile). Em Portugal, constatei, com espanto, que (quase) todos se mostram menos preocupados com a figura de Trump do que com Marine le Pen, sua aliada em versão “soft”., e dão mostras de querer “branquear” a sua imagem A história recente da Europa e do mundo mostra o perigo de subvalorizar ditadores em potência. Não relativizemos os movimentos nacionalistas e xenófobos que alastram por todo o lado, até nos países mais improváveis, com o Brexit do Reino Unido, e a Dinamarca a confiscar os bens dos refugiados à maneira hitleriana… Não sejamos a maioria democrática silenciosa. Maioria, sim! A começar na América, menos dividida ao meio do que se julga, porque o projeto humanista e generoso de Hillary ganhou o sufrágio popular, e, do outro lado, muitos votaram por fatores mais benignos do que o ódio, que, A “Alternative Right” /Tea Party , de Trump, Pence, Bannon ou Flyn, embora no poder, é largamente minoritária. .A América vai regredir, sem dúvida, mas a democracia sobreviverá: os democratas já vieram para a rua, em inúmeras manifestações cívicas, um elenco de negros, num palco da Broadway, já teve a coragem de exortar o futuro Vice.Presidente Pence - vaiado pelo público - a respeitar os direitos das minorias, um significativo número de clubes da NBA, já recusou alojar-se nos hotéis Trump, o “Mayor” de Nova York já fez desaparecer do alcance persecutório da administração Trump os registos de trabalhadores indocumentados. Assim se resiste não pela violência das armas, mas pela força da razão Publicado em "A Defesa de Espinho"

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