terça-feira, 13 de março de 2018

AINDA ATUAL: O DIREITO A NÃO EMIGRAR

Ex-secretária de Estado da emigração, criticou, num colóquio, em Paris, a forma como é encarada pelos Governos a diáspora portuguesa. DANIEL RIBEIRO, CORRESPONDENTE EM PARIS Social-democrata e considerada uma das maiores especialistas portuguesas da emigração, Manuela Aguiar disse, terça-feira, num seminário sobre a emigração portuguesa, na Universidade da Sorbonne, no centro de Paris, que não é apenas o atual secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, que não é ouvido sobre a matéria pelo Governo: "Aconteceu com todos e eu sei do que falo porque já exerci essa função". De acordo com Manuela Aguiar, os governantes portugueses desprezam os secretários de Estado. Numa alusão quase direta ao famoso "piegas" do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, acrescentou: "Dizem-se em Portugal as maiores barbaridades sobre a emigração, como aquela de sair da zona de conforto... se ouvissem as pessoas que sabem do assunto e o secretário de Estado, que não diz isso, não profeririam tais barbaridades, infelizmente ninguém o ouve". "Emigra-se por várias razões, verifica-se atualmente uma brutal vaga de emigração, devido à crise e ao desemprego, mas sobretudo porque as pessoas sentem uma total falta de horizontes", acrescentou a presidente da Associação Mulher Migrante que organizou o seminário em conjunto com Isabel Oliveira, diretora do departamento Línguas Estrangeiras Aplicadas da Sorbonne. "Portugal, durante estes 40 anos de democracia deu aos portugueses o direito de partir e de regressar, mas ainda não lhes deu o direito de não emigrar", acrescentou Manuela Aguiar. A histórica militante do PSD alertou igualmente para a existência, em Portugal, de ideias que apontam para acabar com a Secretaria de Estado das Comunidades. "Em Portugal gosta-se mais de falar em imigração do que em emigração, e creio que existe a ideia de pôr também a Secretaria de Estado a tratar da imigração, o que é evidentemente um erro". Os números do "drama nacional" "Existe em França uma nova diáspora em condições péssimas de precariedade", sublinhou pelo seu lado a diretora da Sorbonne. No colóquio, participaram diversos especialistas e ainda os deputados do PS e do PSD pelo círculo da Europa, Paulo Pisco e Carlos Gonçalves. Este último salientou que - além da fuga de cérebros do país, realçada por Paulo Pisco como um "drama nacional" - "o grosso do contingente dos novos emigrantes não tem formação e foge à pobreza". Victor Gil, especialista sobre fluxos migratórios no Ministério dos Negócios Estrangeiros e antigo Conselheiro Social na Embaixada portuguesa em França, referiu dados interessantes na sua intervenção, designadamente que nos últimos dois anos saíram por ano do país mais de 111 mil portugueses, "um número de emigrantes semelhante ao verificado noutros momentos difíceis, nomeadamente nos anos 1920 e 1960". De acordo com estimativas citadas por este especialista, Portugal perdeu, nos últimos anos, um quinto dos trabalhadores qualificados. No que respeita à área da saúde, disse que as estimativas apontam para a saída de cerca de um terço dos enfermeiros formados nas escolas portuguesas. Ainda no que respeita à emigração qualificada, Victor Gil citou um estudo segundo o qual são os engenheiros portugueses os que mais emigram, seguidos de licenciados em Economia e Gestão, Ciências Sociais, Tecnologias da Informação e Medicina e Saúde. Quanto aos países de destino dos emigrantes, o especialista informou que se mantém a tendência dos anos 1960/70 de preferência por países europeus, "principalmente para França, que me parece ser o país para onde se dirige um quinto da nossa emigração, e também para a Suíça, a Alemanha, o Luxemburgo e mais recentemente para o Reino Unido"

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