sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

NO PORTO EM FESTA - COM O DOUTOR SOARES

O animado e apaziguador reencontro no pavilhão das Antas não foi o único a acontecer no Porto. Curioso que a relativa pouca simpatia que o Dr Soares tinha pelo futebol o não levasse a recusar os convites do FCP (e seguramente de outros clubes, que eu não frequento)... Mesmo que considerasse sobrevalorizada a importância nacional e universal deste desporto, reconhecia assim a importância dos clubes como instituições. Até em Lisboa, no casino do Estoril, num aniversário do clube me lembro de ter ficado ao seu lado, nessa época em que por ser Vice-Presidente da Assembleia (não por ser genuinamente portista, como é óbvio) me cabia esse lugar no protocolo. A festa, ao contrário do que é habitual, não teve discursos. Apenas confraternização, um excelente jantar e, depois, um daqueles "shows" de casino, sem graça nenhuma (recordo vagamente uma trama de piratas). Entre cenas, o Dr Soares fechava os olhos, que abria logo que soavam as palmas. Até que do fundo da sala uma voz potente, com o acento do norte, gritou: "Biba o Porto!". Grito terminado por um palavrão de sabor regional. O Dr Soares, que me pareceu tão recetivo ao "show" de piratas das Caraíbas como eu, voltou-se para mim e desabafou: "Finalmente, algo de genuíno!" Quanto ao futebol propriamente dito, contou-me um dirigente do FCP que, uma vez, ao assistir à entrada das equipas, lhe perguntou: "Quantos são de cada lado?" Como não se passou comigo, não garanto que seja verdade. Mas pode ser., mesmo que o Dr Soares tenha jogado à bola em pequenino, porque estas coisas esquecem quando não são prosseguidas... Bem mais inquietante para mim, foi o que se passou numa celebração militar na Avenida dos Aliados, com a fachada da Câmara do Porto como pano de fundo. Era, se bem me lembro, o dia da Força Aérea, estavam presentes o Presidente Soares, o Primeiro Ministro Cavaco Silva e eu, em representação da Assembleia, todos solenemente alinhados no alto da plataforma. Gostava de paradas e de cerimónias militares que o presidente Vitor Crespo evitava sistematicamente (suponho que por não ter feito serviço militar e não se sentir muito à vontade). Era, pois, voluntária! O Professor Crespo convidava sempre para o substituir o 2º Vice - Presidente, que era do PS e oficial de Marinha, até que eu lhe confidenciei que era grande apreciadora de paradas e outras cerimónias militares. Além do mais, uma presença feminina era interessante, por ser, então, coisa raríssima. Aquela sessão não era a primeira, mas foi a primeira em que iam ser atribuídas condecorações. Por um altifalante, que era ouvido em toda a Avenida e nas proximidades, foi chamado o Presidente da República para impor uma insígnia. Lembro-me que avançou com todo o garbo e segurança, fruto de uma larga experiência - notei isso, mas sem atentar em pormenores. Mal ele se sentou, de novo, eis que do altifalante chamam o meu nome para entregar a segunda condecoração. Foi uma surpresa enorme, e um susto, porque eu não sabia como proceder. Tinha só duas hipóteses: perguntar a Soares ou perguntar a Cavaco... Sem hesitação, recorri ao Dr Soares (Cavaco ter-me-ia olhado com ar enfadado, mesmo que me desse resposta). Aliás, o próprio Presidente ficou um pouco perplexo: "Faça como eu fiz!". E eu: "O pior é que não vi como o Senhor Presidente fez!". Prático e rápido, o Dr Soares deu-me o esclarecimento, enquanto me levantava para descer à praça "Coloque a medalha do lado esquerdo, acima do coração". Cumpri o ritual sem qualquer problema... Na cerimónia militar seguinte (salvo erro, o dia das Forças Armadas) em Braga, fui convocada para idêntica tarefa, para a qual já me achava preparada. Engano meu! Saiu-me em sorte um oficial da Marinha, que objetivamente, sem culpa própria, se constituiu em inesperado desafio. A farda não era semelhante à da Força Aérea - ou pelo memos não o era uma tira resistente, que os dois longos ganchos paralelos da medalha não atravessavam com a mesma facilidade. Estava perante dois males: o receio de apunhalar o oficial se enterrasse os ganchos com uma boa dose de força e o de os deixar mal encaixados, levando a que a condecoração tombasse no chão, o que seria um desastre não menos horroroso... Por fim, sempre a perguntar se não o estava a magoar com os dois sinistros ganchos, consegui que o Comandante pudesse ostentar a insígnia no lugar certo, sem cair nem descair. No dia seguinte, uma simpática assessora da Assembleia, veio ter comigo, nos corredores de S Bento, e disse-me: "Com que então foi complicado colocar a condecoração na farda da Marinha?" Assenti: "Sim, foi terrível, o tecido era impenetrável..." Por um momento, assaltou-me a dúvida: teria boa parte do país assistido à cena, nos ecrãs da TV? Tinha de apurar o facto. "Como é que soube?". E ela, a sorrir: "O Comandante é o meu marido". Rimos a duas às gargalhadas!

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